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24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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O consulente quer atenção
Giancarlo Kind Schmid
  Muitas vezes quem nos procura, o faz inicialmente com o objetivo de buscar um conselho ou orientação diante de algum problema vivido. Certamente, a procura por um tarólogo também ocorre pela curiosidade, mas a grande maioria está a viver algum drama e busca o suporte necessário para vencer a situação. Mas, há também aqueles que nos procuram apenas para desabafar.  


Ao longo desses anos de atendimento, passei a notar que a carga emocional dos consulentes diante de alguns problemas era superior à dimensão destes. Ou seja, ao ouvir os relatos e analisar o quadro através do tarô, parecia-me um exagero a forma que o consulente estava a tratar a crise. Entendo que cada um encara de forma particular os desafios, atribuindo-lhes uma importância equivalente à capacidade de contornar as situações, mas por trás da aparente desejo do vencer o quadro, há muita carência e necessidade de proteção, mesmo que psicológica.

O consulente que chega falando, "abrindo o jogo", antes mesmo da  realização da consulta, é tipicamente o retrato do indivíduo carente de atenção. O ato de falar é um desabafo, naturalmente deve ser respeitado, mas limites devem ser impostos para que o trabalho não se perca dentro do tempo estabelecido para a consulta, e o consulente não dirija a leitura a partir de suas exposições e prolongadas explicações, pois o atendimento perde o seu propósito se levado dessa maneira.

É preciso esclarecer, antes do atendimento, que a abertura para perguntas ou observações será feito dentro de um dado momento (na hora certa), a não ser que o tarólogo sinta a necessidade de ouvir primeiro a história do consulente; ainda assim, creio que a introdução do consulente seja breve, sem entrar em muitos detalhes, pois cabe ao tarólogo aprofundar a análise e identificar o problema em sua raiz. Preocupo-me em demasia com bate papos longos antes do atendimento que possam conduzir a leitura de tarô. Quem nos chega, pode apenas estar defendendo seu ponto de vista, contando a sua versão da história, devemos ser perspicazes o suficiente para isentar-nos de opiniões e não realizarmos uma análise tendenciosa que agrade somente o consulente. Necessário nos lembrar que muitas vezes o consulente "mente" apenas para sair como “vítima” da situação.

Quem tem medo de dar um “puxão de orelha” em quem atende, certamente não conseguirá realizar um trabalho proveitoso. As pessoas não nos pagam para ouvir o que querem e sim, o que precisam. Enfeitar a leitura com falas bonitas, enaltecendo apenas as qualidades do consulente e seus feitos, é o mesmo que mantê-lo em estado de inconsciência, totalmente infantil. Ou seja, elogios feitos de forma inapropriada podem reforçar comportamentos equivocados e até o temperamento difícil de alguns. Oferecer saídas para determinadas situações sem participar o consulente dos seus esforços é o mesmo que oferecer segurança em algo que a responsabilidade pessoal deve falar mais alto. É preciso frisar que o problema continua sendo dele (e não nosso), cabe a nós apenas auxiliá-lo em sua superação.

O excesso de carência em ser ouvido torna o consulente alvo fácil de manipuladores. Um tarólogo pode ser considerado bom apenas porque percebeu a vulnerabilidade do outro e decidiu explorá-la, arrancando do consulente informações cruciais para desenvolver a consulta. Todo cuidado é pouco com tarólogos que perguntam mais do que respondem, pois estes certamente não se sentem seguros o suficiente para gerar um atendimento imparcial, apóiam-se no outro para chegar às suas próprias conclusões e fazerem revelações, na maioria das vezes, duvidosas. Surgem, então, os famosos tarólogos “tira dúvidas” que cobram pouco por alguns minutos de atendimento. Ou então, o tipo de profissional que apenas responde com seguidos “sim ou não” (e até talvez) para livrar-se logo do consulente.

O consulente quer atenção, antes de tudo. Acredita que o seu problema sempre é o maior de todos, ou o mais difícil, e ele é a pessoa mais sofrida naquele momento. Está ansioso para ver-se liberado de sua dor e será capaz de dizer qualquer coisa, mesmo o que não queira (e até mesmo fazer, quantos não caem em armadilhas ao pagar centenas de reais só para ter seu amado de volta ou para desfazer algum “trabalho espiritual”?) e muitos não se dão conta dos riscos dessa exposição. Ao procurar alguém que o auxilie, pode cair nas mãos de um estelionatário ou oportunista que “lhe oferecerá o paraíso”, tudo feito em nome do desespero. Ouvir o consulente é imprescindível, mas jamais devemos influenciá-lo com nossas opiniões ou interpretações superficiais do quadro, mesmo que já conheçamos parte do enredo; devemos acalmá-lo, deixá-lo à vontade e nunca dar a impressão que o problema que vive é superior às soluções possíveis, mesmo o mais grave e preocupante deles. Acima de tudo, precisamos saber ouvir imparcialmente para que as orientações cumpram seu objetivo com excelência.
 
10/05/2010 16:45:06

Comentários

Flavio Alberoni - 18/07/2010 01:44:45
Grande texto, Gian! Põe o dedo na ferida e estimula um debate muito bom sobe a cautela no atendimento. Pessoalmente não permito que o consulente fale muita mais coisa além do nome e endereço. Senão a confusão é certa. Não vejo uma diferença significativa na minha interpretação quando ele fala muito ou pouco. Mas, sinto diferença no resultado energético. Uma economia de palavras leva a resultados melhores. Sem dúvida.

Grato

Alberoni

Giancarlo Kind Schmid - 22/07/2010 00:22:43
Olá querido Alberoni,
Sempre é bom te ler por aqui.
Agradeço suas palavras, é sempre estimulante receber a visita de amigos do clã.
Cada profissional no campo da taromancia tem uma performance, isso é correto, procurei dar uma visão geral sobre o assunto. Eu também sinto que não faz diferença, para mim, o quanto o consulente virá a expor seus dramas; sempre conto com a isenção de não me deixar levar pelas primeiras impressões geradas pelo consulente. Como diz aquele ditado: "as aparências enganam", não é mesmo?

Abração!

Maria Elisa Fernandes - 27/07/2010 20:31:47
Concordo com tudo o que você escreveu. É por isso que confio na sua leitura, sem rodeios e fantasias. Parabéns Gian e um abraço.

Giancarlo Kind Schmid - 27/07/2010 21:44:06
Oi Maria Elisa,
Agradeço o apoio e palavras. É muito gratificante quando é o próprio consulente quem traz o testemunho. Abraços!

Flavio Alberoni - 13/08/2010 21:03:34
Um belo texto, com a assinatura do Gian. Fechando o assunto

Parabéns.

Alberoni

Giancarlo Kind Schmid - 15/08/2010 16:25:05
Muito obrigado, querido Alberoni. Agradeço sua gentil visita e elogiosas palavras. Abração!

Izabel - 17/08/2010 10:52:00
Oi Giancarlo, Gostei muito do seu artigo. É tão importante fortalecer essa firme posição interna de não querer agradar o cliente. Muitas vezes já começo a leitura explicando para a pessoa que se trata de uma leitura simbólica e não de vidência ou adivinhação. E quando começam a falar e falar muito antes da tiragem, ouço até um ponto onde convido a pessoa a ouvir a mensagem que o taro vai trazer.
As vezes o emaranhado é tao grande que penso comigo: - Hoje não vou conseguir dar conta do recado. Mas surpreendentemente quando as cartas começam a ser reveladas a situaçao vai se esclarecendo. Incrivel!
Então, mais uma vez percebo a oitava acima das mensagens do taro e a certeza de que não sou eu que estou encontrando essas soluções. E me sinto feliz por ser só uma tradutora de mensagens maravilhosas.
Um abraço com alegria!

Giancarlo Kind Schmid - 17/08/2010 15:19:49
Oi Izabel,
Agradeço sua gentil visita e palavras de incentivo.
Fundamental esclarecer o consulente sobre o tipo de trabalho que realizamos; às vezes, que nos procura, já veio de outro profissional e pode nutrir uma visão paradigmática (engessada) sobre o trabalho.
As leis que operam através das consultas oraculares, desconhecemos ainda. Mas, uma coisa eu tenho certeza: temos nosso grau de participação no processo. Questiono apenas a frase: "então, mais uma vez percebo a oitava acima das mensagens do taro e a certeza de que não sou eu que estou encontrando essas soluções. E me sinto feliz por ser só uma tradutora de mensagens maravilhosas". Penso eu que somos nós quem estamos à frente de trabalho, e nossa experiência e conhecimento tem seu valor, seu peso. Mesmo que a espiritualidade exerça sua influência, entra também aí nosso mérito, pois acredito que a fluidez espiritual ocorra porque temos algum preparo para tal. Mas, ainda assim, temos um aparelho psíquico, nossa intuição, e o conhecimento simbólico. Por isso, penso que nós precisamos estar cientes de nosso papel, pois somos nós quem devemos nos responsabilizar pelo que falamos ou orientamos, para amanhã, se algo der errado, não transferirmos para o "astral" nossos próprios erros.
Ou seja, se o trabalho se trata de uma leitura simbólica (como afirmou), somos nós os responsáveis pela tradução dos símbolos. Qualquer coisa fora disso pode ser caracterizado como adivinhação ou vidência.
Abraços!

Izabel Donalisio - 17/08/2010 15:58:49
Oi Giancarlo,
Obrigada, nossa Senhor! como a gente se confunde mesmo achando que está concordando, se está, na verdade, afirmando todo o contrário rsrsr entendi totalmente meu equivoco. Claro, somos nós os responsáveis pela leitura e isso faz toda a diferença. Mas, talvez rs, o que eu tenha tentado dizer é que o instrumento do taro supera todo o arcabouço de soluções que poderia acessar se dependesse daquilo que conheço ou do que vislumbraria naquela ocasião assim, como diria, "em seco". Mas com certeza todo o conselho vem da minha própria capacidade de conhecer os problemas e de uma série de outros instrumentos como, por exemplo, a meditação ou outros canais para entender nossa própria natureza.
Agradeço muito pela oportunidade de entender melhor o que ando dizendo e alinhar as palavras no melhor sentido.
Um abração

Giancarlo Kind Schmid - 17/08/2010 20:07:42
Oi Izabel,
Sem problemas!Fundamental lembrar que o tarô só pode dar algum recado porque existe um intérprete. É normal transferirmos para as cartas "algum poder", mas elas não são nada sem uma associação de ideias por trás delas. Podemos tornar oráculo qualquer coisa, de sementes a palitos de fósforo; se estabelecermos regras para os recursos utilizados, não importa qual seja, dará a resposta que precisamos. Não existe a dominomancia (adivinhação através do dominó) e a cleromancia (adivinhação através dos dados)? Pois, o tarô é amplo porque é rico em sua simbólica e agrega valores interpretativos de alguns séculos. Mas, tudo sempre volta ao mesmo ponto: o ser humano - criatura criativa que se vale dos recursos que dispõe para compreender o que existe além.
Abraço!

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