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03 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


VIII. A Justiça
O arcano do Equilíbrio, da Imparcialidade
 
Compilação de
Constantino K. Riemma
 
A Justiça no Tarot de Marselha-Camoin
Tarô Marselha-Camoin
(1750)
 
Uma mulher, sentada num trono, tem em sua mão direita uma espada desembainhada com a ponta virada para cima, e na esquerda uma balança com os pratos em equilíbrio. A mão que segura a balança encontra-se à altura do coração.
Este personagem, que é visto de frente, está vestido com uma túnica cujo panejamento sugere uma mandorla (figura geométrica em forma de amêndoa; veja arcano 21 – O Mundo), espaço de conciliação das polaridades.
Não se veem os pés da mulher nem a cadeira propriamente dita. Aparece, em compensação, com toda nitidez, o espaldar do trono: as esferas que o arrematam estão talhadas de maneira diferente.
Significados simbólicos
Justiça, equilíbrio, ordem.
Capacidade de julgamento.
Conciliação entre o ideal e o possível. Harmonia. Objetividade, regularidade, método.
Balança, avaliação, atração e repulsão, vida e temor, promessa e ameaça.
Interpretações usuais na cartomancia
Estabilidade, ordem, persistência, normalidade. Lei, disciplina, lógica, coordenação. Flexibilidade, adaptação às necessidades. Opiniões moderadas. Razão, sentido prático. Administração, economia. Obediência.
Soluções boas e justas; equilíbrio, correção, abandono de velhos hábitos.
Mental: Clareza de juízo. Conselhos que permitem avaliar com justeza. Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.
Emocional: Aridez, secura, consideração estrita do que se diz, possibilidade de cortar os vínculos afetivos, divórcio, separação. Este arcano representa um princípio de rigor.
Físico: Processo, reabilitação, prestação de contas. Equilíbrio de saúde, mas com tendência a problemas decorrentes de excessos (obesidade, apoplexia), devido à imobilidade da carta.
Desafios e sombra: Perda. Injustiça. Condenação injusta, processo com castigo. Grande desordem, perigo de ser vítima de vigaristas. Aburguesamento.
A Jutiça no tarô Visconti Sforza
Visconti Sforza (1450)
História e iconografia
Gerechtigkeit. Representação medieval da Justiça
Bamberg (1237)
 
A representação da Justiça como uma mulher com balança e espada (ou livro) data provavelmente de um período remoto da arte romana.
Durante a primeira parte da Idade Média, espada e balança passaram a ser atributos do Arcanjo Miguel, comumente designado por Micael ou São Miguel, que parece ter herdado as funções do Osíris subterrâneo, o pesador de almas.
Mais tarde estes elementos passam para as mãos da impassível dama, da qual há figurações relativamente antigas na arte medieval: um alto-relevo da catedral de Bamberg, datado de 1237, a representa deste modo.
Tudo indica que a iconografia do Arcano VIII seguiu com bastante fidelidade a tradição artística.
A espada e a balança são, para Aristóteles, os elementos representativos da justiça: a primeira porque se refere à sua capacidade distributiva; a segunda, à sua missão equilibradora. Ao contrário das alegorias inspiradas na Têmis grega, a Justiça do Tarô não tem venda sobre os olhos.
É comum relacionar este arcano ao signo zodiacal de Libra. Ele representa, como aquele, nem tanto a justiça exterior ou a legalidade social, mas sim a função interior justiceira que põe em movimento todo um processo psíquico (ou psicossomático) para determinar o castigo do culpado, partindo já da ideia de que “a culpa não é, em si, diferente do castigo”.
Também se atribui à balança uma função distributiva entre bem e mal, e a expressão do princípio de equilíbrio. A espada, por sua vez, representa a sentença, a decisão psíquica, a palavra de Deus.
 
Miguel Arcanjo
Miguel Arcanjo
A Justiça no Tarot de Oswald Wirth
 
Na repartição do Tarô em três setenários, a ordem que Oswald Wirth estabelece é descendente, correspondendo aos arcanos I-VII a esfera ativa do Espírito; aos VIII-XIV, a esfera intermediária, anímica; aos arcanos XVI-XXI, a esfera passiva do Corpo.
O segundo setenário – que se inicia com a Justiça – corresponde à Alma ou ao aspecto psicológico da individualidade.
“O primeiro termo de um setenário – diz Wirth – desempenha necessariamente um papel gerador. Assim, o espírito emana da Causa Primeira (O Prestidigitador), a alma procede do Arcano VIII, e o corpo, do XV (O Diabo)”.
Examinado do ponto de vista dos ternários, a Justiça (8), ocupa o segundo termo do terceiro ternário, sendo precedida pelo Carro (7), que cumpre aí a função geradora, enquanto ela, a Justiça, passa a exercer a função de organizadora.
<-- A Justiça no Tarô de Oswald Wirth
Neste sentido – confirmado por sua localização na ordem dos ternários – Wirth ressalta o caráter esotérico do Arcano VIII: nada pode viver sem cobrir a distância entre a origem e o equilíbrio, já que os seres não existem a não ser em virtude da lei à qual estão submetidos.
É interessante também analisar a correspondência simbólica entre a Justiça (8) e o Imperador (4), já que há uma aliança evidente entre os princípios de Poder e Lei e a busca da harmonia do governo (de um estado, de uma situação, da individualidade). Vale lembrar a esse respeito que, tradicionalmente, cabe ao soberano a aplicação da justiça.
Na mitologia grega, Zeus gera em Têmis (a fraternal divindade justiceira do Olimpo), entre outras filhas, as Horas ou Quatro Estações, e Diké (ou Diqué), a personificação da Justiça. Essa filiação permite relacionar o Arcano VIII à ordem do quaternário, detalhe que já se evidencia a partir de seu número (8 = 2 x 4).
Diké, a deusa grega da Justiça -->
 
Têmis, a deusa grega da Justiça
  Fontes:
Alberto Cousté, O Tarô ou a máquina de imaginar. Rio, Ed. Labor, 1977.
  Fonte básica para a descrição inicial dos 22 arcanos maiores e para o ítem História e Iconografia.
Anônimo (Valentin Tomberg), Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô. São Paulo, Ed. Paulinas
  O subtítulo da tradução espanhola (Herder, 1987) foi copiado nesta compilação.
Paul Marteau, O Tarô de Marselha.São Paulo, Ed. Objetiva, 1991.
  Essa obra serviu de base para o ítem Interpretações usuais na cartomancia.
Para fontes secundárias nesta compilação veja: Bibliografia
Contato:
Constantino K. Riemma - ckr@clubedotaro.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Outros estudos sobre a Justiça
  As virtudes Justiça e Temperança no Tarô. Giancarlo Kind Schmid recorre ao conhecemento das virtudes tradicionais para esclarecer os arcanos : Confusões conceituais  
  Justiça - Arcano 8. Transcrição do capitulo do livro Tarô, Vida e Destino, de Nei Naiff, publicado em 2013 com estudos das 78 cartas do baralho: Justiça pessoal, social e divina  
  A Justiça, Lei ou Karma. Roseli Melo faz a sua recapitulação dos atributos da Justiça que se aplicam ao arcano do Tarô: Garante os direitos, mas também cobra os deveres  
  Justiça: há uma balança aí? Cristina Guedes apresenta os símbolos da balança, suas referências mitológicas e seus significados para o arcano VIII: Símbolos e poemas  
  Rider-Waite e o motivo da troca numérica dos arcanos Justiça e Força. Luna Solis discute as relações entre as duas cartas e sua troca de posição em alguns tarôs: 8 versus 11
 
  Os Arcanos Maiores na Tradição Cigana. Transcrição do curso que Sarani Barrios ministrou no segundo semestre de 2008, em que revela a singular integração dos arcanos maiores aos diferentes ciclos de vida e às particularidades de cada idade: Os Arcanos Maiores  
  O mês da Justiça. Significados que Valéria Fernandes destaca quando o Arcano VIII é selecionado para orientar um mês de vida: Firmeza e flexibilidade
 
  Curso de Tarô com Betoh Simonsen. Texto integral do livro que Betô preparou para a apresentação do jogo completo das cartas: A Justiça  
A Justiça : Crônicas & Artes
  Na seção de Artes e Poemas encontram-se versos inspirados no arcano : A Justiça  
Atualizado: outubro.2019
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