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19 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


O Diabo: Paixão, Amor
Denise Fernandes Marsiglia
 
Gosto de quando aparece a carta do Diabo num jogo: traz o significado de paixão, também atribuído ao diabo. O arcano quinze traz o nome de Paixão no Tarô Egípcio. Aí por amor ao símbolo e à complexidade me meto numa situação difícil. Inúmeras vezes recebo as perguntas: Qual a diferença entre paixão e amor? Como a gente faz para transformar paixão em amor? Percebem como é difícil ser uma cartomante ou taróloga? Ser cartomante ou taróloga é muito difícil, por isso é interessante.
Paixão, o arcano 15 no Tarot Egipcio
O Diabo no Tarot Egícpio Kier
 
Tem horas que repito as mesmas frases, mas o efeito sobre a pessoa nunca é o mesmo, as perguntas diferentes, os exemplos diversos. Muitas vezes uso exemplos meus para não falar da vida dos outros. Inúmeras vezes escuto as pessoas sobre seus sentimentos de paixão, amor.
Quase sempre digo: o amor liberta, a paixão prende. Não devia falar essa simples frase se quisesse sossego. Muitas vezes ela revolta os apaixonados que estão presos ou querem prender. Não, não se quer a paz e o respeito da libertação. Melhor aprisionar e são tantas formas de algemas; a sociedade de consumo ajuda a criar prisões e, talvez, ajuda também a gostar dessas prisões, ter prazer com elas. Não é à toa que o Diabo, arcano 15, é também acomodação, acomodação na dificuldade.
A paixão pode virar amor, se você optar por amor e não pela paixão. Nesse caso, a opção é essencial. O Diabo não vem na sua vida para te salvar, mas para que você se salve dele, salvando a si mesmo e ao amor. A paixão vira amor quando desiste de ser paixão e se torna devoção, amor na sua forma mais simples. É quando o apaixonado percebe que pode dar mais amor e mais de si do que está dando, quando surge dentro dele a sombra nova do amor.
Tanto o amor como a paixão são quentes. O amor aquece, a paixão nos faz arder. A paixão e o amor nos cegam, mas o amor nos cega pela luz, a paixão pelas trevas.
Quando a paixão acaba, dá um alívio. Mesmo que a gente esteja sofrendo, se sente mais leve sem a paixão, mais livre, com mais esperança, vendo novos horizontes. Depois que passa, é difícil entender como se ficou apaixonado.
Segundo Igor Caruso, no livro A separação dos amantes: "Uma relação amorosa subitamente interrompida cria uma situação catastrófica para a economia instintiva." Quando o amor acaba, a gente tem a sensação de perder o chão debaixo dos seus pés. Você sente tanta dor que parece que vai morrer, mas você não morre, porque morrer não tem a ver com perder o amor, perder o amor é bem pior que morrer.
A paixão quando nasce traz um monte de desejos novos e preocupações. O amor quando nasce nos traz tudo. O amor é a luz que cega o Diabo e nos ilumina. Todo jogo de tarô que tem o Diabo traz essa possibilidade de vitória sobre o nefasto, problemático. O Diabo questiona nossa existência, entende como nos debatemos diante do amor ou dos nossos simples desejos. O Diabo sabe que estamos muito mais atrasados nas lições do amor do que demonstramos. O Diabo nos vigia tanto quanto nosso anjo da guarda e sem amor, só paixão, ri de quando diante do espelho finalmente revelamos nossos sentimentos sem sentirmos a menor piedade de nós mesmos. O Diabo se esconde até irritar os apaixonados, torturá-los com pensamentos terríveis. E depois quando os amantes se encontram, o Diabo murmura que esse encontro não dura. Os amantes escutam e se agitam.
O Diabo não entende o amor, não o alcança, a paixão não tem paciência e o amor tem toda a paciência do mundo. A paixão é aquele retrato em branco e preto que o Tom Jobim canta. O amor está em tantas músicas, mesmo doendo, incomodando, o amor inspira.
Depois que morre para a pessoa, o amor vira uma ferida enorme, que parece quase engolir a pessoa, mas depois se transforma numa marca, uma sombra a mais que a pessoa carrega, uma força a mais.
 
Devil por Elric
O Diabo e suas amarras
www.elric2012.deviantart.com/art/The-Devil-Card
Tem horas que me dá dó do Diabo, vivendo assim, nessa penúria de amor. Mas a dó dele passa logo, tenho mais é dó de mim. Depois de falar e falar, cansar de tanto falar, mais uma apaixonada me pergunta: Você pode dar detalhes das diferenças entre amor e paixão? Digo a ela que para isso eu precisaria lhe contar a história da minha vida e ela continua me olhando, esperando. Aí eu conto alguma coisa que vivi e digo que é só um exemplo e que chega. O diabo foge das minhas lembranças muito sutis. Ela diz que não tem certeza de ter entendido qual a diferença exata entre amor e paixão, e que corre o risco de errar assim. Digo que também corro o risco de errar, nesse caminho a gente precisa seguir mesmo é o coração. Ela me pergunta “Como assim?” Eu digo assim mesmo, seguindo o coração. Os olhos dela se enchem de água. Ela diz que parece entender. E eu explico que eu entendo, não entendendo. Meus olhos também se enchem de água.
Contato com a autora:
Denise Fernandes Marsiglia - taróloga e astróloga.
Psicóloga com especialização em psicossomática.
www.mitosesimbolosassessoria.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 23/10/2014
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
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