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15 de outubro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Exemplo de tiragem
 
 
O passado, o presente e o futuro
Por
Dorian Martínez
    
    Vejamos a seguinte jogada, com três cartas, em que a primeira, à esquerda, representa o passado, a carta do meio representa o presente e, a da direita, o futuro.
       
     Passado: VIII. A Justiça
    A Justiça, número oito – perfeição –, mostra uma espada na sua mão direita (nossa esquerda), como que cortando delicadamente o passado. Ela nos olha diretamente nos olhos como que dizendo: “Se você quer saber seu passado, olhe seu presente. Se quiser saber seu futuro, olhe seu presente”. A Justiça remete à noção de perfeição e de eternidade: o tempo é perfeito porque não há nada a agregar-lhe e não há nada a tirar-lhe. Essa característica lhe outorga eternidade. Se o Arcano Oito falasse talvez dissesse: “Hoje é sempre; é neste instante que acontece toda a eternidade do universo; o futuro começou ontem”. A Justiça nos obriga a obedecer à lei, sendo a maior obediência converter-nos em nós mesmos. A pena máxima é expulsar-nos do presente. Em um sentido negativo, a perfeição da Justiça tende à paralisia, nela não é possível mudar nada, aquilo que lhe damos já o tinha e aquilo que lhe tiramos já não estava nela, isto pode levar-nos à rigidez, à inflexibilidade e ao estancamento, condenando-nos a esse repetir-se eternamente de tudo, de si mesmo a si mesmo. A repetição de pensamentos negativos, sentimentos doentes e atos venenosos nos expulsam do presente, que é o maior tesouro. A verdadeira generosidade em relação ao futuro consiste em ser generosos com o presente.
     Presente: X. Roda da Fortuna
    Na Roda de Fortuna, número dez – fim de um ciclo e inicio de outro –, tudo está imóvel, mas há uma manivela que faz girar a roda. No passado jaz um tesouro chamado experiência que nós podemos utilizar para fortalecer e elevar nosso próprio caráter. O estudo do passado não se limita a um mero conhecimento da história pessoal, familiar, social ou cultural, mas deve, através da aplicação desse conhecimento, procurar dar atualidade ao passado. Temos um grande desejo de avançar, mas antes de prosseguir temos que agir de acordo com o tempo, isto é, aceitar que tudo muda e que nada permanece. Atuar com sensatez é contemplar as formas existentes na sociedade humana e assim se pode estruturar O Mundo.
    A Justiça (VIII), nesta jogada, representa o centro imóvel da Roda de Fortuna. No centro da transformação incessante existe algo que nunca se transforma, permanente impermanência. O Arcano 10 está claramente orientado para o fechamento do passado e à espera do futuro. A mensagem da carta está clara: o principal fator de mudança, de vida, é a relação que temos com nosso centro, nossa essência (também chamada divindade interior) que é o ponto a partir do qual pode produzir-se a mudança. A mente humana é sempre autora e testemunha ao mesmo tempo de todas suas ações. No entanto, uma vez unidos na divindade, o autor e o espectador são o mesmo. O objetivo da humanidade, como sugere A Roda de Fortuna, é chegar nessa unidade. A Roda de Fortuna convida a refletir sobre as inevitáveis alternâncias de ascensão e de queda, de prosperidade e de austeridade, de alegria e de tristeza. Orienta-nos para a mudança, já seja positiva ou negativa, e para a aceitação da constante mutação da realidade. Em sentido negativo pode representar um bloqueio, negar-se passar a um novo ciclo de vida.   
     Nota:
    De nenhuma maneira estou disposto a ler hipotéticos futuros. Repugna-me a idéia do destino transportada pelo antigo teatro grego, essa superstição que "tudo está escrito" e ninguém pode escapar a sua sorte. Se desde que nascemos algum deus governa nossos passos, para que esforçar-nos em algo? Podemos considerar nossa uma vida fixada de antemão, inevitável, na qual só se nos permite padecê-la? Para encarar a leitura das cartas, tive que definir meu conceito de futuro... O consulente tem ou não tem uma finalidade na sua vida, age em relação com projetos, faz planos. Quando se inquieta por souber seu futuro é porque não avalia suas ações presentes, duvida. Mas o presente é um instante fugaz: o que tem peso no desenvolvimento do consulente é o passado, que pode atuar como um lastro que tende a repetir no futuro as experiências traumáticas da infância (me faço ou não me faço o que os outros me fizeram ou não me fizeram, lhes faço ou não lhes faço aos outros aquilo que me fizeram ou não me fizeram, repito o que os outros se fizeram ou não se fizeram), ou como uma fonte de energia que nos impulsiona a progredir, a mudar; no melhor dos casos, a transformar-nos.
     Futuro: XIII. O Arcano sem nome
    O XIII ou Arcano sem nome – explosão de toda a energia acumulada, revolução – tira a manivela e faz girar a roda (em referência ao Arcano X). A figura central é esse esqueleto segador que, na tradição popular, representa a morte. No entanto o Arcano XIII não tem nome. Esta carta convida a uma limpeza radical do passado, a uma "ré-evolução" que se situa nas profundidades não verbais ou pré-verbais do ser, na sombra desse terreno escuro, desse desconhecido por nós mesmos de onde emerge, como uma flor de lótus, nossa humanidade. Esta carta exige especial delicadeza interpretativa. As previsões negativas são tóxicas e inúteis: não é necessário ver nela a morte, a mutilação, a doença...
    Certos consulentes se assustam ao ver esta carta. Convém descobrir com eles que grande transformação ela evoca, que mudanças são desejadas ou já estão se produzindo e daí ver que ameaça nos permite evitar.
     Em suma
    O Arcano VIII, a Justiça, nos chama à unidade e ao equilíbrio (sua mão faz um gesto sagrado, um mudra, união, e a balança equilibra), enquanto que o Arcano X, a Roda da Fortuna, nos convida à compreensão (a unidade, representada por uma roda, compreende cada uma de suas partes) e o Arcano Sem Nome, XIII, nos sugere a possibilidade de transformação e a tomada de consciência da impermanencia.
    O verdadeiro equilíbrio consiste em aceitar a transformação. A mensagem final poderia ser: "dar-se a si-mesmo o que cada um merece (VIII)" e o Arcano XIII acrescenta: "com o risco de provocar uma revolução". Esta união nos indica que a única maneira de estar de acordo consigo mesmo é compreender-se e compreender ao outro, isto é: aceitar a transformação, tudo o que fica imóvel em nós nos causa dano. Se a pessoa está em perpétua transformação, está viva. Proceder de maneira correta em relação ao futuro é procurar dar alegria ao povo como a nós mesmos orientado-o de modo a evitar excessos. Além disso, é preciso estar isento de qualquer proposta egoísta, procurando verdadeiramente aliviar o sofrimento das massas. Só assim nós estaremos livres de motivos para arrepender-nos...
    Na Argentina, o jogador profissional no meio-campo, Daniel Alejandro Fernandez, escreveu: "O futuro está escrito... com lápis, e cada um tem sua borracha".
Contato com o autor
Dorian Martínez
- pirrureishon@hotmail.com
dez.07
 
 
 
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