| 
   
   
     | Tarô e Interacionismo Simbólico | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
     | O objetivo  deste texto é apenas o de partilhar uma reflexão sobre conceitos da sociologia  em ligação com o tarô. | 
   
   
      | 
   
   
     | Existem  diversos autores que trabalham com o conceito de interacionismo simbólico;  todos têm uma linha em comum, embora as abordagens sejam diferentes. Herbert  Blumer baseia seu ensaio em George Herbert Mead, mas assume completa  responsabilidade pelos conceitos e reflexões propostas no texto, A Posição Metodológica do Interacionismo  Simbólico. | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
     | Os processos interpretativos pessoais | 
   
   
      | 
   
   
     | Em  suma, existem três premissas principais: | 
   
   
      | 
   
   
     | 1. O  ser humano orienta suas ações com base nas coisas que significam pra ele. (Todas  as situações que os indivíduos tem no seu cotidiano: objetos físicos, arvores  cadeiras, outras pessoas, instituições e situações do cotidiano.) | 
   
   
      | 
   
   
     | 2. O  significado dessas coisas derivam ou são consequência da interação social que  cada um mantém com o próximo. | 
   
   
      | 
   
   
     | 3. Os  significados são manipulados e se modificam mediante um processo interpretativo  desenvolvido pela pessoa ao se confrontar com as coisas que vai encontrando em  seu caminho. | 
   
   
      | 
   
   
     | Um exemplo com base nas três premissas  do interacionismo simbólico e nos conceitos e definições do que seria o  interacionismo simbólico, são os baralhos de tarô. | 
   
   
      | 
   
   
     | O tarô é um baralho histórico, com 78  cartas, divididos entre Arcanos Maiores e Arcanos Menores.  Os Arcanos Maiores constituem 22 lâminas, que  são representadas por imagéticas que remetem a instituições, ações sociais, mas  principalmente a indivíduos e características atreladas a eles. Os Arcanos menores  constituem 56 lâminas, que seriam o complemento dos arcanos maiores. Essas 56  cartas, remetem a situações pelas quais os seres humanos passam durante a vida  e suas trajetórias e experiências. Essas cartas, são muito mais detalhadas e  ricas em expressões sociais, que se manifestam desde atribuições à ações de  tristeza ou felicidade, remetendo também à situações cotidianas das quais  indivíduos ou grupos sociais experienciam. | 
   
   
      | 
   
   
     | Um exemplo é o Oito de Ouros (Arcano  Menor) e O Hierofante (Arcano Maior) do baralho de tarô chamado Rider  Waite-Smith (1910). | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
     | O Oito  de Ouros no Rider-Waite-Smith Tarot, 1910 | 
   
   
      | 
   
   
     | No Oito de Ouros, observa-se uma pessoa  sentada, vestindo um avental, um martelo e prego em mãos, sentado em uma  superfície de madeira, enquanto martela e molda um disco de ouros. A pessoa  claramente está em uma posição de trabalho, de trabalho técnico e braçal. | 
   
   
      | 
   
   
     |  Para um cartomante entender esse  significado, é preciso ir muito além de uma subjetividade e um simbolismo  psicológico: é preciso que o cartomante atribua esse significado à carta devido  as experiências que teve com indivíduos que manifestaram esse tipo de  atividade, e consequentemente com a interação  social  que o indivíduo obteve. | 
   
   
      | 
   
   
     | Na hora de uma interpretação, o  tarólogo/cartomante olha para a carta e percebe os significados a ela  atribuídos não apenas porque estão gravados psicologicamente em seu subconsciente,  mas também porque as cartas remetem a situações sociais criadas em suas  experiências institucionais e cotidianas. | 
   
   
      | 
   
   
     |  A manipulação de significados ocorre na  hora, entre cartomante e consulente, dependendo do contexto a qual o consulente  está inserido, porque, assim como a terceira premissa do interacionismo  simbólico, os significados se modificam em um processo interpretativo. Por  exemplo, se um consulente pergunta se vai conseguir um trabalho em breve, e  como resultado do embaralhamento o Oito de Ouros se revela, o cartomante constatará  que o consulente conseguirá o trabalho desejado, por causa do significado  atribuído à carta, devido as interações sociais que tem significado para ele.  Mas se, ao lado do Oito de Ouros, uma carta com conotação negativa se  manifesta, o significado se modifica e é manipulado, porque com base em outras  interações sociais, experiências cotidianas relacionadas aos seres humanos: instituições  e ideais, por exemplo. Dependendo da imagem contida nessa carta segunda carta,  o trabalho ao qual o consulente indaga, provavelmente não acontecerá ou não  terá um resultado tão positivo como esperado. | 
   
   
      | 
   
   
     | "As ações dos demais se incluem na decisão de uma pessoa a respeito do que  planeja fazer: podem se opor ou impedir tal projeto, exigir uma revisão ou  motivar um planejamento muito distinto do inicial. Todo indivíduo há de  conseguir que sua linha de ação encaixe de alguma maneira nas atividades dos  demais." (Blumer, 1969) | 
   
   
      | 
   
   
     | Não raro se encontram situações em que  cartomantes interpretam a conjunção das cartas que, a princípio assumem  características e simbologias de experiências positivas, mas que posteriormente  assumem outras simbologias, que podem ser negativas. Isso acontece porque, no  momento da interação, o (a) consulente menciona que aquela interpretação pode  ser melhor adequada em outro contexto, então o (a) cartomante age modificando  os simbolismos. Por outro lado, o (a) consulente pode exigir essa revisão,  assim como pode agir completamente diferente do que o (a) cartomante sugeriu no  processo interpretativo: de qualquer forma o (a) consulente age conforme a ação  do cartomante. | 
   
   
      | 
   
   
     | Acontece que as conjunções das cartas,  criam uma pequena história. Uma história que só pode ser contada porque cartomante  e consulente, em um jogo de simbolismos e interações, atribuem àquela interação  entre as duas cartas, experiências cotidianas que já foram perpassadas por  eles. | 
   
   
      | 
   
   
     | Vamos ao segundo  exemplo, O Hierofante: | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
     | O Hierofante no Rider-Waite-Smith Tarot, 1910 | 
   
   
      | 
   
   
     | O Hierofante é uma carta dos baralhos de  tarô que ganhou nomenclaturas diferentes dependendo da época. Independente das  nominações, O Hierofante remete à um papa, a um sacerdote ou um padre,  altamente ligado à religião. Nesse baralho em específico, seus traços e  simbologias remetem ao cristianismo. | 
   
   
      | 
   
   
     | Quando um cartomante interpreta essa  carta, seus significados dependem da relação que o cartomante tem com as  instituições e com as instituições religiosas das quais eles já interagiu. Suas  interações sociais, sejam com pessoas ou situações ligadas ou não à um caminho  religioso, vão ajudar a definir o processo interpretativo da carta,  principalmente ao decidir conotações positivas ou negativas. | 
   
   
      | 
   
   
     | A relação Consulente x Cartomante como  um Produto Social | 
   
   
      | 
   
   
     | Os significados das cartas do tarô não  dependem exclusivamente do olhar do (a) cartomante. A consulta ao tarô em si  adquire um simbolismo intenso e modificador na vida do (a) consulente, que ao  sair de uma consulta de tarô, é capaz de modificar todas as suas ações com base  no significado que o tarô atribuiu ao cartomante. Em outras palavras, o (a)  consulente modifica suas ações e acrescenta novos significados às suas visões  de mundo e ações individuais ou coletivas, dependendo do que o (a) cartomante  falou para ele. | 
   
   
      | 
   
   
     | "O significado que uma  coisa tem para uma pessoa é o resultado das distintas formas com que outras  pessoas agem com ela em relação à esta coisa. As ações dos demais produzem o  efeito de definir a coisa para esta pessoa. Em suma, o interacionismo simbólico  considera que o significado é um produto social, uma criação que emana de e  através das atividades definidoras dos indivíduos a medida que estes interagem." (Blumer, 1969) | 
   
   
      | 
   
   
     | Concluindo, existem  diversos exemplos sobre o tarô em conjunto com o interacionismo simbólico. As  ações do cartomante/tarólogo assumem um papel principal e essencial para que o  consulente defina o que aquilo significa para si. A interação social entre cartomante e consulente, cria, manipula e modifica significados, tanto para o (a) cartomante quanto para o (a) consulente. | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      | 
   
   
      |