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24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Arcanos Maiores - o Mapa da Vida
Jaime E. Cannes
Percorrer o simbolismo dos 22 arcanos maiores é percorrer os principais eventos que marcam a vida humana em todas as suas manifestações, sejam elas psicológicas, culturais, de credo ou legitimamente espirituais. Podemos definir os arcanos maiores como os principais acontecimentos que levam ao processo de iluminação da consciência, ou individuação, como diria C. G. Jung. As suas vivências movimentam-se em diferentes intensidades ao longo de toda a vida, ou em apenas um dia. Assim, podemos viver todos os 22 arcanos maiores durante um período de 24 horas, ao mesmo tempo em que passaremos a vida desenvolvendo apenas um ou dois desses arcanos em profundidade! Incrível, não?
O Sol
 
Como os exemplos dramáticos ilustram melhor que os felizes, vejamos o arcano XIII, A Morte. A morte é fato inevitável, mas que não ocorre repentinamente. Enquanto eu escrevo e você lê isso, estamos ambos morrendo um pouco mais, e mais mortos hoje do que ontem, embora nós dois não saibamos quando isso vai ocorrer de fato! Morremos um pouco quando terminamos um relacionamento em que apostávamos muito, ou quando saímos de um trabalho que vínhamos fazendo com dedicação. A morte, como podemos ver, nos acompanha um pouco a cada dia até que se precipite de modo derradeiro e definitivo sobre nós! O grande arquétipo da morte se dilui em pequenas mortes ao longo de toda uma vida.
O mesmo se dá com os outros 21 arcanos numerados da série conhecida como arcanos maiores do tarot.
Noutro exemplo, o arcano de Os Amantes (ou O Enamorado em português), o tema das decisões tomadas de acordo com a “voz do coração” pode variar de um entre dois amores, ou entre duas carreiras, dois empregos, duas camisas no armário antes de se sair para trabalhar de manhã!
Os arcanos maiores assim se chamam justamente porque sua abrangência simbólica envolve os quatro níveis de consciência, física, mental, sentimental e espiritual. Enquanto os arcanos menores têm seus significados mais restritos a cada um desses níveis representados por seus naipes. Ouros, o mundo físico, Espadas, o mundo mental, Copas os sentimentos e Paus o plano criativo-energético! Por esse motivo arcano maior e arcano menor não significa mais ou menos importante! Significa, isto sim, maior e menor abrangência simbólica.
Baralho Visconti-Sforza
Visconti-Sforza (1450), o mais antigo tarot completo com 78 arcanos
Todas as ilustrações deste artigo foram escolhidas e encaminhadas pelo Autor
Já citei aqui que os arcanos maiores representam numa leitura o que está acontecendo, os arcanos menores a consequência desses acontecimentos em nossa vida imediata e as cartas da corte, que pertencem ao conjunto dos arcanos menores, mostram como nos posicionamos e atuamos diante desses acontecimentos no nível da personalidade. Combinados assim os arcanos maiores e menores são uma perfeita  “máquina de imaginar” como bem o descreveu o tarólogo e escritor espanhol Alberto Cousté!* Isso, no entanto, não define o modo como esses dois conjuntos do mesmo baralho devam ser jogados. Há aqueles que, como eu, gostam de lançá-los misturados numa leitura, outros preferem jogar em separado, combinando arcanos maiores e menores a cada lançamento. Há ainda os que preferem ler apenas os arcanos maiores em todas as sequências de leitura sem nunca acrescentar os menores! Isso depende muito de como funciona o processo psíquico-intuitivo de cada leitor.
Não há certo ou errado! Descubra o seu modo! Só não vale sair por aí ensinando só arcanos maiores e dizendo que está “formando tarólogos”, pois seria um engodo! Sem falar que curso nenhum forma um tarólogo, apenas o inicia na linguagem simbólica dos arcanos. A formação só se completa com o tempo, a prática e a dedicação não só em executar leituras, e em estudar o simbolismo das cartas, mas também em tirar o máximo delas para o próprio crescimento. Que se dá através dos ensinamentos de vida que as lâminas do tarot, em toda sua profundidade arquetípica, proporcionam a quem sabe ver seu significado intrínseco! 
Tarô de Marselha
O clássico tarot de Marselha (1750) reproduz baralhos mais antigos
Existem uma miríade de versões de baralhos de tarot, muitas delas absolutamente lindas, outras nem tanto! Há ainda aquelas que são uma cópia descarada de baralhos mais conhecidos como o Rider-Waite e o Thoth-Crowley. O problema que há em se estudar baralhos de autores é que cada um deles enfatiza os significados que lhe são mais significativos em sua interpretação deste ou daquele arcano! Basta ver as alterações arbitrárias e sem maiores justificativas feitas por Waite ao trocar as posições dos arcanos maiores VIII A Justiça e XI A Força, ou a alteração que Crowley fez nos arcanos menores transformando os Cavaleiros em Reis e rebaixando os Reis a Príncipes!
Outro exemplo que costumo citar, como uma prova clara da interferência dos autores no simbolismo do tarot nas versões do baralho criadas por eles é o do arcano XV, O Diabo, que para Aleister Crowley é uma figura que representa o poder e a paixão plenamente vividos. Enquanto que para Vicki Noble, autora do Motherpeace tarot, é um símbolo do capitalismo e do patriarcado dominante, onde o macho entronado numa pirâmide social instiga a luta entre classes. Crowley era um pagão sexualmente ambíguo e nada contido em seus impulsos. Noble é uma feminista e ambientalista pagã! Percebem o motivo dos enfoques dados aos seus “Diabos” nos baralhos que compuseram? Ambos captaram bem o significado do arcano que engloba as duas interpretações, mas ao desenharem seus baralhos enalteceram os significados que mais lhe diziam respeito sem dar muito espaço para os outros... Como ver a paixão sexual no Diabo de Noble? Como ver o poder opressor no Diabo de Crowley?
 
Devil no Motherpeace tarot
O tarot Motherpeace (acima) e o
tarot Thoth (à direita) enfocam
significados do arcano XV, O Diabo.
 
Devl no Crowley Tarot
 
Isso não significa que devamos evitar os baralhos modernos de autor, mas sim que devemos encará-los com cautela. Os baralhos modernos podem trazer perspectivas interessantes sobre os arcanos ao colocá-los sob a ótica de uma determinada mitologia, cultura ou doutrina espiritual, como nos casos do tarot Mitológico, o Thoth e o Osho Zen, só para citar alguns exemplos bem sucedidos. Em minhas aulas eu prefiro utilizar as cartas do tarot de Marselha, um baralho que imita os antigos conjuntos medievais de tarot. Até onde sabemos o tarot não foi criado com o propósito de ser um oráculo, mas sim um jogo da nobreza europeia que acabou funcionando como um material projetivo da psique humana. A mesma despretensão mística ou oculta o isentou de interferências deste ou daquele autor! Costumo dizer aos meus alunos que ao entendermos bem o simbolismo básico do tarot de Marselha, entenderemos as intenções das intervenções dos autores de tarots modernos em seus baralhos!
As cores
As cores falam-nos diretamente às emoções, temos sempre uma reação imediata ao visualizar uma cor que gostamos ou que detestamos. E também amamos ou detestamos uma cor sem uma razão aparente! Há pessoas que se sentem subitamente tristes com o azul, outras imediatamente irritadas como vermelho e assim por diante! Sem falar na linguagem simbólica que criamos para representar nossas emoções utilizando as cores: azul de fome, verde de inveja, vermelho de raiva, e a quem sucumbe ao medo dizemos que ele ou ela “amarelou”. Muito embora nem todas essas relações semânticas tenham consistência no significado psicológico das cores, elas simbolizam bem sua íntima relação com as emoções humanas.
No tarot de Marselha as cores que são representadas são as básicas, vermelho, azul, amarelo, verde, branco e preto. O branco aparece como um detalhe significativo no cabelo de A Imperatriz, na barba de O Imperador e O Hierofante, na água que escorre dos jarros do arcano de A Temperança e em alguns dos raios de energia dos arcanos de A Lua e de O Sol. Já o preto, apesar de aparecer mais fortemente nos arcanos maiores de A Morte, XIII e nos contornos da face de A Lua, XVIII, ele só se salienta mesmo no naipe de espadas. E essa cor, como veremos, tanto é dor e desorientação, quanto o vazio da experiência de elevação espiritual! Exatamente como o é o mergulho nos aspectos críticos desses arcanos maiores e no naipe de espadas, uma crise que traz em si a possibilidade de crescimento interior.
Vamos às cores e seus significados simbólicos:
Vermelho: Como o fogo, avança. Ação, movimento, rapidez, paixão, intensidade, destreza, agilidade e disposição física! Energia, vigor, embate, disposição para o confronto. Uma cor associada tanto à guerra quanto ao sexo e à sedução. Pode também sugerir impulsividade, pressa, impaciência e agressividade!
Azul: Como a água, infiltra-se. Calma, tranquilidade, profundidade, espiritualidade, contemplação. A ação interior, como a reflexão e a meditação. O psiquismo mediúnico, premonição, vidência etc. Os dons da alma. Memória, sonho, idealização. Por outro lado simboliza também a passividade, a preguiça, a inércia, a reclusão e ou indiferença emocional.
Verde: A cor da fertilidade, do progresso, da regeneração e da cura, tanto física quanto espiritual. Essa é a cor do encontro da verdade, por mostrar como as coisas, assim como os frutos, são no início. Por isso é também uma cor de revelação e esperança! É a cor associada aos profetas e à grandeza do mar, podendo significar soberba.
Amarelo: é a cor da Luz, inspiração e intuição superior, criatividade, descontração, reconhecimento, brilho, sucesso, êxito. Por estar associada ao sol muitos reis, tal como os imperadores chineses, reservavam o amarelo somente para si! Sugere riqueza, felicidade, talentos, dons, beleza e posses reconhecíveis a qualquer um! É também a cor da vaidade, da ambição e da ostentação!
Branco: A paz profunda, consciência amplificada. A cor da pureza, e por isso mesmo muito ligada ao espírito e à Divindade. É uma cor de neutralidade e descanso, bem como da visão total da existência, pois do branco saem todas as outras cores. É a cor dos anciãos e da sabedoria adquirida com o tempo e livre das máculas projetivas do eu inferior. 
 
Carta  13. Morte e o Três de Espadas
Preto: a cor predominante em arcanos como A Morte e o Três de Espadas
Preto: Simboliza a ausência de luz, e por isso o desespero, o luto, a falta de perspectiva e orientação, a negatividade, o medo. Por outro lado é a cor do descanso da mente, e no Zen budismo, por exemplo, simboliza o vazio da consciência que nos leva à iluminação espiritual através da libertação da mente dos desejos, de onde nascem todos os sofrimentos!
A posição das imagens
Muita coisa tem sido escrita sobre as personagens dos arcanos maiores, bem como dos arcanos da corte, estarem viradas para a esquerda ou para direita e os possíveis significados disso! Uns dizem que se deve considerar sempre a perspectiva do espectador. Por exemplo, o Hierofante está virado para o seu lado esquerdo, mas para quem o olha ele está virado para a direita e este deve ser então o lado a ser considerado na interpretação! No mínimo é confuso! Além do que nunca consegui tirar disso grandes significados simbólicos, o que é claro pode ser pura limitação minha, vamos deixar bem claro! Acho infinitamente mais significativo observar que as duas únicas figuras dos arcanos maiores que encaram o expectador diretamente é a mulher em A Justiça, arcano VIII e o próprio sol no arcano de mesmo nome O Sol, XIX. Os dois simbolizam o domínio da consciência. O primeiro puramente racional, o segundo mais abrangente, envolvendo os muitos aspectos da consciência.
A Lua no Tarô de Marselha       O Julamwento no Tarô de Marselha
Os personagens de A Lua e O Julgamento voltam-se para os céus:
um busca alento, o outro o encontra.
Também acho interessante que as duas únicas representações de seres que olham para o alto apareçam nos arcanos de A Lua, XVIII onde duas bestas uivam para a lua, e no arcano XX, O Julgamento onde uma família olha para as alturas atendendo à chamada de um anjo! Quer esse olhar seja uma busca pelo mais alto ou um chamamento dele, no primeiro arcano há desorientação e a invocação de sentimentos e instintos atávicos, como o medo. Já no segundo há um esclarecimento profundo, o resgate de uma nova consciência e perspectiva sobre os eventos do passado e do presente e a observação de uma relação entre eles que liberta os velhos condicionamentos da alma. Um é a estagnação, o outro a libertação!
Essas “coincidências” se repetem por todo o simbolismo dos arcanos maiores do tarot de Marselha! E muitas outras observações sobre elas ainda podem ser feitas, mesmo dentre aqueles arcanos que citei aqui!
A viagem do Louco
Para entendermos bem os arcanos maiores e sua representação como etapas vivenciais da existência, encarar as cartas como estágios de uma viagem pela vida é de imensa ajuda! O esquema que apresento aqui e utilizo em minhas iniciações foi apresentado por Sallie Nichols em seu livro Jung e o Tarot, de 1980**. O esquema é organizado em três setenários que se dispõe de modo muito rico tanto simbólica quanto aritmeticamente. O Louco representa o próprio viajante que se coloca fora do grande esquema de 21 cartas. Ao ser colocado antes da carta de O Mago ele é o ignorante puro de coração, aquele que percebe sua falta de conhecimento e sabedoria e sai em busca delas.
O Louco no Tarô de Marselha
 
Ao completar, porém, o longo trajeto arquetípico ele se vê mais uma vez fora do grande esquema. Mas agora não mais como um ignorante, mas sim um sábio iluminado que passou por tudo, e que apesar de compreender o esquema dos eventos da vida comum, não mais comunga com eles. A viagem, entretanto, nunca termina! Como o penúltimo arcano da caminhada, O Mundo, anuncia um fim e prenuncia simultaneamente um novo começo, O Louco prossegue mais instruído em seu trajeto. A busca da evolução nunca finda e continua em níveis cada vez mais elevados, pois o autoconhecimento é um caminho contínuo! E mesmo aqueles cuja evolução transcendeu os níveis da humanidade e não mais precisam do recurso reencarnatório, já que sua evolução não continua aqui na Terra, continuam em sucessivas peregrinações evolutivas em outras dimensões! A esses chamamos de muitos nomes, Mestres Ascensos, Iluminados, Avatares, são alguns deles.
<--  O Louco, o buscador dentro de cada um de nós!
Os três níveis das cartas são divididos, como já disse, em setenários que vão de O Mago ao arcano de O Carro. Do arcano de A Justiça ao arcano de A Temperança. E, finalmente, do arcano de O Diabo ao arcano de O Mundo! Muitas visões diferentes sobre esta jornada já foram publicadas e cabe a cada neófito no estudo do tarot conhecer essas muitas versões e escolher a que mais faz sentido para si dentro do seu próprio processo evolutivo pessoal.
Os três setenários dos arcanos maiores
A viagem de O Louco se dá pelos três setenários evolutivos dos arcanos maiores
Para mim o primeiro setenário fala do processo de formação do indivíduo, o segundo das leis ou princípios que regem a vida e o terceiro do caminho da transcendência que poucos trilharão com sucesso, muito embora tenham todos a oportunidade de fazê-lo! Apresento a seguir uma síntese de cada setenário e o significado resumido de cada carta passo a passo. Antes, porém, devo advertir que aqui O Louco será visto como uma criança recém-chegada a este mundo.
O caminho do indivíduo
Ainda no ventre da mãe o infante preserva a conexão com o poder criador do pai cósmico que realiza os milagres tanto naturais quanto sobrenaturais, e que para a maioria será esquecido ao longo da vida, e cujo resgate alude à volta à casa do Pai das escrituras sagradas (O Mago).
O caminho do indivíduo
 
Da mesma forma o acesso à sabedoria universal através da voz interior da grande mãe cósmica (A Sacerdotisa). Ao nascer, a conexão com o mundo espiritual e transcendente é cortada e a mãe terrena o conecta ao corpo e ao mundo dos sentidos e do prazer físico (A Imperatriz). O pai terreno surge para apontar para o mundo concreto das realizações e das limitações, para que não se perca a vida em indolência (O Imperador).
Ao crescer um pouco mais o infante vai à escolinha e receberá a partir de então uma série de iniciações que nunca mais findarão, se ele for de fato um buscador espiritual. Da alfabetização ao doutorado, das iniciações acadêmicas às iniciações espirituais, ele será iniciado nos mistérios que conduzem à realização maior, e que prosseguem a níveis cada vez mais refinados e sutis (O Hierofante).
Com os colegas na escolinha, na universidade ou nas escolas de mistério, assim como na vida, o jovem aprenderá a ouvir outras visões e versões sobre a verdade, diferentes daquelas que ouviu de seus professores e Mestres e escolherá se ele se adaptará a alguma ou se seguirá a tradição (Os Amantes)!
No fim, o jovem adulto se sente confiante para enfrentar o mundo. Aposta em suas formações, visão e escolhas e sai como um guerreiro pronto para a batalha do crescimento pessoal na jornada da vida (O Carro).
O caminho das leis
Logo O Louco, agora travestido de O Carro, aprenderá pela observação, estudo ou experiência que a vida é regida por leis ou princípios. Que vão do código penal à constituição, das leis naturais, como a lei da gravidade, às leis espirituais, como a lei do Karma (A Justiça). Aprenderá que a solidão é a regra desta existência e que ele estará sempre só em sua dor ou êxtase nas experiências mais profundas e significativas de sua vida. E que quer ele faça o bem ou o mal, ele será o maior responsável por suas ações e pagará por elas (O Eremita)!
Verá também que a mudança é a lei da vida, que tudo muda sempre, mas que também tudo é cíclico! Tudo muda, mas se repete porque nada é exatamente igual, como um verão não é igual ao outro. Aprenderá também que ciclos similares que se reptem com insistência evocam a evolução da consciência (A Roda da Fortuna).
Descobrirá que o poder para mudar nosso próprio destino jaz dentro de cada um de nós, mas requer força de vontade, empenho, coragem e muita energia (A Força). Porém, para que nosso ego não enlouqueça de vaidade, aprenderemos que na vida há o imponderável que nos torna impotentes! Que por mais fortes e saudáveis que sejamos, envelheceremos e morreremos. Que por mais que amemos alguém, não podemos livrá-lo da dor e do sofrimento. A entrega nesse momento é um convite para a contemplação do transcendente (O Enforcado).
 
O caminho da lei
Outra lei irrefutável é que tudo morre, mas que a morte não é um fim, e sim uma transcendência, que como diz o nome, é um ir além das experiências e formas conhecidas até então (A Morte). E que a morte é uma das maiores conspiradoras para a abertura e a busca por objetivos de maior amplitude e significado filosófico ou espiritual (A Temperança).
O caminho da transcendência
Na entrada do caminho da transcendência encontramos aquele que faz de tudo para nos fazer crer que além deste mundo que vemos a vida não tem nenhum sentido! Que não há transcendência espiritual! Ele nos propõe transcendências físicas, e algumas bem biológicas tais como poder material, sexo e drogas que nos prendem ainda mais a este mundo (O Diabo). Somente uma libertação consciente das amarras do ego ilusório, que poderá ser voluntária ou resultante de uma crise de grandes proporções, nos faz despertar deste sono, ou Maya, como dizem os indianos (A Torre).
Caminho da transcendência
 
A ruptura nos faz ver para além de nós mesmos e, pela primeira vez, vislumbramos nossa comunidade humana como uma família, e esse universo como nossa casa (A Estrela). Mas logo após essa revelação o ego insufla o medo da própria destruição e pensamentos de pânico como “Vou me perder”, “Estou ficando louco” ou “Ah, é minha imaginação!”, podem nos fazer voltar atrás e abandonar o caminho da evolução (A Lua). Mas, ao resistirmos e atravessarmos os mares dos nossos fantasmas a consciência antes adquirida se consolida, e um imenso esclarecimento sobre nosso propósito interior advém e se reforça, trazendo clareza, êxito, força interior e foco (O Sol). Então, ao revermos nossa viagem pela vida, todos os fatos que aparentemente não possuíam conexão entre si entrelaçam-se e o sentido último de nossa existência se revela (O Julgamento).
A dança cósmica se completa em nós, e um profundo sentimento de satisfação e comunhão com todas as coisas deste mundo e do universo se realiza dentro de nós com perfeição e regozijo. Saímos então da roda das encarnações (O Mundo).
Curiosidades aritméticas
Neste arranjo das cartas dos arcanos maiores algumas reflexões podem ser feitas com os números nesta disposição. Por exemplo: Se somarmos verticalmente a primeira carta da primeira fileira (O Mago I) com a primeira carta da terceira fileira (O Diabo XV), obteremos o número 16. Observamos então que a carta que fica entre os dois arcanos é o primeiro arcano da segunda fileira (A Justiça VIII). Curioso, não? Parece haver uma sugestão simbólica aqui, algo mais ou menos assim: O grande poder da divindade interior (O Mago I) pode ser corrompido ao ponto de perverter-se completamente (O Diabo XV)! Por isso é preciso manter a crítica, a autocrítica, o bom senso e o discernimento consciente para equilibrar “os pratos da balança” (A Justiça VIII). O mesmo ocorre entre a Sacerdotisa II e a Torre XVI, cuja soma 18, encontra seu equilíbrio no arcano central O Eremita IX, e assim segue entre todas as somas verticais!
Outra curiosidade é que as somas transversais, tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda, dão sempre no mesmo arcano.
Veja isso: a soma do arcano de O Mago I, com o arcano de O Mundo XXI é igual a 22 cuja metade é 11, o arcano de A Força XI. Outra mensagem parece estar se insinuando aqui: entre descobrir o poder da divindade interior e atingir a transcendência é preciso muito empenho, coragem e disposição para debruçar-se sobre si mesmo ao confrontar a fera interior! O arcano de A Força é a metade resultante de todas as somas transversais entre os números dos outros arcanos maiores.
 
Curiosidades numéricas
Para conferir continue somando A Sacerdotisa II com o Julgamento XX, A Imperatriz III com O Sol XIX, O Imperador IV com A Lua XVIII... E até nas cartas da mesma fileira a que o décimo primeiro arcano pertence, como A Justiça VIII com A Temperança XIV, e até dos dois vizinhos mais próximos A Roda da Fortuna X com O Enforcado XII. Parece que a reflexão central desse simbolismo aritmético é que a confrontação com a sombra dos instintos inferiores, a besta interna, e sua integração impulsiona o despertar da luz espiritual, dos dons e talentos latentes e a evolução do indivíduo. Que se dá dentro do modo indicado pelo significado das cartas que compõem a fórmula! Estas “coincidências” provam mais uma vez que a troca feita por Waite colocando a carta de A Justiça no lugar de A Força no ponto central do quadro dos 22 arcanos maiores, não se sustenta simbolicamente. Medite sobre essas relações, tire suas conclusões e reveja-as periodicamente. Você crescerá muito em suas percepções sobre a vida e em seu próprio desenvolvimento pessoal e espiritual.
 
Bibliografia
* Alberto Cousté, Tarot, ou A Máquina de Imaginar. Editora Ground. São Paulo, 1989.
** Sallie Nichols, Jung e o Tarot. Editora Cultrix. São Paulo, 1987
 
Contato com o autor:
Jaime E. Cannes, professor e consultor de tarô desde 1988,
é astrólogo, numerólogo, mestre e terapeuta Reiki.
www.jaimeecannes.com e www.tarotzenreiki.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do TarôAutores
Edição: CKR – 6/04/2015
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
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