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24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Cristina Britto e as previsões para 2008:
 
 
Sopram os ventos da mudança
Por
Cristina Britto
    A roda é uma das representações do círculo, mas difere da perfeição deste por se referir ao mundo do vir-a-ser, da criação contínua e do perecível. Símbolo solar na maioria das tradições, como os solstícios de verão e de inverno, a Roda da Lei do budismo, a Roda da Existência do budismo tibetano, a roda de fogo céltica, a roda cósmica dos druidas, a roda de Ezequiel, ela está presente em tantos textos sagrados, e é mostrada de modo belo e profundo no simbolismo chinês: o cubo é o Céu; a circunferência, a Terra; e o raio, o homem, mediador entre eles. É o zodíaco (etimologicamente, roda da vida) e o décimo arcano do Tarô.
 
La Roue de la Fortune
[Miniaturas em Hortus Deliciarum 
Herrade de Landsberg - séc. 12]
      Em um de seus significados mais conhecidos (destino), e até mesmo por sua denominação, o arcano regente do ano de 2008 representa, com mais fidelidade, o que faz as pessoas, em algum momento de suas vidas, irem à procura de videntes e adivinhos: afinal, o que a sorte nos reserva?
    A Roda da Fortuna brinca com aqueles que crêem apenas em acontecimentos fortuitos e em forças externas que regem o teatro da vida. Estes terão sorte (sem trocadilho) se perceberem que não devem se submeter aos desígnios da providência, mas acompanhá-los, adulá-los, modificá-los, ou seja, utilizar os atributos do Mago (10 = 1 + 0 = 1).
    A Roda da Fortuna é, simultaneamente, terrena e misteriosa, por remeter a uma ligação com forças externas ao homem: é a lei do retorno, base do carma. Uma imagem que exemplifica bem a mecânica do carma é o ato de jogar uma pedra na água, que forma vários círculos concêntricos a partir do local onde a pedra caiu. Mesmo quando não nos damos conta, nossas atitudes e até nossos pensamentos têm conseqüências, que podem escapar ao nosso controle e provocar outras situações. Por isso, carma é individual e coletivo. Segundo a filosofia rosa-cruz, é o próprio homem que produz carma, pela maneira como se comporta a partir de princípios físicos, morais e éticos, não sendo o carma, portanto, imposição de castigo divino, como afirmam algumas doutrinas.
    No Tarô egípcio, esta carta é intitulada Retribuição. Crowley denomina-a simplesmente Fortuna, e ele e Frieda Harris (que era egiptóloga) conceberam uma roda com dez raios e três figuras que representam deuses egípcios: esfinge, macaco e crocodilo. Segundo Gerd Ziegler, o macaco simboliza a flexibilidade; o crocodilo, a criatividade; e a esfinge é a soma das quatro virtudes mágicas: conhecimento, vontade, audácia e silêncio. A esfinge, ente meio-leão e meio-mulher, é encontrada na lenda grega de Édipo, tragédia que envolve poder, sexo e morte, posteriormente usada por Freud na elaboração da teoria psicanalítica.
    Na visão clássica do Tarô de Marselha, segundo Paul Marteau, vemos macaco (instinto), cão (inteligência) e esfinge (mistério), simbolizando que a evolução do homem depende de sua capacidade de encontrar as respostas para a vida ao enfrentar os infortúnios. Aqui a roda tem seis raios, relativos aos seis planos evolutivos: físico, animal, mental, causal, espiritual e divino. No Tarô mitológico, temos as três Moiras, ou Parcas (Clotos, a fiandeira; Láquesis, a medidora; e Átropos, a cortadora), que teciam o fio da vida do homem, fio este que não poderia ser desfeito por nenhum deus, nem mesmo Zeus. Nada poderia alterar o destino, aí incluídos a duração da vida e o momento da morte. Daí vem a noção de fatalidade, significando de sorte inevitável a acontecimento funesto, dos quais não se poderia fugir. Fatalidade que pode levar ao conformismo, se o indivíduo se acreditar mero joguete de forças externas a ele; ou à submissão aos propósitos divinos (deus dará...).  
Tarô de Marselha
[Nicolas Conver]
 
    A Roda da Fortuna é o ciclo da vida, a eterna mutação, o passado, o presente e o futuro: "O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima" (Hermes Trismegisto). Para Elizabeth Haich, este estágio é um novo começo em nível mais elevado, quando o Herói não avançará mais sozinho (O Eremita), mas começará a fazer parte do universo (O Mundo).
    O que esperar de 2008 então? Tudo menos tédio ou calmaria. Muitas mudanças, acontecimentos rápidos e inesperados, certa instabilidade, alguns reveses e reinícios. Será aconselhável também estar atento às oportunidades que surgirem, pois, às vezes, não temos uma segunda chance, pelo menos não tão boa quanto a primeira. Há que se aprender a seguir o fluxo da vida e não tentar forçar o movimento da Roda. Poderemos impulsionar as mudanças e favorecer o acaso, bastando para isso a disposição de acompanhar (e cortejar) a fortuna.    
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dez.07
 
 
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