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19 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Sol, potencial de vida e de realização
Verbenna Yin
O arcano do Sol representa o indivíduo que se encontra com todo seu potencial de vida e realização, que venceu seus medos e, assim, conseguiu integrar plenamente seu ser interno.
A imagem mostra uma criança muito contente montada num cavalo branco e segurando um estandarte cor de laranja, cercada de girassóis num jardim murado, e atrás dela brilha altivo o Sol do meio dia com todo seu calor e radiância. Tudo nesta carta é alegre!
O Sol nos tarots Vieville e Waite
Os dois jogos que representam o Sol com personagem a cavalo:
Vieville (1650) e Waite (1910)
A carta do Sol e toda sua simbologia vem nos falar de um feliz renascimento, aquele que acontece quando finalmente nos conhecemos em toda nossa essência e verdade. A criança está nua e todos os elementos da carta olham para a frente, pois não há medo de se expor de forma verdadeira.
A criança é o símbolo da nossa espontaneidade, aquele atributo que ficou escondido enquanto íamos construindo uma personalidade a partir do que os outros queriam de nós. Foi necessário atravessar todos os arcanos anteriores para que pudéssemos resgatá-la, mas enfim a criança interna conseguiu emergir e agora é ela quem guia a nossa vontade.
A vontade interna está simbolizada pelo cavalo branco, o veículo de externalização daquilo que nosso coração realmente deseja e que agora a criança poderá conduzir livremente por onde quiser andar. O cavalo branco é um símbolo poderoso no território do inconsciente. Freud expôs sua teoria psicanalítica sobre a sexualidade humana ao escrever “O Caso do Pequeno Hans”, quando acompanhou um menino que sonhava com cavalos brancos que devoravam seu pênis. Estudando a relação simbólica dos elementos desse sonho infantil, Freud desenvolveu a base de toda a psicanálise, identificando a energia sexual como mobilizadora primordial dos indivíduos e os possíveis caminhos para manifestação dessa energia na vida adulta considerando a capacidade de interação com as figuras materna e paterna no Complexo de Édipo.
Foi estudando o pequeno Hans que Freud percebeu a relação simbólica entre falo-poder-cavalo branco e como esses símbolos estão interligados na busca de cada pessoa pelo seu próprio poder pessoal e autoafirmação.
A cor laranja dá o tom dessa carta, já que é uma cor vitalizadora e que evoca o positivo. O laranja é usado na cromoterapia por seu comprimento de onda ter a capacidade de eliminar miasmas e conteúdos energéticos externos que ficam grudados no nosso campo magnético, é uma cor desimpregnadora. Neste arcano, tudo que for influência externa, tudo que não vem da espontaneidade da própria criança, fica de fora.
O espaço é murado porque agora a criança está protegida em seu próprio território psíquico, ela já sabe o que é realmente genuíno de sua parte e cultiva seu jardim interno para que os girassóis possam crescer e sorrir de volta para ela. Nesse espaço sagrado só entra quem tem respeito pela sua trajetória, já que levou tempo para que esse jardim interno fosse cultivado, cuidado e pudesse florescer.
Aqui já não há mais necessidade de ataques ou de ativação dos mecanismos de defesa, até porque já foram percorridos os arcanos anteriores que simbolizam os momentos de iluminação das sombras e retomada da consciência sobre repetições e vitimismos.
O arcano do Sol acontece naturalmente quando a pessoa, numa atitude de autorrespeito e autopreservação, consegue se manter protegida psiquicamente por se colocar conscientemente fora das situações de risco. Isso envolve aprender a escolher as companhias, situações e ambientes, evitando tudo aquilo que possa ser tóxico e impedir seu desenvolvimento saudável.
E até o Sol é uma entidade nessa carta, com um rosto e uma expressão próprios. A criança da carta parece coroada de Sol, literalmente iluminada pelo astro rei. O Sol representa a emanação divina primordial; é pela luz do Sol que recebemos a consciência do amor e da verdade. É também pela ação da luz do sol no corpo que nós produzimos as vitaminas e hormônios que estimulam um crescimento físico saudável - e é nos lugares do planeta onde há menor insolação anual que se registram índices mais altos de depressão e suicídio.
A emanação solar nos traz luz e calor e a carta do Sol fala desse momento em que nossa existência é a própria manifestação divina da iluminação e do amor sobre a Terra. Podemos nos tornar deuses criadores da nossa realidade quando assumimos a direção dos nossos cavalos brancos e manifestamos nossa vontade no mundo concreto, realizando aquilo que realmente emana do nosso coração – o sol interno.
Isso é real autodeterminação, ter liberdade para fazer aquilo que genuinamente se deseja. E sem esperar um olhar de aprovação do outro para aquilo que queremos, apenas nos permitindo realizar.

Sempre que há espaço para esse alinhamento verdadeiro do indivíduo com sua essência, o resultado será positivo para ele e para os outros. Porque na essência todos somos luz, todos somos manifestações divinas. Podemos ser encobertos pelas interpretações equivocadas que fazemos do nosso ambiente e entorno, mas conforme vamos recobrando a consciência sobre nós mesmos e sobre a nossa verdade, vamos também resgatando a clareza sobre a vida, sobre nossas atitudes, capacidades e possibilidades.
O Sol no Tarô de Marselha e no BOTA tarot
Representações usuais do arcano 19. O Sol:
Tarô de Marselha (1750) e B.O.T.A. (Paul Foster Case - 1922).
Quando chegamos nessa compreensão sobre nós mesmos, não há mais insegurança para nos mostrarmos ao mundo como somos. E mais, não temos reservas para compartilhar com os outros a satisfação de estarmos livres para sermos nós mesmos. Vejam só que linda essa representação do arcano do Sol na coleção Bota Tarot, ao mostrar duas crianças nuas brincando sob o Sol.
Elas compartilham do momento de alegria porque a atitude espontânea da criança quando se sente feliz é o compartilhar. A aproximação com o outro não é mais temida, o outro não é mais uma ameaça se ele também for inteiro.
Mas apesar da espontaneidade ser um atributo primordial na atitude humana, restringimos o olhar à espontaneidade como algo infantil no sentido negativo. A espontaneidade cabe somente à infância porque na vida adulta não podemos ser espontâneos, na vida adulta não cabe qualquer atitude impensada, temos que estar vigilantes para perceber e avaliar onde cabem e onde não cabem certas atitudes.
Na verdade, é ainda na infância que vamos percebendo que nossa espontaneidade não tem lugar no mundo dos adultos. D. Winnicott percebe que até os bebês vão moldando seu comportamento conforme o humor e a expressão das mães para com eles. No seu livro “O Brincar e a Realidade”, ele propõe o seguinte entendimento:
“O bebê rapidamente aprende a fazer uma previsão: 'Por enquanto, posso ficar seguro, esquecer o humor da mãe e ser espontâneo, mas, a qualquer momento, o rosto dela se fixará ou seu humor dominará; minhas próprias necessidades pessoais devem então ser afastadas, pois, de outra maneira, meu eu (self) central poderá ser afrontado'.”
Assim, crescemos com a falsa noção de que sermos nós mesmos é um fator de risco à nossa segurança, só sobreviveremos e teremos nossas necessidades atendidas se nos adaptarmos às exigências do ambiente e ao que as outras pessoas esperam de nós. E no final, vamos perdendo nossa espontaneidade, vamos enrijecendo, perdendo a flexibilidade. Cada vez mais, vamos nos distanciando da nossa criança interna que quer brincar e compartilhar sua felicidade com as outras pessoas.
Ao descrever a simbologia do sol, dos círculos e das mandalas, Jung na sua obra “O homem e seus símbolos” cita Marie Luise von Franz, que realmente foi muito feliz em sua conceituação sobre o elemento circular enquanto representação da verdade individual de cada um:
“... o círculo (ou esfera) como um símbolo do self: ele expressa a totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo está presente na adoração primitiva do sol ou na religião moderna, em mitos ou em sonhos, nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibete, nos planejamentos das cidades ou nos conceitos de esfera dos primeiros astrônomos, ele indica sempre o mais importante aspecto da vida — sua extrema e integral totalização.”
É daí a importância do Sol como símbolo máximo da integração da personalidade ao ser interno mais puro, da integração total do Ego. O círculo não tem começo nem final, é uma unidade em si mesmo. A psiquiatra brasileira Nise da Silveira, que se dedicou profundamente ao estudo da esquizofrenia, notou a repetição dos símbolos solares nas figuras produzidas pelos seus pacientes esquizofrênicos, o que a levou a se aproximar de Jung e com ele organizar uma exposição das pinturas desses pacientes.
Para Nise, a esquizofrenia seria uma fragmentação do ser interno que se perde de si nesse processo de atender às demandas do mundo externo, levando-o a um isolamento e permanência no seu mundo interno próprio. Ao proporcionar momentos para que os pacientes lidassem com sua energia espontânea e criativa, eles buscavam novamente pela unidade desse ser interno produzindo figuras circulares e a partir dessas produções criariam pontes para ser relacionarem novamente com os outros.
Viver o arcano do Sol é resgatar a espontaneidade da criança e a unidade do ser interno que pode viver em seu mundo interno e também no mundo externo, dando lugar para sermos e agirmos novamente conforme a nossa verdadeira natureza.
Talvez a maior expressão desse momento solar arquetípico aconteça quando estamos dançando. A dança une o corpo, a emoção e a mente, todos alinhados a fim de criar um resultado físico. Na dança, o indivíduo está concentrando sua energia para manifestar através do corpo o que ele sente internamente e faz isso com um comando mental que decodifica esse sentir e o traduz em movimentos corporais.
O Sol nos tarâs Triplice Deese e Gaian
Criações modernas da carta do Sol: Le Tarot de la Triple Déesse (2002) e o Le Gaian Tarot (2011)
A dança espontânea é também uma ponte eficiente para resgatar o contato com a criança interior, porque evoca essa conexão mente-emoção-corpo que é natural na infância e vai sendo esquecida conforme crescemos e nos esforçamos para nos encaixar nas opções que nos dão ao longo da vida.
Dançar pode ser uma ótima maneira de trazer nossa espontaneidade à tona novamente, e conforme vamos permitindo esses momentos de conexão com nossa criança interna a vida externa vai se abrindo também para deixar que essa energia emerja, quebrando os enrijecimentos e inflexibilidades internos e realinhando a nossa realidade com a nossa verdadeira vontade. Assim como é fora, é dentro.
E justamente o aspecto lúdico da dança corrobora com a tese terapêutica de Winnicott, que afirma que "é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente  sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)".
Nesse sentido, eu gosto muito da representação do arquétipo do Sol feita na coleção Gaian Tarot, colocando a dança como expressão dessa liberdade espontânea e criativa. Nessa representação, a felicidade de agir livremente reluz todo o nosso brilho de dentro para fora.
Quando esta carta surge numa leitura de tarot, indica que este é um momento de alegria, vitalidade, sucesso e bem estar. Pode indicar também uma fase da vida em que finalmente você possa se sentir em paz com sua história pessoal e permita-se a alegria de deixar sua essência vir à tona. É tempo de agir com liberdade e espontaneidade, sem amarras e sem medo do julgamento dos outros.
Viva toda a felicidade de ser quem você é!
Verbenna Yin é taróloga, astróloga e terapeuta floral.
Contatos: verbennatarot@gmail.com
e www.verbennayin.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 30/01/2018
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