Home page

24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Steve Jobs: O Rei de Espadas
Giancarlo Kind Schmid
 
Poucos são os personagens da história que podemos chamar de “rei”. Principalmente quando o assunto em pauta é tarô e nos dispomos a associar alguém a uma figura da corte do grupo dos arcanos menores. Porém, quando esse indivíduo é capaz de deixar marcas importantes no seu trajeto de vida e servir de exemplo para a humanidade, ele se torna, automaticamente, uma referência para toda uma coletividade. No que tange à natureza de cada naipe, destacando “Espadas”, temos o mundo das ideias, o exercício mental e a racionalização da existência – com todos os seus elementos díspares e conflitantes. Steve Jobs conseguiu incorporar perfeitamente a autoridade do pensar no campo da informática, inventos tecnológicos e diversas criações gráficas (e digitais) e merece o título de “Rei de Espadas”.
Steve Jobs
O Retorno do Rei - A jornada continua
www.macdailynews.com
Dia 5 de outubro de 2012 faz um ano sem Steve Paul Jobs, o criador e um dos fundadores da Apple, responsável por revolucionar os conceitos em informática e design de produtos, além de nos legar uma dezena de inventos copiados por todo o mundo e abrir espaço para as animações digitais.
Nascido a 24 de fevereiro de 1955 (Califórnia), órfão, foi adotado por um eletricista de nome Paul. Criado com muitas dificuldades financeiras, a continuidade de estudos foi um grande desafio (era curioso e hiperativo), mas Jobs chegou a ingressar na Universidade Reed College em Portland, Oregon ficando apenas 06 meses por não conseguir arcar com os custos.
Aos 20 anos se une ao amigo Steve Wozniak com quem funda a Apple, no fundo da garagem de seus pais, empresa que consegue crescer exponencialmente em dez anos, atingindo a marca de 10.000 colaboradores.
Aos 30 anos é despedido da Apple, mas não se dando por vencido, funda a NeXT e a Pixar, empresas com que faz história, e neste mesmo período desenvolve o primeiro protótipo do Mac.
Casa-se com Laurene Powell em 1991 (conheceu-a na Standford University) e forma então a sua família. É vegetariano como sua esposa. Descobre nesse ano um câncer no pâncreas que é tratado numa clínica californiana.
Une-se a Xerox para desenvolver um ambiente gráfico chamado smaltalk, que utiliza o mouse como recurso a mais. Oferecendo a ideia à Apple, não foi levado a sério, mas continuou investindo tempo e recursos no experimento adotado. O nome desse computador é Lisa (em homenagem à filha de Jobs) que, futuramente, se tornaria o famoso Apple Macintosh com sistema operacional próprio, o primeiro portátil do gênero.
Seus marcos são inquestionáveis: após comprar a Pixar da Lucasfilm em 1986, dirige a empresa e conquista feitos inéditos no mercado de animação com filmes como “Toy Story”, “Vida de Inseto”, “Procurando Nemo” e “Monstros S.A.” e alguns deles premiados com o Oscar.
Com o Mac, trouxe novos conceitos em design e automação de recursos tecnológicos, foi o pioneiro na utilização e armazenamentos de músicas compactas e de alta qualidade (MP3) com o IPod, selando suas conquistas em 2007 com a criação do IPhone que integrou várias outras ferramentas para acesso digital, como câmeras, vídeoconferências, reprodutor de vídeos e músicas e acesso dinâmico à internet. Anos depois surgiria o IPad, última inovação promovida por Jobs e a Apple, empresa com que tinha uma relação de amor e ódio.
Em quatro tempos faremos uma análise desse que posso chamar de Rei de Espadas e que inovou nossa forma de interagir com o mundo e os ambientes virtuais.
O Senhor da Razão
A empresa Apple, criada por Jobs, tem como logomarca a maçã com uma mordida. Representa o ‘fruto proibido do conhecimento’ narrado no Gênesis bíblico. Nada mais apropriado que ‘o símbolo do saber’ sob a forma de uma maçã para exemplificar o seu processo inventivo. O conhecimento é uma das manifestações do campo mental.
Logotipo da Apple
 
A maçã da Apple e o Ás de Espadas possuem certa simetria de significados. Ser um dos donos da empresa que tem o conhecimento como imagem, só mesmo para uma autoridade no assunto.
A formação religiosa de Jobs foi originalmente budista e, por ele, teria passado o resto da vida num monastério no oriente. Sabemos que a premissa budista é “o todo é mente, o universo é mental” (máxima do Caibalion, filosofia hermética) e isso foi aplicado de forma genial pelo empresário. Ele não deu continuidade ao segmento religioso por
não se conformar em, simplesmente, deixar as coisas correrem por conta própria; sempre desejou mudar, fazer a diferença, dar asas às suas ideias.
Jobs, às vezes, discutia com a família, reunida à mesa do jantar, design de móveis e aparelhos. Imperativo, defendia a ideia de que os aparelhos deveriam ter um aparência mais agradável aos olhos e serem mais fáceis de transportar. Muitas vezes chegou a tirar a esposa do sério com tais discussões. Jobs era um insatisfeito crônico e nunca se dava por vencido enquanto não colocasse as mãos na massa. Assim também foi ao adotar os estilos tipográficos para editores de texto virtuais, era um apaixonado por caligrafia e foi o pioneiro na adoção e criação de fontes gráficas, repetidas em programas de nosso uso diário como o Word da Microsoft. Ele pensava sempre geometricamente, buscando meios, formas ideais de se aplicar um conceito e fazer dele referência. O fato é que Jobs gostava tanto de suas ideias que simplesmente desejava partilhá-las. E assim o fez.
Muitos conheciam o temperamento de Jobs e simplesmente evitavam contrariá-lo. Ele não discutia apenas, cobrava resultados, impunha pontos de vista. Como pode ser observado em sua frase – “Seja um déspota. Afinal, alguém tem que dar as ordens.” – o coloca no nível frio e severo do naipe de Espadas. Como um rei, desejava que seus súditos o seguissem e o obedecessem. Essa é uma das características pretendida pelo Rei de Espadas – estar sempre com a razão, acima da opinião alheia. Agia, inclusive, com certo desdém ao ser abortado por compradores: “Não dê muito ouvido a seus compradores. Eles provavelmente ainda não sabem o que querem.”
Não era condescendente com quem fazia “corpo mole” ou vinha com uma justificativa qualquer devido a uma ausência no trabalho. Era implacável ao tratar seus funcionários, principalmente os que não rendiam: “demita os idiotas. Funcionários talentosos são uma vantagem competitiva para qualquer empresa”. Talvez, por isso, muitos o consideravam como um chefe sem coração e de sangue frio, uma típica característica do Rei de Espadas.
O Estrategista
A vida nunca foi fácil ou deu algo de “mão beijada” para Jobs. Pelo contrário, suas conquistas exigiram-no persistência e determinação sem igual, insistindo em projetos que muitos viam como “impossíveis, improdutivos ou, simplesmente, desinteressantes”. Se não fosse a sua vontade ferrenha e teimosia, não teríamos uma séria de recursos que hoje fazemos uso: aparelhos MP3, celulares em alta definição, acesso móvel à internet e vários softwares gráficos e de edição de textos. Talvez, quem sabe, nem teríamos laptops e tablets, projetos também rejeitados nos anos 90. Tinha ânimo para recomeçar: “Não tenha medo de recomeçar. Valeu a pena refazer o MacOS X, mesmo à custa do trabalho de mil programadores por três anos.” Seu espírito firme e desbravador lhe deram vários e importantes prêmios de reconhecimento no mundo tecnológico.
O Rei de Espadas traz consigo a sagacidade, perspicácia e autodomínio, principalmente em situações de alta pressão ou cobrança. Jobs passava horas sem dormir até conseguir resultados de seus experimentos. Ele era minucioso e dava atenção a detalhes que muitos
CEOs (Chief Executive Officer) não se prendiam. Ou seja, pensava no antes, no durante e depois e no impacto que um projeto poderia trazer para todos. Mas, não mantinha o peso das obrigações somente consigo; distribuía as tarefas e arrastava uma quantidade suficiente de funcionários para execução de suas tarefas: “Trabalhe em equipe. Evite colocar a carga das decisões difíceis sobre as suas costas”. Nunca se intimidou com um “não” e o uso do “não posso”, “não dá” ou “é impossível” estavam descartados de seu vernáculo. Procurava ser incisivo, honesto e objeto em suas decisões: “Busque informações e fuja das suposições. Faça sempre uma avaliação completa e baseie suas decisões nesses dados. É duro, mas justo.”
 
Apple
A figura do “Senhor dos Gládios” tem como marca registrada o alvo em mente. Sim, essa persona sabe que, para conseguir ganhar terreno, é preciso um passo após o outro. E, de nada adianta grandes e volumosos projetos se não executá-los com excelência: Jobs preferia concentrar sua atenção em objetivos ao alcance, com recursos disponíveis, através de bem elaborados testes de funcionamento, muito diferente de Bill Gates (um dos fundadores da Microsoft) que duas ou três vezes chegou a passar vexame ao anunciar uma nova versão do Windows. Para Jobs tudo se resumia em: “Foco, foco, foco. A Apple sempre concentrou seus recursos em um pequeno número de projetos, mas muito bem executados.”
O Rei de Espadas (diferente do Rei de Ouros), está em busca da excelência, da qualidade, e não da quantidade.
Vença ou vença
O Rei de Espadas quer vencer, não importa como. O fará mesmo que isso implique em derrubar ou passar por cima de quem se encontra no meio de seu caminho. Lembre-se que a espada é uma arma, então, é conferido poderio militar e o uso da força física se for preciso. Jobs transformou a energia do franco poder do conquistador rude em superioridade no campo da inteligência. Mas, para isso, teve que abdicar de qualquer manifestação de sentimentos quando o assunto era ‘atingir o primeiro lugar no pódium’: “Encare as decisões difíceis e não se deixe levar pela emoção. Avalie o problema de forma objetiva, mas jamais tenha medo de errar.”
Categoricamente, Jobs nunca se envolveu num projeto que não fosse inovador ou relevante do ponto de vista da qualidade de vida. Questionador, queria acompanhar, se pudesse, em tempo real, o desenvolvimento de suas criações: “Faça as perguntas certas. Mas duvide sempre das respostas.”
O encorajamento após saber que sofria de câncer e a necessidade de fazer uso inteligente de seu tempo, tornaram-no compulsivo quanto aos resultados e não sentia dó de descartar o projeto anterior em prol de um novo. Seu impulso sempre foi quanto à inovação e nunca esmoreceu por perceber que havia perdido um excelente negócio ou uma grande oportunidade de investimento (como aconteceu na revolução da música digital, no início): “Se perder o barco, trabalhe para recuperar o tempo perdido.”
Para manter o seu reinado, o Rei de Espadas precisa sempre estar um passo à frente de todos. Quando alguém chegava com uma alternativa ou proposta, se ele não visse meios para a aplicação, simplesmente descartava-as sem maiores discussões. Sua austeridade o levou a fazer bons amigos, péssimos inimigos, mas nunca deixou de ser respeitado e aclamado em seu meio. Era irônico em suas observações. E sempre mantinha um “trunfo na manga”. Certa vez, conversando com o então CEO da Pepsi (John Sculley), na tentativa de convencê-lo investir na Apple, comentou: “Você quer passar o resto de sua vida vendendo água com açúcar ou quer uma chance de mudar o mundo?”
O frio corte da espada
A última palavra tem que ser a do Rei de Espadas. Ele pode anunciar uma ideia e fazer dela sua marca registrada. Jobs, quando terminava suas apresentações em grandes eventos, repetia um bordão para anunciar o lançamento de um novo produto: “mais uma coisa...”. O empresário e inventor nunca foi o melhor diplomata, mas tinha um poder de seduzir e convencer quem quer fosse, porque, simplesmente, acreditava piamente em suas ideias.
Steve Jobs
Steve Jobs e uma de suas frases: "Você tem de trabalhar duro para criar produtos simples"
Não tinha medo da morte. Encarava-a como mais um desafio, dentre tantos que enfrentou em vida. Mas, foram três os golpes duros que recebeu e que marcaram a sua personalidade: a difícil vida de criança adotada sem muitos recursos, a dispensa da Apple em 1985 e a descoberta do câncer de pâncreas em 1991. De todos os desafios, a doença determinou muito de seus passos, pois vivia cada instante de sua existência como se fosse o último. Talvez, por isso, não aceitasse se relacionar com pessoas sem disposição para a luta. Mas, no fundo, Jobs não poderia ser classificado como um otimista, pelo contrário: seu humor era ácido, encarava a vida com certo desdém e era fatalista em alguns momentos. Mas, em essência, foi um homem simples que preferia usar uma camisa de gola rolê e uma calça jeans surrada: “Um dos meus mantras é simplicidade. O simples pode ser mais difícil que o complexo. Você tem de trabalhar duro para criar produtos simples. Mas, ao final, vale a pena. Quando você chega lá consegue mover as montanhas.”
Fazendo uma pesquisa mais extensiva, procurei o significado do pâncreas dentro da medicina chinesa. Depois do fígado, é a glândula mais volumosa do organismo e sua função mista produz tanto enzimas digestivas quanto o hormônio da insulina, que é lançado para a corrente sangüínea. O desequilíbrio desse órgão relaciona-se à “dificuldade de se abrir à vida e às pessoas, dificultando o indivíduo extrair o melhor das situações, faltando-lhe alegria e disposição para viver”. De alguma forma, o órgão em desequilíbrio fala de desencanto, desilusão, decepção, pessimismo e excesso de críticas pessoais. Chegou a receber transplante de fígado devido à doença. Jobs, era realizado como empresário, nutria secretamente frustrações de não ter os pais e sentir-se incompreendido e rejeitado por algumas pessoas. Associava a ideia de ser amado em ter suas criações amadas. De alguma forma, não sabia lidar bem com a sua raiva e amarguras. Sofria silenciosamente. O tipo Rei de Espadas nunca transparecerá o que se passa com ele, não moverá um músculo do rosto se estiver triste. Dificilmente alguém saberá que está mal ou atravessando difícil fase.
Em agosto de 2011, decide se afastar das atividades da Apple, deixando outros projetos em andamento para lançamentos durante os cinco anos seguintes e em seu último discurso : “Sempre disse que se um dia não conseguisse mais realizar minhas tarefas de presidente da Apple seria o primeiro a avisá-los. Infelizmente, esse dia chegou.”
Em discurso aos formandos da turma de 2005 da Universidade Stanford, declara: “A morte é um destino que todos vamos enfrentar. Ninguém nunca escapou dela.”
No dia de seu falecimento, a direção da Apple disponibilizou um e-mail para receber condolências e homenagens ao falecido fundador da empresa, e publicou a seguinte nota: “A Apple perdeu um gênio criativo e visionário, e o mundo perdeu um ser humano incrível. Aqueles que tiveram a sorte de trabalhar com Steve perderam um querido amigo e mentor. Steve deixou para trás uma companhia que só ele poderia ter construído e seu espírito será sempre a base da Apple.” Jobs nunca perderá seu posto de rei. Um rei à altura de sua capacidade, inteligência e empreendedorismo que o alçaram a um patamar histórico, tornando-o um ícone eterno no campo das tecnologias.
 
Bibliografia:
BLUMENTHAL, Karen. Steve Jobs para jovens. O homem que pensava diferente. Editora Novo Século, São Paulo, 2012.
INFOESCOLA. Steve Jobs. Disponível em: http://www.infoescola.com/biografias/steve-jobs/
ISAACSON, Walter. Steve Jobs. Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2011.
VENTURA, Solange C. As doenças do ponto de vista da medicina chinesa. Disponível em: http://www.curaeascensao.com.br/curaquantica_arquivos/curaquantica24.html
 
outubro.12
Contato com o autor:
Giancarlo Kind Schmid: www.taroterapia.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
 
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
Publicidade Google
 
Todos os direitos reservados © 2005-2020 por Constantino K. Riemma  -  São Paulo, Brasil