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26 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


As riquezas do Petit Lenormand:
prosperidade e finanças nas cartas do baralho.
Emanuel J Santos
Em parceria no II Cartomancia, 2016, com
Patrícia Farias
Questões financeiras, econômicas e profissionais são a segunda maior preocupação dos clientes de cartomancia, perdendo, unicamente, para as questões relativas aos relacionamentos. Embora ambas as questões sejam abordadas em uma consulta cartomântica, percebo a diferença entre uma e outra na ordem em que o consulente pergunta.
A postura do consulente, portanto, é um dos principais elementos de análise. Não estou aqui propondo a leitura fria do consulente, muito pelo contrário. Em nossa função oracular, é fundamental que saibamos utilizar a linguagem correta para responder as perguntas. E um consulente que busca questões materiais antes das emocionais procura, antes de qualquer coisa, estratégias com as quais consiga lidar com o seu futuro próximo, algo diferente da abordagem utilizada normalmente para relacionamentos.
As questões sobre relacionamentos pedem um entendimento de três fatores, em especial; ilustrarei cada um deles com a Carta Tema correspondente do Petit Lenormand, nosso instrumento de trabalho nesse momento. O primeiro é o outro. Este é representado pela Carta Testemunha correspondente. O segundo são os próprios sentimentos, assim como os sentimentos do outro, representados pela carta 24, o Coração. E o terceiro corresponde à efetivação ou não do compromisso, representado pela carta 25, o Anel.
Cartas 254 e 25 do baralho Lenormand
 
Carta Tema é a carta utilizada, dentro de uma leitura, para representar o assunto abordado. Nesse sentido, a carta perde sua característica adjetivadora e passa a ser uma representação do cenário a ser analisado. Entenderemos melhor esse ponto quando abordarmos as cartas referentes à prosperidade, mais à frente.
 
Cartas 28 e 29 do baralho Lenormand
 
Carta Testemunha é a carta que representa o consulente, assim como a carta que representa seu par. Normalmente usamos 28 para consulentes do sexo masculino e 29 para consulentes do sexo feminino, embora hajam algumas imbricações que estão fora do escopo desse artigo. Confira a entrevista que concedi ao canal Sorte Lenormand, do YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=d43ZEoWjr0k&feature=youtu.be
 
Nesse sentido, as questões afetivas voltam-se para a relação do eu com o outro, sendo, mais que circunstanciais (ou seja, ligadas às ações do consulente e ao ambiente onde atua), relacionais. Há uma posição sine qua non do consulente em relação ao outro: sem ambos, não há relacionamento.
Isso não é um ponto fundamental nas questões relativas à vida material. Nesse sentido, vejo a dificuldade de alguns cartomantes em responderem questões sobre o assunto: pela prática, aprenderam a pesar a inter-relação entre o eu e o outro, e, dessa forma, ao responderem uma questão sobre afetividade, já proporem questões específicas condizentes com o panorama. As questões materiais pedem outro tipo de análise; voltar-se para o outro em uma leitura dessa natureza é perder uma parte substancial do que o oráculo oferece como aconselhamento. A leitura material é, essencialmente, uma leitura do eu.
Procedendo com a leitura
Particularmente, utilizo apenas dois métodos para a leitura do Petit Lenormand: a Mesa Real, que me oferece um panorama geral da vida do consulente, e a leitura de cinco cartas, para a resposta de questões específicas. Nesse sentido, temos duas abordagens possíveis para as cartas: a primeira, em relação ao conjunto de cartas sem questão especifica; a segunda, respondendo questões específicas. (Conf. www.agbook.com.br /book/133062--Conversas_Cartomanticas)
 
Não questiono, com isso, os usos específicos que outros cartomantes dão a uma quantidade considerável de outras formas de leitura. Entretanto, eu tenho por preferência o aprofundamento nas possibilidades dos jogos, e isso pede uma certa limitação na quantidade que abordo para obter meu intento.
Quando a leitura é panorâmica, atentamos para a posição da Carta Testemunha em relação às cartas 05. A Árvore e a 34. Os Peixes, para as questões materiais. A primeira falará sobre a prosperidade. A segunda, sobre as finanças. Como podemos ver, a primeira é dinâmica; a segunda, estática.
Cartas 5 e 34 do baralho Lenormand
Prosperidade é um evento dinâmico, expansivo, empolgante. Nos contos de fadas, os protagonistas vivem felizes para sempre – esse é o seu clímax, o seu máximo, e não estamos lá para saber o real fim da história (embora todos aqueles que já tenham se apaixonado saibam bem como termina). Na vida cotidiana, não existe felizes para sempre. Existe um momento, específico, no qual tudo está dando certo e temos a opção de usufruir enquanto podemos ou, o que é mais comum, trabalharmos pesado para que essa emoção, oriunda de circunstâncias externas, se mantenha. Isso pode gerar mais prosperidade, um fluxo contínuo, ou então uma agonia, uma frustração por não corresponder à altura daquilo que foi planejado.
Por outro lado, ter ou não ter dinheiro é uma questão estática. O dinheiro não deixa de existir porque não o ganhamos ou porque não o perdemos. Ele existe, é uma realidade e, por que não, uma necessidade. Mapearmos aonde ele está no jogo mostra-se uma forma de criarmos estratégias entre o momento em que se vive e a possibilidade que se delineia de o alcançarmos. É importante salientar que, embora importante para a prosperidade, só o dinheiro não representa prosperidade em si.
Quando as duas cartas saem juntas – Árvore e Peixes – o que temos não é um ganho substancial de dinheiro, mas sim o verdadeiro sentido de prosperidade: ter todas as necessidades básicas satisfeitas (incluindo a possibilidade de ser através de um ganho substancial de dinheiro). Casa, comida, transporte, educação, diversão, sono, saúde. A vida soa bela com isso. Mas, perceba: necessidades não são vontades e vontades estão ligadas ao desejo: queremos mais. Podemos mais. Merecemos mais. Dinâmico.
Em separado, precisamos entender o contexto que as separa, e, a partir das cartas que a rodeiam e dos aspectos que fazem com a Carta Testemunha, oferecer um primeiro olhar sobre a situação como um todo, tendo em mente que tudo o que vermos estará intrinsecamente ligados ao protagonista da história: o consulente.
Cartomancia e autoajuda
O vocabulário utilizado por um Cartomante diz muito sobre seu entendimento do assunto que aborda. Na verdade, um bom Cartomante não precisa ter rudimentos de todos os assuntos que emergem em uma leitura, porque isso, afinal, seria um conhecimento enciclopédico infindável. O que um bom Cartomante precisa é saber fazer as perguntas certas.
Nesse sentido, é bom dar uma olhada naqueles que oferecerem respostas “infalíveis” e “rápidas”. Os livros de autoajuda visam um retorno rápido a um padrão de consciência ideal dentro de uma área de espertise do escritor. Lendo esses livros, pude perceber que eles mantêm um padrão que tem muito em comum com as respostas que oferecemos numa consulta cartomântica. A diferença está na pergunta.
Poderíamos estruturar um livro de autoajuda da seguinte forma:
1. O problema. Normalmente já vem no título, direta ou inversamente exposto. O motivo pelo qual você deve adquirir aquele livro.
2. A situação. O autor introduz o assunto oferecendo um panorama da sua vida, seja seu currículo ou suas crises superadas.
3. As perspectivas. A partir de sua experiência elencada, o autor propõe uma série de atitudes com as quais o leitor poderá mudar de vida rápida e facilmente.
4. O resultado. O autor elenca uma série de clientes bem sucedidos ou o resultado do seu contracheque no fim do mês, propondo que o leitor tenha esse mesmo resultado se seguir suas dicas.
Agora, eu vou usar os mesmos tópicos para definir uma leitura com perguntas específicas:
1. O problema. O consulente procura o Cartomante com uma questão específica que o aflige. Esse é o motivo pelo qual a consulta deve ser feita.
2. A situação. O Cartomante identifica nas cartas, baseado em sua experiência e intuição, as possibilidades favoráveis e desfavoráveis correspondentes à situação que o consulente trouxe.
3. As perspectivas. O Cartomante efetua a previsão e o aconselhamento. Esclarece os pontos necessários para o consulente efetuar as mudanças que considera adequadas, pelo contexto geral do jogo.
4. O resultado. A consulta se efetiva na vida prática: o consulente vê os acontecimentos se confirmarem, ou, tomando as decisões conforme a orientação, percebe uma mudança substancial no panorama. O consulente retorna.
Não é meu interesse comparar o conteúdo de um livro de autoajuda à uma consulta a um bom Cartomante (pois, efetiva: é o mesmo que comparar o livro a uma consulta a um especialista financeiro. O que me importa é que percebamos que a estrutura é muito semelhante. O que falta ao Cartomante, e sobra no livro, é vocabulário.
Como disse anteriormente, um bom Cartomante não precisa ter conhecimento enciclopédico; entretanto, ele precisa saber como abordar as questões, pois toda a eficácia da Cartomancia reside na habilidade em elaborar as questões mais adequadas. No caso das questões relativas à prosperidade, o equívoco é focar no outro, seja uma pessoa ou um evento: o chefe (15. O Urso), o trabalho (26. O Livro), o cliente (as cartas da Corte), a promoção (19. A Torre), o cenário econômico (20. O Jardim); entretanto, todos esses são aspectos ciliares à questão da prosperidade.
Cartas 15, 26, 19 e 20 do baralho Lenormand
A Carta Tema para trabalho varia em função da escola que se siga. Há quem veja o trabalho em 32. A Lua, por sua equivalência conceitual com aspectos da casa X da mandala astrológica. Há também quem veja em 35. A Âncora, por sua característica estabilizadora. Particularmente, uso 26. Os Livros desde o início de minhas práticas e, portanto, confio em suas atribuições; mesmo testando outras abordagens, não achei um resultado tão efetivo nas respostas como tenho com 26.
Cartas 32, 35, 26 e 9 do baralho Lenormand
O estudo dos naipes é fundamental para minha prática pessoal com o Petit Lenormand. Temos poucos estudos coerentes no Brasil, haja vista que muitos ainda associam os naipes do Petit Lenormand aos naipes do Tarô e aos quatro elementos, propondo-lhes significados equivalentes. Em caso de dúvida na leitura dos clientes com a Corte, sugiro que utilize então o Ramalhete (09).
A prosperidade é um estado de espírito que permite ao indivíduo se satisfazer com o que tem. Reconhecer o que merece e lutar pelo que deseja. As pessoas prósperas normalmente soam como sortudas – e são mesmo! Quanto mais se alinham com aquilo que acreditam, mais prazer obtém em suas ações e mais efetividade em seus empreendimentos.
EMANUEL J SANTOS - Mestrando em Letras (UNINCOR), Licenciado e Bacharel
em História (UFOP), Técnico em Conservação e Restauro de Bens Culturais (FAOP),
cartomante e escritor de Cartomancia. Autor dos livros Conversas Cartomânticas,
Baralho Cigano: as cartas de Madame Lenormand
(co-autoria de Laura Tuan)
e Sibilla Della Zingara
(AGBook).
Responsável pelo blog www.conversascartomanticas.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 05/09/2016
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