Home page

25 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  Estudo sobre o método | A Cruz Celta  
Um pequeno estudo sobre o método no Tarô
Da importância de se adequar o método
à simbologia da Geometria Sagrada
  Rogério Novo  
 
    Este estudo começou em virtude da “provocação” do tarólogo Arierom Salik, numa discussão sobre o assunto, iniciada em agosto de 2007. E, em conversas, o tema foi ganhando corpo até chegar a este ponto. Tanto que a taróloga Luciene Ferreira, minha esposa, já nem agüenta mais discutir tanto o assunto comigo, já que o fazemos em regime integral.
    Aqueles que me conhecem sabem a importância que dou ao método escolhido para um jogo.
    Em minhas conversas sempre fiz um paralelo entre o método e uma fôrma. Se quero um pudim, vou escolher uma fôrma; caso queira um bolo, escolherei outra; para uma torta a escolha será diferente; e assim por diante.
    Outra analogia que podemos fazer, que chega a ser até mais “ilustrativa”, é com o de uma dança, um tango por exemplo. Temos os passos 1, 2, 3, 4, etc. Se se resolver dar primeiro o passo 3, depois o 2, a seguir o 1, etc., a dança “desanda” e teremos qualquer coisa, menos uma dança de tango!
    O mesmo se dá em relação à dúvida posta pelo consulente, pois terei de escolher o método mais adequado a “responder” a questão.  Não faria o menor sentido escolher,  por
exemplo, um Templo de Afrodite para uma pergunta financeira!
    Isso, entretanto, só se me apresentou importante após ler os escritos da trilogia do Nei Naiff. E como demorei a ter consciência disso!
    Vamos só relembrar o panorama do Tarô no Brasil, e, particularmente, em Belo Horizonte.
    Até 1970 eram desconhecidas obras, escritas ou traduzidas, que fizessem indicação de métodos de jogos. Como não contávamos com a Internet, esses métodos eram transmitidos oralmente dentro de círculos esotéricos nos quais o interessado na aprendizagem do Tarô resolvesse se integrar, ou em apostilas montadas por professores que se dispunham a partilhar seus conhecimentos, em troca de simbólicas retribuições pecuniárias. Os mais conhecidos eram os métodos do sim ou não (com uma carta
 
Leitura, gravura em www.tarocchiarcani.com
Leituras
www.tarocchiarcani.com
 
apenas, normalmente só dos arcanos maiores), o da cruz (uma variação do Péladan, sem a carta central), o passado, presente e futuro, e, em alguns casos, a cruz celta (como ensinada por Waite).
    A partir de 1970, em função do sucesso de algumas revistas esotéricas, a Editora Pensamento começa a lançar títulos específicos sobre o Tarô, que continham métodos de jogos.
    Os mais conhecidos são O Tarô de Marselha, de Carlos Godo (indicando 5 métodos); Taro adivinhatório (sic) – este livro, especificamente, teve sua primeira edição, no Brasil, no início do Séc. XX -, de autoria desconhecida, aparentemente uma tradução de Le Tarot divinatoire, de Papus – (com indicação de pelo menos 14 métodos); Tarô clássico, de Stuart Kaplan (7 métodos); Manual do Tarô, Hajo Banzhaf (com 12 métodos); e o tão difundido Tarô mitológico, de Sharman-Burke e Greene (que usa a cruz celta, também conhecida como dez cartas), lançado pela Siciliano.
    É digna de menção a advertência que Godo faz em seu livro, ao indicar o “Método Pessoal”: “Como instrução final, queremos acrescentar que os significados das cartas funcionam como 'pistas'. Assim, assume grande valor a capacidade intuitiva na leitura e na interpretação de cada carta. Convém, portanto, com a prática, desenvolver cada qual o seu próprio método de disposição e leitura das cartas, mantendo-o sem modificações posteriores. Essa é a forma mais eficiente de leitura.” Está aí, nesse “pensamento”, a origem de terem mandado pro sal a Geometria Sagrada.
O método como um símbolo
    Jana Riley, em seu Tarô: dicionário & compêndio, faz a seguinte assertiva: “o sistema de jogo é a forma como as cartas são ‘baixadas’ em um padrão ou arranjo determinado para que cada posição no arranjo tenha um sentido específico. Há disposições populares que são tipicamente associadas com o Tarô, tais como a Cruz Céltica e o Sistema Astrológico, e muitas outras encontradas em livros e em baralhos de Tarô. Quando se trabalha com as cartas regularmente, um tarólogo em geral acaba se familiarizando com, pelo menos, vários sistemas de jogo diferentes porque há certos sistemas de jogo que são mais talhados para questões específicas do que outros.
    Da mesma forma que o Tarô, um sistema de jogo é simbólico (g.n.). A definição de um símbolo é: ‘algo que representa ou sugere algo em virtude de seu relacionamento, associação, convenção ou semelhança acidental com alguma outra coisa’.
    O leitor consciencioso poderá notar que a definição de um símbolo é praticamente igual àquela do arquétipo e de uma correspondência. Um arquétipo também é um conteúdo inconsciente cuja natureza pode apenas ser suposta e é também uma representação de algo mais. O dicionário diz: ‘Um arquétipo é um protótipo, ou uma cópia do original.’
    O que parece básico é que tudo é aquilo que os cientistas vagamente, e um tanto desafortunadamente, se referem como energia, ou vibração. No Tarô, assume essa energia a forma de uma carta ou o movimento de um sistema de jogo, a maneira como observamos e interpretamos a energia que chamamos de símbolos do Tarô, ou a energia de algo, é sempre um caso coletivamente pessoal que, como disse Jung, ‘assume sua cor a partir da consciência individual na qual aparece’.
 
Tiragem de cartas, in www.stuartharrison.org
O Tarô em jogo
www. stuartharrison.org
      Quando jogamos o Tarô e atribuímos certos sentidos às cartas e às posições específicas em um sistema de jogo, estamos empregando o que chamamos de símbolos para sintonizar o inconsciente pessoal e coletivo. Por ser o Tarô composto por símbolos cosmogônicos, se o estudarmos e trabalharmos bastante, começaremos a ver que as cartas podem ser lidas com sucesso (ou sem sucesso) por alguém, não porque as cartas ou os leitores são necessariamente mais mágicos, psíquicos, enfeitiçados, proféticos (ou talvez tristemente não proféticos) do que qualquer outra coisa, mas porque, da mesma forma que os símbolos e os arquétipos, as cartas refletem as qualidades da energia presente e, portanto, englobam o
que quer que seja a realidade pessoal daquele indivíduo. E, uma vez que de fato não existe tempo-espaço — apenas o presente — o passado e o futuro podem também ser compreendidos. De acordo com o momento, caem as cartas. O que é verdadeiro na vida, e o que qualquer um vê e faz de um sistema de jogo de cartas, é o mesmo que se vê nas vacas, pedras, insetos, outras pessoas, e em toda a vida. Em outras palavras, a resposta não se encontra fora do problema, mas a resposta é o problema, ou a resposta está sempre clara se ao menos conseguíssemos enxergá-la.” (pág. 255/9)

     Apesar de muitos poderem discordar da afirmação da autora sobre o método de jogo ser simbólico, devemos reconhecer que todo método tem um “desenho geométrico”, representa uma “figura geométrica”. Chevalier e Gheerbrant, no conceituadíssimo Dicionário de Símbolos, da José Olympio Editora, sob o verbete “Geometria”, alegam que “as figuras geométricas (v. quadrado, círculo, cone, cruz, pirâmide, esfera, espiral, triângulo etc. São mais de 50.000) são pejadas de significação em todas as áreas culturais...” (g.a.), nos remetendo aos verbetes salientados por asteriscos, como por exemplo o “círculo”, para nos dizer que ele é o “segundo símbolo fundamental (de acordo com CHAS, 24), no grupo a que pertencem o centro, a cruz e o quadrado”. (g.n.).     Segundo os mesmos autores, o primeiro símbolo fundamental é o ponto.
    Da mesma forma são tratadas todas as demais formas geométricas: como símbolos!
    Notem que a própria Jana, a seguir à sua afirmação, já traz o significado de símbolo.
    E o que são os métodos, quando dispostos sobre a mesa, senão figuras geométricas? Se um método é uma figura geométrica (Cruz Celta – uma cruz, Estrela de Davi – dois triângulos entrelaçados, Tabuleiro – um quadrado, Mandala – um círculo, só para citar alguns métodos); e se uma figura geométrica é um símbolo; temos, por corolário, que um método é um símbolo!

A Geometria Sagrada
    Nas palavras de Naiff, em Tarô, vida & destino: estudos completos de Tarô, vol. 2, “A geometria, termo grego que significa "a medição da terra", é o instrumento fundamental que permeia e tece as bases de quase tudo o que é executado pelas mãos humanas (g.n.); contudo, não há absolutamente nada que não esteja fundamentado nessa ciência. Porém, a geometria a que estarei me referindo é anterior ao conceito puramente matemático que conhecemos atualmente, ela se projeta aos geômetras, os grandes sacerdotes‑arquitetos. Eles eram um misto de arquiteto, engenheiro, astrólogo, matemático, físico, astrônomo, numerólogo, filósofo; nem todo sacerdote era um geômetra, mas todo geômetra era um sacerdote! A geometria foi considerada sagrada desde a mais remota civilização de que se têm notícias até o século XVI em qualquer lugar do mundo. Ela está intimamente conectada ao axioma hermético: ‘O que está embaixo é como o que está em cima, e o que está em cima é como o que está embaixo, para fazer o milagre de uma única coisa’ ”. (pág. 221)

    No mesmo sentido: “A Geometria Sagrada é uma metáfora da ordenação do Universo: é o estudo das proporções, padrões, sistemas, códigos e símbolos que subjazem como eterna fonte da vida, da Matéria e do espírito. (g.n.)
    A Geometria Sagrada é a “aura” digital da criação. É o génesis de todas as formas. É um caminho para compreender quem somos, de onde viemos e onde estamos. É uma Ciência antiga, herdada através do antigo conhecimento hermético, egípcio e grego.
    Habitamos num Universo semiótico, é dizer, construído a partir de processos de significação.
    Elaboramos estes significados com base em códigos, estruturas, linguagens e símbolos.
    A natureza também tem a sua própria linguagem, a linguagem geométrica.
    A Geometria Sagrada é o código e o utilizar do alfabeto da Natureza que se encontra na Arte, na Arquitectura, no Desenho, na Ciência, na Física vanguardista, na Geomancia, na Música, na Cabala, nas Matemáticas, na Ciência de Implosão, no ADN, nas Reticulas terrestres, nas Cores, no nosso Coração, nos Animais, na Geologia, nas linguagens, na Flor da Vida.
    Em suma, a Geometria é a Ciência que estuda as proporções e as medidas da matéria, da Terra; e Sagrada tanto na sua relação como no princípio da auto-sustentação.” (in http://www.comunidade-espiritual.com/groups/?id=45&link=view_topic&topic_id=191&group_id=45)
     E essa definição de Geometria Sagrada é a mesma que se vai encontrar em qualquer lugar que se busque, quer seja em Pennick, em Lawlor, ou na fonte que se quiser beber.

Sobre os métodos
    Com a facilidade de aquisição de decks importados hoje em dia (quase todo mundo tem pelo menos um deles), e como todos vêm com um booklet, em que é ensinada como método
de tiragem, fundamentalmente, a Cruz Celta, que até o advento da trilogia do Nei era o método mais utilizado, vou começar por ela, que também é conhecida como a tiragem de dez cartas.
    Jana Riley, op.cit., faz o seguinte comentário: “O sistema de jogo em forma de Cruz Céltica é considerado o sistema mais antigo que se conhece. Ele resistiu ao teste do tempo e do espaço porque, como muitos outros símbolos ternários, sua forma e seu movimento são transpessoais. Há muitas variações da Cruz Céltica, mas não obstante a locução, um bom sistema de jogo em Cruz Céltica sempre mantém, dentro de sua forma e movimento, a capacidade de transcender as barreiras da consciência individual por meio da harmonia coletiva reconhecível da simetria.” Aliás, nesse mesmo sentido temos Juliete Sharman-Burke e Liz Greene, Hajo Banzhaf, Stuart Kaplan, Amy Zerner e Monte Farber e Irene Gad que o citam
 
O esquema de tiragem denominado "Cruz Celta"
Esquema da tiragem "Cruz celta"
Ilustração de Leca Novo
 
como “mais antigo e popular”, dentre outros que apenas o citam apenas como o “mais popular”.
    O livro mais antigo que encontrei, fazendo menção à “cruz celta”, é o The Pictorial Key to the Tarot, de Arthur Edward Waite, publicado em 1910, quando do lançamento do famoso Rider-Waite Tarot. Embora não a nomine como a conhecemos, tratando-a apenas como “um antigo método céltico de advinhação”, traz a mesma diagramação exposta no livro Tarô mitológico, ou seja, em forma de cruz! Nem circular, nem triangular, e nem quadrangular, mas em forma de cruz!
Belo Horizonte, 30 de maio de 2.009
Contato com o autor:
Rogério Novo - rabnovo@yahoo.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Para ler a continuação do texto de Rogério Novo clique link abaixo A Cruz Celta
  Estudo sobre o método | A Cruz Celta  
  Baralho Cigano
  Tarô Egípcio
  Quatro pilares
  Orientação
  O Momento
  I Ching
Publicidade Google
 
Todos os direitos reservados © 2005-2020 por Constantino K. Riemma  -  São Paulo, Brasil