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10 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


II. A Papisa (ou A Sacerdotisa)
O Arcano da Sabedoria, da Gnose, do Princípio Receptivo
 
Compilação de
Constantino K. Riemma
 
 
 
II. La Papesse, A Papisa, no Tarot de Marselha-Camoin
II. A Papisa
Tarô de Marselha (1750)
 
Uma mulher sentada, com um livro aberto sobre a saia e uma coroa tripla na cabeça, olha para a esquerda e veste uma túnica vermelha sobre a qual se desdobra um manto azul (em algumas versões as cores são opostas). Duas partes da sua tiara estão ornadas de florões, mas a parte superior é uma simples abóbada.
Um véu, que lhe cai sobre os ombros, cobre totalmente os seus cabelos; na mesma altura desse véu, por trás, aparece uma cortina cujos pontos de fixação não são visíveis. Tampouco se podem ver os pés da mulher, assim como a base do trono.
Fato curioso, que é reencontrado somente no arcano XXI, é que a figura ultrapassa a margem superior do quadro: o extremo da tiara supera a linha negra, um pouco à direita do número II.
Significados simbólicos
A Sabedoria, a Gnose, a Casa de Deus e do homem, o santuário, a lei, a Cabala, a igreja oculta, a reflexão.
Fala também do binário, do princípio feminino, receptivo, materno.
Mistério. Intuição. Piedade. Paciência, influência saturnina passiva.
        Interpretações usuais na cartomancia
Reserva, discrição, silêncio, meditação, fé, confiança atenta. Paciência, sentimento religioso, resignação. Favorável às coisas ocultas.
Mental: Grande riqueza de ideias. Responde a problemas concretos melhor do que a questões vagas.
Emocional: É amistosa, recebe bem. Mas não é afetuosa.
Físico: Situação garantida, poder sobre os acontecimentos, revelação de coisas ocultas, segurança de triunfo sobre o mal. Boa saúde, mas com um ritmo físico lento.
Desafios e sombra: Dissimulação, hipocrisia, intenções secretas. Mesquinharia, inação, preguiça. Beatice. Rancor, disposição hostil ou indiferença. Misticismo absorvente, fanático. Peso, passividade, carga. As intuições que traz invertem seu sentido e se tornam falsas. Atraso, lentidão nas realizações.
História e iconografia
A tradução exata do nome que o Tarô de Marselha dá a este arcano (La Papesse) é A Papisa. Outras versões, como A Sacerdotisa ou A Alta Sacerdotisa, vêm do nome que lhe é atribuído modernamente em inglês (The High Priestess).
Muitos autores acreditam que a figura da Papisa faça alusão a um fato histórico, ou melhor, lendário, que ocupa um lugar notável na literatura da Idade Média: a pretensa existência de um Papa do sexo feminino. A tradição popular diz que uma mulher ocupou a cadeira de São Pedro sob o nome de João VIII.
Embelezada com o correr do tempo, uma de suas versões combina com o simbolismo maternal que se atribui à estampa: segundo tal versão, a papisa teria ficado grávida de um dos seus familiares e, como não se recolheu na época devida, o parto teria se dado em plena rua, durante uma procissão entre a igreja de São Clemente e o palácio de Latrão.
Com a dramática descoberta do embuste, o enfurecido séquito papal teria assassinado Joana e seu filho. Segundo tradições romanas, no lugar do homicídio, permaneceu durante séculos um túmulo ornado por seis letras P, que poderiam ser lidas de diferentes maneiras (jogando com a inicial comum de Papa, Pedro, pai e parto).
A Papisa no Tarot de Catelin Geoffroy
II. Papisa
Tarô de Catelin Geoffroy
Lion (França), 1557
 
 
II. La Papesse, A Papisa, no Tarot de Oswald Wirth
Tarô de Oswald Wirth
Publicado em 1927
 
Ainda com relação a essa lenda, deve-se assinalar um fato notável: na célebre Bíblia ilustrada alemã do ano de 1533, a grande prostituta do Apocalipse está representada com uma tiara na cabeça, A tradição afirma que foi desenhada deste modo por desejo expresso e sugestão de Martinho Lutero.
De qualquer modo, para o estudo tradicional e iconográfico do Tarô, é importante distinguir claramente entre o sentido simbólico e o registro de fatos históricos.
Também podemos entender que a carta de número 2, passiva, feminina, yin, está revestida na simbologia do tarô da mesma dignidade receptiva do pontífice, o Papa, carta de número 5.
Enquanto o Mágico não poderia permanecer em repouso (numa unidade andrógina onde tudo é impulso e estímulo), a Sacerdotisa é o próprio repouso: sentada, majestosa, receptiva, seu reino é binário, uma etapa na distinção da polaridade do universo. Se o binário equivale a conflito, no sentido de rompimento da unidade, de abandono do caos essencial onde não existem as magnitudes nem os nomes, é também a primeira etapa dolorosa e imprescindível das vias iniciáticas, o começo da busca da identidade.
A Sacerdotisa representa a submissão majestosa às exigências dessa iniciação, o equilíbrio que a repartição elementar de forças produz no conflito.
O que o Arcano I era para a encarnação das energias espirituais o Arcano II o é quanto à aceitação dessa metamorfose: o reconhecimento prévio da luta entre os princípios negro-branco, noite-dia, yin-yang.
Alguns autores veem na Sacerdotisa a representação de Ísis, com todas as suas conotações noturnas e ocultas. Também a associam a Cassiopeia, a rainha negra da Etiópia e mãe da constelação Andrômeda, e a Belkis, a belíssima rainha de Sabá, para quem Salomão teria composto o Cântico dos Cânticos. Essa relação da Sacerdotisa com deusas e rainhas negras (ou escuras) não parece casual e acentua a contrapartida com a carta a seguir: o simbolismo branco, luminoso e diurno do Arcano III (A Imperatriz), com quem a Sacerdotisa forma a dupla oposta e complementar da feminilidade.
Este símbolo subterrâneo, que se refere ao aspecto esotérico da revelação, teria passado para o cristianismo sob a forma das virgens negras, cujo ritual se realiza com frequência numa cripta ou num lugar inacessível.
Mãe, esposa celeste, senhora do saber esotérico, a Papisa ou Sacerdotisa ocupa na estrutura do Tarô o lugar da porta, da passagem entre o exterior e o interior, do ponto imóvel e comum entre a casa e a rua.
 
Ísis, a Deusa-Mães no anatigo Egito
Isis, deusa do amor
e da magia, que se tornou
a deusa-mãe do Egito
 
  Fontes:
Alberto Cousté, O Tarô ou a máquina de imaginar. Rio, Ed. Labor, 1977.
  Fonte básica para a descrição inicial dos 22 arcanos maiores e para o ítem História e Iconografia.
Anônimo (Valentin Tomberg), Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô. São Paulo, Ed. Paulinas
  O subtítulo da tradução espanhola (Herder, 1987) foi copiado nesta compilação.
Paul Marteau, O Tarô de Marselha.São Paulo, Ed. Objetiva, 1991.
  Essa obra serviu de base para o ítem Interpretações usuais na cartomancia.
Para fontes secundárias nesta compilação veja: Bibliografia
 
Contato:
Constantino K. Riemma - ckr@clubedotaro.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Outros estudos sobre a Papisa
  A Papisa: Suma Sacerdotisa do Tarô. Capítulo do livro de Sallie Nichols Jung e o Tarô - Uma jornada arquetípica : Transcrição integral do capítulo cinco  
  A Papisa e seu mapa astrológico. Artigo de Titi Vidal na série de estudos sobre as relações simbólicas entre as cartas do tarô e os signos astrológicos : A Papisa  
  A Papisa acorrentada. Victor Souza interpreta o arcano II como representação de um caminho com três vibrações originais : Decadência, neutra e ascensão  
  Mapa Estático dos Arcanos Maiores Tarot. Estudos de Mauro Franco estabelecendo correlações do conjunto dos arcanos com diferentes fontes simbólicas : O binário Sacerdotisa-Torre  
  A Sacerdotisa do Tarot. Cláudia Hauy faz uma recapitulação histórica dessa carta, compara com o Mago e sintetiza seus significados simbólicos : Guia dos caminhos misteriosos e desconhecidos  
  A pose da Papisa ou como vive a Suma Sacerdotisa em nós? Cristina Guedes, jornalista e taróloga, faz um relato inspirado na misteriosa figura feminina do tarô : Toques e poemas  
  A tríade existencial: o Louco, a Papisa e a Temperança. Glória Marinho relata o nexo que encontra entre os três arcanos : A simbologia do três na vida e nas cartas  
  Perséfone, Papisa e o signo de Virgem. A astróloga e taróloga Titi Vidal conta o que a deusa grega nos ensina e sugere relações com o arcano II do tarô e os virginianos : Senhora dos mistérios  
  A Sacerdotisa Cabalistica de Arthur Edward Waite: uma interpretação iconográfica. O tarólogo Emanuel José dos Santos tece correlações entre o Arcano II e os símbolos da Árvore da Vida da tradição cabalista : O caminho 13  
  O mês da Sacerdotisa. Significados que Valéria Fernandes destaca quando o Arcano II é selecionado para orientar um mês de vida : A voz interior
 
  Uma experiência. Relato de Flávio Alberoni de uma tiragem com o arcano 2: Papisa.  
  Os Arcanos Maiores na Tradição Cigana. Transcrição do curso que Sarani Barrios ministrou no segundo semestre de 2008, em que revela a singular integração dos arcanos maiores aos diferentes ciclos de vida e às particularidades de cada idade : Os Arcanos Maiores
 
  Curso de Tarô com Betoh Simonsen. Texto do livro que Betoh preparou para a apresentação do jogo completo das cartas : A Alta Sacerdotisa  
  Saturno, os planetas transaturninos e o Tarot. Betôh Simonsen apresenta os significados dos quatro planetas mais lentos e suas correlações com alguns arcanos : Planetas e arcanos maiores - Papisa, Eremita, Morte, Torre...  
A Papisa: Crônicas & Artes
  A Sacerdotisa - Mãe Lua. Denise Fernandes Marsiglia traduz o arcano como inspiração de vida e de ser mãe : Intuição de toda emoção.  
  A Papisa no cinema. Denise Fernandes Marsiglia indica os filmes em que reconhece relações com o arcano A Papisa : "A Poesia" e "Samsara".  
  Crianças. Crônica de Denise Fernandes Marsiglia envolvendo : O Mago, a Papisa, a Força e o Louco.  
  O Livro. Crônica de Denise Fernandes Marsiglia no colo da Papisa : Eu quero o meu livro...  
  Na seção de Artes e Poemas encontram-se versos inspirados no arcano : Poemas sobre a Papisa  
Atualizado: setembro.20
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