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26 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


O Carro ou a Carruagem - vitória garantida
Giancarlo Kind Schmid
 
O arcano número 7 do tarô carrega alguns títulos que o caracterizam como "O Carro", "A Biga", "A Carruagem", "A Carruagem de Osíris", "A Carruagem (ou Carro) do Triunfo". Na imagem clássica temos um homem vestido com peitoral ornado, portando dragonas (como sinal de mérito e superioridade), com a coroa da vitória, sob um dossel, desfilando numa biga (com o brasão real) puxada por dois cavalos. Empunha o cetro do poder e, numa postura altiva, vangloria-se de seus feitos enquanto é, muito provavelmente, aclamado pelo público.
A imagem é clara: trata-se de um triunfo militar (triumphus), como aquele em que um general romano recebia seu reconhecimento público, em desfile ou procissão solene, trazendo muitas vezes consigo os símbolos de suas maiores conquistas (líderes inimigos escravizados, tesouros pilhados, animais, etc.). O Triunfo, como era chamado o evento, era a mais alta expressão da glória de um militar nos tempos do império romano. Era sinônimo de legitimidade do poder estabelecido e de agraciamento. É a glória e a vitória em honra a Júpiter. Muitos sacrifícios de animais aconteciam como agradecimento e festividade.
O Triunfo no Tarô de Marselha    O Carro do Triunfo - Marco Aurélio
O Carro no Tarô de Marselha e Marco Aurélio em seu desfile triunfal
após vencer as tribos germânicas (cópia de baixo-relevo do séc. II)
Em sua iconografia, o arcano proclama o ato da vitória. Ou seja, a vitória é um fato, não é uma promessa. Deste modo, na leitura tradicional divinatória, o arcano 7 sempre acusará uma vitória, não importa como ou porquê. Não há espaço para dúvidas ou incertezas. Se essas existem, talvez se dê por erro de interpretação das imagens clássicas do baralho, como por exemplo, da imagem arcana do Marselha: os pesquisadores mais desavisados sempre afirmaram que a biga estava à deriva, pois o personagem não tem as rédeas dos cavalos nas mãos; se isso não fosse o suficiente, ainda há o mito dos cavalos que seguem direções opostas (e possui "cores diferentes"). Tudo não passa de problemas de perspectivas oriundos do estilo clássico xilográfico (entalhe em madeira, feito ao contrário, como um 'negativo'), além da total falta de cuidado na colorização das lâminas. A única coisa que alguns insistem ainda em discutir é a falta de rédeas. Ora, é um biga de desfile, puxada por cavalos reais, treinados, presos ao transporte!
Esclarecida essa dúvida, voltemos para o significado da lâmina. Quando alguns tarólogos observam o lado "negativo" desse arcano, costumam afirmar como um descontrole ou fracasso, como se a biga estivesse pronta para cair num abismo! Esse equívoco acontece por total desconhecimento sobre a origem simbólica e histórica da carta. O lado negativo do arcano jamais será fracasso, pois a vitória está garantida, nada mais há de se perder. No entanto, tratando-se de uma vitória, devemos questionar o "preço" pago por ela. Quem conhece a história de Pirro, exímio e aclamado general grego que teve perdas irreparáveis ao vencer os romanos em Heracleia (280 a.C.) e Asculo (279 a.C.), cujo episódio foi narrado por Plutarco, que apresenta um relato feito por Dioniso de Halicarnasso:
 
"Os exércitos se separaram; e, diz-se, Pirro teria respondido a um indivíduo que lhe demonstrou alegria pela vitória que "uma outra vitória como esta o arruinaria completamente". Pois ele havia perdido uma parte enorme das forças que trouxera consigo, e quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes; não havia outros homens para formar novos recrutas, e encontrou seus aliados na Itália recuando. Por outro lado, como que numa fonte constantemente fluindo para fora da cidade, o acampamento romano era preenchido rápida e abundantemente por novos recrutas, todos sem deixar sua coragem ser abatida pela perda que sofreram, mas sim extraindo de sua própria ira nova força e resolução para seguir adiante com a guerra."
Pirro, o herói marciano     Triunfo da Paz - 1649
Pirro (318—272 a.C.) guerreiro, rei do Épiro e da Macedónia; Alegoria do Triunfo de Amigos (1649)
Dá-se o nome de "vitória de Pirro" aquela em que o conquistador teve muitos prejuízos. Talvez esse seja o aspecto realmente negativo do arcano: uma vitória obtida por um preço alto demais. Insistentemente alguns tarólogos costumam justificar que, em suas leituras o arcano 7 já denunciou fracassos num contexto (absorvido por outros arcanos em seu significado, ou invertido em suas atribuições e significados). Porém, essa é muito mais uma convenção cunhada pelo consulente do que a realidade simbólica do arcano em si. Jamais o arcano 7 sinalizará perdas, a não ser pelo fato de se conquistar algo em troca de outro bem precioso. Posso citar aqui um exemplo: um homem que consegue um emprego onde poderá ganhar bem em troca da falta de tempo com a família ou sacrifício da relação, por precisar viajar ou ficar longe. Esse é um bom exemplo de "vitória de Pirro".
Nada justifica fracassos no arcano 7. Ele é o símbolo do triunfo, embora saibamos que, ao longo da história, certas conquistas ou vitórias podem ter caído como uma maldição sobre seus heróis.
 
Fontes para pesquisa:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/viewFile/1361/960
http://pt.wikipedia.org/wiki/Triunfo_romano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pirro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_p%C3%ADrrica
 
Contato com o autor:
Giancarlo Kind Schmid: www.taroterapia.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 20/02/2015
  Baralho Cigano
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