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03 de dezembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Os Reis do Tarot. Pais e líderes.
Jaime E. Cannes
Os Reis do tarot, também chamados de Príncipes, Xamãs, Pais e Homens nos baralhos mais modernos, são a personificação do masculino interior e do arquétipo do pai dentro de cada um de nós! O masculino interior é a parte da consciência que vê o mundo sob uma perspectiva objetiva, clara, racional e organizada. Na perspectiva deles a existência é um caos a ser compreendido, explicado e organizado! O que torna sua expressão afetiva um tanto contida, ou “seca”, e sua atuação um tanto quanto tensa, quando não direta, em assuntos íntimos.
Os Reis do tarot incorporam a qualidade da liderança, uma qualidade muito desenvolvida nos homens ou na parte masculina da psique feminina, que C. G. Jung denominou de Animus. Na ancestralidade da raça humana os primeiros grupos de pessoas eram nômades que se estabeleciam por um tempo dentro de uma determinada região. As mulheres cuidavam da terra e da prole, e os homens exploravam o terreno, seguiam as manadas, e caçavam. Assim aprendemos muito sobre as funções alimentares e medicinais das plantas observando o que o rebanho comia, e o que evitava comer.
Rei de Ouros no Tarô de Marselha e Rei de Espadas no tarot Della Rocca
Os Reis do baralho clássico: o Rei de Ouros no tarot de Marselha (1750)
e o Rei de Espadas no Della Rocca (1835).
Nesse período de nossa história o líder tribal acumulava as funções de chefe, guerreiro e xamã. Como líder guiava os caçadores, e dividia estrategicamente o grupo e as funções de cada um para o ataque. Como guerreiro enfrentava feras muitas vezes mais poderosas que ele para sobreviver, e como xamã saudava o grande espírito da manada e da floresta pedindo proteção antes da caçada, e aplicava medicamentos aos feridos e doentes em combate. Mais adiante essas funções foram naturalmente divididas, tamanha a profundidade e complexidade de suas atribuições.
Muitos dos deuses e heróis ancestrais representam tais qualidades e eram representados em todas as culturas do passado. Líderes e pais criadores como Zeus na Grécia, Tupã para o povo Tupi-Guarani da América do Sul, e Olorun para a cultura Iorubana. Guerreiros e caçadores como Marte para os romanos, Órion para os gregos, Ogum, Xangô e Oxóssi para os africanos, e Thor e Tyr para os nórdicos. E feiticeiros e clarividentes, como os gregos Apolo, Asclépio, Quíron e Orfeu. Thoth egípcio, e Oxumaré e Ossãe africanos.
Psicologicamente o pai representa o líder secular na família, não dentro de um conceito machista de dominação patriarcal autoritária, mas como uma figura que aponta para as necessidades práticas do grupo, pois sua visão tende a ser mais objetiva nesse sentido. Assim como as mães são, ou deveriam ser, as lideranças emotivas e nutridoras da família. Em muitas novelas do passado o pai aparecia quase como um vilão por querer tirar o filho debaixo da asa da mãe e “jogá-lo” no mundo! Isso somado ao temor que as teorias psicanalíticas incutiram na sociedade de criar crianças traumatizadas, fez com que a função do homem fosse sendo minimizada até quase a exclusão total.
 O que vemos hoje é uma geração parasitária, geralmente mantida em lares sem uma figura masculina atuante, que não tem noção de limites, e nem senso de realidade. Muitos desses jovens formam uma nova onda social de pessoas que não querem nem estudar e nem trabalhar! Ou seja, desconectados do sentido prático de existir. A transformação da sociedade foi mais do que necessária, a dominação masculina aconteceu por uma exigência tribal de definir clãs e territórios, e como era preciso se ter certeza de que a prole que herdaria os bens do clã e da tribo era mesmo de seu líder patriarcal, a mulher teve de ser subjugada e tida como propriedade masculina. Assim definia-se e defendia-se o patrimônio daquele pai ou líder. A própria palavra patrimônio deriva do pai. Com certeza as mulheres não podiam mais continuar nessa posição, e uma reforma era mais do que necessária por um lado; por outro lado houve uma demonização das qualidades masculinas, como se nada que tivesse origem nas funções ancestrais do masculino pudesse ser positivo. O resultado disso nos tempos atuais são homens adoecidos que se dividem entre uma passividade extrema, e alguns até se excitam com a inversão de papéis sexuais, enquanto outros descambam para uma profunda violência contra as mulheres e entre si mesmos que parece ter origem num ressentimento sem fim. O ressentimento de sua castração social e psicológica.
O pai chegou a ser tratado como uma figura dispensável nos anos 80 do século XX com a adoção da ideia de “produção independente” das mulheres, como mais um degrau na sua emancipação. O modelo paterno será o molde do masculino interior para os meninos e o modelo de parceiro para as meninas. Modelos esses que serão reproduzidos e acatados, ou rechaçados conforme cada indivíduo. A importância de sua presença, entretanto, é inquestionável!
O Imperador, o irmão mais velho de todos os Reis.
O Imperador, pai ou irmão mais velho de todos os Reis dos arcanos menores.
É urgente resgatar o papel masculino do sagrado ancestral.
À esquerda, The Emperor, do Thoth tarot, de Aleister Crowley e Frieda Harris.
A imagem à direita é de autor desconhecido.
Os Reis do tarot reproduzem os atributos do arcano maior de O Imperador, dos quais são os descendentes, como filhos ou irmãos mais jovens. Como ele são práticos, realistas, firmes, disciplinados e conscientes de sua função dentro do grupo familiar, ou de um grupo de trabalho ou desenvolvimento em qualquer âmbito. Ao extrapolarem suas funções podem virar tiranos controladores ou tipos bem distantes e indiferentes afetivamente. O masculino tem similaridades com os elementos secos (ar e fogo), sendo que o primeiro incita, direciona e estimula o segundo. Por isso reis são o ar e os cavaleiros o fogo no tarot. A alteração feita por Crowley de colocar os Cavaleiros na posição de Reis e rebaixar os Reis à posição de Príncipes se deve à relação feita por ele, e outros membros da Golden Dawn, entre as quatro figuras da corte e as quatro letras do nome sagrado de Deus, o Tetragrammaton. Com isso mudaram também sua correspondência Elemental.
Na época acreditava-se que o tarot tinha sua origem na Cabala, e portanto, achavam legítimo alterarem certos aspectos do seu simbolismo em função da ordem cabalística. Assim Crowley alterou a ordem da corte em seu Thoth tarot e Waite trocou a posição de A Justiça e de A Força na sequência dos arcanos maiores em seu Rider-Waite. Hoje sabemos que tais alterações não se justificam e a relação tarot/cabala é mais por analogia simbólica do que por ligação ancestral de fato. Assim cada Rei será o ar de cada naipe, também por este elemento reger o uso da razão, da lógica e do pensamento científico, e influenciará o elemento correspondente a cada naipe. Rei de Paus, ar do fogo (pensamento expansivo). Rei de Copas, ar da água (pensamento profundo). Rei de Espadas, ar do ar (pensamento elevado ou abstrato). E o Rei de Ouros, ar da terra (pensamento organizado).
Vamos agora aos seus significados simbólicos:
Rei de Paus
Ar do fogo, a onda de calor que se desprende de uma grande explosão. Disposição para conquistar. Liderança. Representa bem o líder sindical ou comunitário, o promotor de justiça, um advogado com ideais. Um administrador intuitivo, ou um empreendedor com uma visão singular de como “mover” as coisas. Um líder incentivador, aquele que ergue a multidão e a incentiva a fazer algo. Cativante, envolvente, sedutor, caloroso ou inspirador. É o defensor do mais fraco, mas prefere ensinar a pescar a dar o peixe. Proteção e expansão. Provedor, executor, realiza o que pensa, mas não planeja muito. Tem o poder de ser e fazer o que quiser pela simples mas intensa confiança em si mesmo. É forte, másculo e empreendedor. Sabe se tornar o centro dos acontecimentos e das atenções. Representa uma saída vigorosa para a luz da vida. Homem fogoso, forte, viril. Justo, ou justiceiro se estiver aspectado negativamente. Como pode também ser um tipo com dificuldade de empatia com as personalidades mais frágeis.
Rei de Paus e Rei de Copas
O Rei de Varas (cetro, paus) do Morgan-Greer Tarot.     O Rei da Água (copas) do Osho Zen tarot.
Rei de Copas
O ar da água. O vento que levanta as ondas, agita as profundezas e traz à tona o que o mar engoliu. O terapeuta, xamã, curador, amigo ou conselheiro. É um ouvinte sensível e um orientador lúcido. Ele vê as emoções humanas com profundidade e precisão, mas com distanciamento. Uma pessoa confiável com uma profunda visão de mundo e da própria vida. Seu não envolvimento o faz perceber com clareza os aspectos frágeis da psique humana. O arcano sugere o resgate de alguma parte suprimida do ser e suscita uma cura interior. É o reconhecimento das partes doentes da alma e a necessidade de curá-las com compaixão. Negativamente este arcano esconde atrás de sua postura distante e controlada de não envolvimento o temor de ser ferido ou magoado de algum modo ao se abrir, e oculta suas próprias emoções. O temor à intimidade é sua maior deficiência a ser superada.
Rei de Espadas
Ar do ar. As poderosas e geladas correntes de ar das grandes altitudes. O líder autoritário. Forte, frio e controlador. Sabe sempre o que fazer em cada situação. Representa bem o juiz, o médico cirurgião, um Mestre acadêmico, o militar de alta patente. Não acessa seus instintos, nem seus sentimentos e fragilidade. Cria esquemas para controlar uma situação e exercer o poder. Lógica, raciocínio. Um planejador metódico e sistemático. Um administrador inteligente e estratégico, possui uma mente clara e organizada que o faz se tornar uma autoridade nas atividades as quais se dedica. Negativamente é um controlador compulsivo, tudo tem de ser “previsto”. Um manipulador. Por não responder, ou acessar, aos seus instintos básicos perde a espontaneidade e torna-se frio. Desprovido de calor humano não tem interesse em aprofundar vínculos de relacionamento amoroso, tornando-se assim um melhor companheiro casual, ou um amigo distante.
Rei de Espadas e Rei de Ouros
Ulisses, o Rei de Espadas do tarot Mitológico.     O Pai da Terra (Rei de Ouros) do Tarot of The Spirit.
Rei de Ouros
O ar da terra. O vento que poliniza a plantação e espalha a riqueza da terra. O engenheiro da terra, o empreendedor. Representa o engenheiro, o agrônomo, o economista, o corretor imobiliário e o contador. Aquele que conhece os mistérios do mundo material e sabe manejá-los para o seu progresso e o progresso de todos que desfrutam de sua proteção. O mantenedor, o líder empreendedor. Ele é a expressão da abundância, e entende que isso não representa somente acúmulo de dinheiro, e sim viver a vida plenamente em todas as suas manifestações, no corpo e na alma. Quer ver a riqueza da vida distribuída entre todos e para todos. O ser e a consciência holística. Negativamente pode perverter isso tudo e se tornar um materialista que só se preocupa em juntar dinheiro e ganhar cada vez mais e mais. Um provedor que manipula e ou oprime os que dele dependem. Ou um tipo cínico que vê a vida como um grande negócio, onde ninguém dá nada sem um benefício imediato, real e palpável.
Jaime E. Cannes, professor e consultor de tarô desde 1988, 
é astrólogo, numerólogo, mestre e terapeuta Reiki.
www.jaimeecannes.com e www.tarotzenreiki.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 18/03/2019
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
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