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          |  | Agrupamentos dos arcanos maiores  |  |  |  
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    | Duas visões sobre os agrupamentos    |  
    | PorBete Torii
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    | Robert Place, em seu livro O Tarô dos Santos (editado no Brasil  pela Agir), cujo nome original é A gnostic book of saints, apresenta visões  muito interessantes sobre os significados simbólicos possíveis da seqüência dos  Arcanos Maiores e agrupamentos dentro dessa seqüência. |  
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    | Uma visão culta, fundamentada e séria |  
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    	| Ainda no começo do livro, Place  cita o Comte de Mellet (final do séc. 18), que teria  dito “que as 21 cartas podem ser  divididas em três grupos de sete. Ele disse que o primeiro grupo, começando com  a carta do Mundo, ilustrava a criação do mundo e a Idade do Ouro. Ele interpretou  a carta do Julgamento como a criação do homem e da mulher, com as pessoas na  carta emergindo da terra em vez de do túmulo. Isso foi seguido pelas cartas  representando a criação do Sol (com a união do homem e da mulher, na parte  inferior), a Lua (também mostrando a criação dos animais) e as estrelas  (mostrando a criação da vida marinha). A Torre representa a queda do homem, e o  Diabo nos conduz para fora da Idade do Ouro. O segundo grupo de sete – ou da  segunda idade, a Idade da Prata – é dominada por imagens de tempo e de morte.  Esse é o estágio quando a morte e a dor são introduzidas, mas também contém  virtudes fundamentais. No último grupo, Idade do Ferro, o Carro é seguido pelo  desejo sexual (os Amantes); os governadores do tempo, o Imperador e a Imperatriz,  são circundados por Júpiter e Juno (o Papa e a Papisa), e o Mago, o embusteiro  ilusório, nos guia ao estado decaído atual do homem, representado pelo Louco.” O autor conclui então que  “foi deixado implícito nesse ensaio que os trunfos esboçam a descida dos seres  humanos ao estado de ignorância. Portanto, quando lemos os arcanos no sentido  crescente, do primeiro ao vigésimo primeiro, eles descrevem o processo místico  de retorno ao estado inicial de unidade espiritual. Como a Hermética, os  arcanos são um livro didático para a prática da gnose.”
 E, nos outros capítulos,  Place dá abundante respaldo histórico a essa idéia de que o Tarô estaria  incluído, como muitas outras obras, no “modelo” de pensamento que descreve três  planos ou mundos e um caminho de ascensão que galga esses mundos, na forma de  uma escada (muitas vezes com 7 degraus em cada plano). Ele descreve, por  exemplo, a prática medieval de meditações místicas sobre imagens (com o uso da ars memoria) que deviam se apresentar ao  espírito em sucessão, das pecaminosas às virtuosas; e a tendência renascentista  de “criar trabalhos que organizavam as artes, as ciências, as virtudes e assim  por diante em uma seqüência, semelhante a uma enciclopédia, que simultaneamente  formava emanações sobre a escada neoplatônica  de ascensão. Os exemplos mais famosos são a Divina  Comédia, de Dante (Joseph Campbell escreveu uma comparação do tarô com a  obra de Dante) e os afrescos de Giotto na Capela de Arena, em Pádua...”.
 Ainda um outro modelo  apresentado por Place é o dos desfiles, procissões ou cortejos, de que o tarô  seria uma representação, com cada carta suplantando a anterior.
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    	| Uma visão lúdica, baseada nas  próprias figuras |   
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    	| Eu há muito tempo me deixo  atrair pelas semelhanças aparentemente intencionais que unem e relacionam  várias das cartas: há o grupo das que apresentam uma figura celeste no alto da  carta, em relação a figuras terrenas; há grupos ou pares que apresentam uma  idêntica “distribuição geométrica” das figuras; há cartas que têm uma só figura  humana e cartas que têm pares ou trios; há semelhança de posturas e gestos, bem  como de adereços; e há espelhamentos e “inversões” de figuras, seja no nível  visual ou no nível do significado. E, tentando agrupar as  cartas com base em grandes eixos de semelhança gráfica, saí-me com 4 colunas de  5 cartas, ficando a 21 e a 22 de fora:
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    	| Da esquerda para a direita: A coluna 1 (cartas 1, 4, 7, 9, 14) tem as figuras humanas “grandes” no centro da carta, as  quais estão em movimento ou em pé e num ambiente externo. Todas elas parecem  ter uma ação positiva sobre o mundo  material.
 A coluna 2 (cartas 2, 3 5, 8, 11) tem igualmente figuras humanas grandes, quase todas “entronizadas”  e em ambiente interno. Essas figuras exercem ação muito mais reflexiva e sutil.
 Obs.:  Já se vê que as 4 Virtudes ficaram reunidas na  sustentação das colunas, e que as figuras da base – Temperança e Força – participam  cada uma, na verdade, de ambas as colunas: a Temperança por ter asas que  repetem o tema gráfico atrás de todas as figuras entronizadas; a Força por  estar em pé.
 Todos os pares (figuras lado  a lado) têm grande correspondência simbólica: o primeiro é o Par Primordial; o  segundo é o dos governantes do tempo; o terceiro é o par masculino da  superioridade e da transcendência; o quarto é o dos anciãos que falam da  clareza do pensar e equilíbrio do sentimento; e o quinto é o par feminino da  resignificação e integração. Existe também muita correspondência gráfica – nos objetos  que seguram, por exemplo.  Aliás, todas  as figuras dessas colunas têm ambas as mãos segurando algum objeto, com exceção  do par do meio (Carro e Papa), em que ambos os homens têm uma das mãos livres.
 A coluna 3 (cartas 10, 12, 13, 15, 6) ficou, na verdade, com as  cartas que não cabiam muito bem nas outras colunas, e é a única em que a carta  de número menor ficou na base, em lugar de ficar na primeira posição. Mas elas  têm também uma grande unidade, na minha opinião: as figuras estão em ambiente  externo e “exposto”, e os significados (ou as impressões passadas) são em  grande medida de sujeição obrigatória, voluntária ou não, a uma lei ou força maior.
 A coluna 4, por fim, (cartas 16, 17, 18, 19, 20) tem o jogo  céu-terra, com figuras geralmente nuas, e em todas as 4 cartas superiores, há  uma emanação ou mediação entre céu e terra: o “maná” da carta 16, gotas ou  pequenas estrelas.
 Obs.: Já  nas duas cartas da base (o Enamorado e o Julgamento) – que também participam  cada qual de ambas as colunas – há uma comunicação “personificada”  (consciente?) entre o céu e a terra, na forma do anjo.
 Vejam a correspondência  entre os pares destas colunas também: a circulação entre apogeu e queda no primeiro par; o abandono ou despojamento (e fé) no segundo; o solo-ventre escuro e a face da Lua (que o  esqueleto também tem) no par do meio; a igualdade entre os homens, seja como  pecadores (sujeitos ao “diabo”) ou como filhos do Sol (Deus), no quarto par; o  livre-arbítrio e o julgamento pelas ações, no último.
 Muitas  outras coisas podem ser vistas nessa organização, e inclusive se poderiam  justificar algumas trocas, sem dúvida. E ainda nem falei do paralelismo entre  as cartas alinhadas nas 4 colunas, nem das duas cartas que ficaram  extra-coluna. Mas deixo a diversão para quem desejar.
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      | out.07 |  
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