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  | O cartomante | 
  
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    | Após uma ausência de muitos e muitos anos, dona  Zoé retornou ao seu torrão natal. Tanto tempo físico havia passado que ela até  perdera a conta. Do tempo emocional ela sempre se apercebera. Já o tempo mental,  que é o narrativo, procurava sempre registrar seus espirros de experiências  existenciais escrevendo livros, praticando uma espécie de protagem, quando  procurava colorir as impressões externas. O tempo representava para ela uma  cruciante realidade.  | 
  
  
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    | Embevecida em seus  pensamentos, lembrou-se de palavras lidas em Saramago: foi ontem, e é mesmo que  dizermos, foi há mil anos. O tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó. O  tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer  mover e aproximar. 
Suspirou fundo e continuou  imersa em suas elucubrações.  | 
  
  
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    | Ao chegar à cidade de  Nascentes, não ficou nem um pouco surpresa com as pequenas mudanças. Nada  mudara tanto. Das três ruas de que guardara na lembrança, surgiram mais três, perfazendo  um total de seis ruas principais, que cruzavam a pequena cidade, descendo e  subindo as ladeiras. A única novidade que chamou a sua atenção foi a  reconstrução do velho coreto, em frente à igreja matriz. | 
  
  
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                | Cidadezinha | 
              
              
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                | Pintura obtida em  Li & Cassy in Art -  www.elo7.com.br/cidadezinha/dp/12AF91  | 
              
              
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                | Na última rua a ser  visitada, sem que fosse reconhecida tal era o tempo de sua ausência, alguns  prédios novos faziam parte da paisagem. | 
              
  
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    | ─ Imaginem só! Prédios  novos de três andares! Isso era algo completamente inusitado e fora de  cogitação!  –  sussurrou dona Zoé. | 
  
  
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    A  igreja Matriz, reformada fez dona Zoé lamentar o mau gosto, pois seus traços  antigos foram modernizados com vitrais modernos simplesmente horrorosos. 
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    | ─ Parece que  regrediram! Que coisa! A velha matriarca florentina, fundadora de  Nascentes e responsável pela construção da Igreja Matriz, deveria estar se  revolvendo em seu túmulo secular – pensou dona Zoé | 
  
  
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    | No  entanto uma coisa estranha estava acontecendo com ela. Nada de emoções fortes. Nada  de saudades. Sentia apenas um certo mal estar, como se nunca tivesse  participado da vidinha dessa pequena cidade. De repente, não mais que de  repente, ao se deparar com a visão das serras ficou sem fala | 
  
  
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    | ─  O que houve com as Serras?  –  diz ela. | 
  
  
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    | ─ Por que estão tão  perto das casas? Não era assim. Não me lembro... | 
  
  
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    | Na  orografia da paisagem das montanhas, que todos chamavam de serras e que circundavam  a cidadezinha, como se fora uma meia lua, apresentava ao centro serras mais  altas. À medida que se estendiam para um abraço nas ruas laterais, iam se  abaixando até transformarem-se em pequenos morros. O que causou surpresa a dona  Zoé, fora a nítida sensação de que alcançaria as Serras estendendo simplesmente  as mãos. | 
  
  
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    | ─ O que aconteceu? Porque  não me lembro disso?  | 
  
  
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    | Tamanho era o seu  deslumbre ao ver as Serras de novo, lembrando-se do por do sol por detrás delas,  que não atinava para a realidade que a envolvia. Não foram as serras que  invadiram a cidade, mas sim, as casas recém construídas que caminharam ao seu  encontro, como se buscassem abrigo e segurança. Prova disso era a  visão da vegetação por entre as pedras, vistas com nitidez na abertura da pedra  de boca, de cor acinzentada e que outrora abrigara uma tribo de índios.  | 
  
  
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    | Sem saber explicar a  mudança e com uma sensação de pertencimento àquela paisagem, dona Zoé ficou por  alguns minutos calada, absorta em seus pensamentos enquanto contemplava as  Serras. De onde estava, na rua onde passara a sua infância, podia vislumbrar o  centro das Serras e um pouco das laterais... | 
  
  
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    | Aquela imagem  seguiria com ela para sempre.  | 
  
  
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    | ─ E só então!   – E sussurrou  baixinho  –   Que saudades das  Serras... | 
  
  
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    | Há  muito tempo atrás, nessa cidadezinha, pequena porém decente, vivera dona Zoé. Era  uma jovem romântica e sonhadora, como soer as moças interioranas. Isso, no  passado, é claro!... 
Havia se formado  recentemente como professora, única profissão disponível para as moçoilas  daquela época, e começara a lecionar no único grupo escolar aonde outrora fora  apresentada às primeiras letras.  | 
  
  
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    | Essas lembranças  foram se achegando enquanto dona Zoé voltava com o seu filho Petrúcio, dirigindo  o carro da família, voltando para a capital. Enquanto dormitava lembrava bem  daquela época. As lembranças afloraram sem controle, causando uma ansiedade há  muito esquecida. | 
  
  
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    | Lembrava que naquela  época estava se recuperando de uma grande paixão e lutava desesperadamente com  uma frustração insidiosa, beirando a depressão | 
  
  
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    | ─Zorilda! Zorilda! Você  sabe quem chegou?  | 
  
  
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    | Era sua velha amiga  Estela, que assim a chamava. | 
  
  
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    | ─ Que desadoro é esse,  mulher? Quem foi que chegou? | 
  
  
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    | E Estela numa  agitação sem fim, contou a novidade.  | 
  
  
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    | ─ Um circo, criatura,  um circo com um trailer só de ciganos!... Ciganos ricos, logo se notam pelos  colares das mulheres e suas vestes de seda da China, por sinal, belíssimos.  | 
  
  
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    | Os circos e também os  ciganos eram comuns na cidade, mas nunca juntos ou ricos. 
      Esses vinham em busca  de jogos de carteado, preferidos pelos fazendeiros locais, talvez cultivando  uma velha tradição trazida da Itália por seus antepassados florentinos: o jogo  de cartas ou de baralhos como era comumente conhecido.  | 
  
  
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    | Adentravam as noites  indo até de manhã, em volta da uma mesa forrada com um tapete persa, dentro ou  fora dos trailers, onde fluíam enormes quantias, inclusive a troca de jóias e  cavalos árabes por dinheiro. Era grande a expectativa dos fazendeiros pelos  jogos, o que isentavam os ciganos da perseguição da polícia pela acusação de  raptores de crianças, embora ninguém nunca tivesse visto tal coisa. | 
  
  
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    | ─ Ah, diz Zorilda, ciganos  cartomantes. Sei bem o que é. Não acredito em nada disso! São apenas sugestões  que seu inconsciente vai processar podendo até contabilizar alguns acertos. Nada  mais...  | 
  
  
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    | ─ Puxa! Estás mesmo  desiludida com tudo. Reage mulher! Isso vai passar. | 
  
  
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    | ─ Eu sei o que estou dizendo, Estela. A Cartomancia  era antigamente um ofício quase que exclusivo do povo cigano, pelo menos se  sabe que o baralho cigano ficou conhecido na corte francesa do século XVIII por  intermédio de madame Lenormand, com uma simbologia correspondente ao baralho  ordinário. Sendo a cartomancia um  ramo da simbolomancia, pode-se considerar um assunto sério, pois lida com as  energias da psique. A Cartomancia é a arte de prever o futuro através das  cartas. No inicio qualquer tipo de cartas servia para o ritual da adivinhação. A  referência documental mais antiga remota ao século XVI. No ano de 1678 foi citado  num dicionário chinês um oficial do Império chamado Huei Kong que inventara um  jogo de 32 tabletes de marfim com temas como o céu, terra, homem, sorte.  | 
  
  
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    | ─ Puxa! Tanta  erudição para nada. Não és capaz de lidar com teus sentimentos e superar as  adversidades – diz agastada, a amiga Estela.  | 
  
  
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    Zorilda soube disso  tudo através de suas leituras e das experiências com o convívio com os ciganos  que apareciam de vez em quando na cidade desde os tempos de criança. Inclusive  ela aprendera um pouco sobre o baralho cigano. Mas não acreditava em leitura de  mãos. Era muito para ela. 
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    | E as lembranças  surgiam incessantemente. | 
  
  
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    | A cidade de Nascentes  continuava exibindo o pôr do sol mais sensacional que ela já vira, quando aos  poucos ia definhando por detrás das serras, ficava-se sem fôlego, apreciando uma  profusão de raios amarelados, avermelhados, alaranjados, espargindo-se pelas  encostas afora, dependendo das estações do ano. | 
  
  
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    | O nome de Nascentes derivou-se  das numerosas nascentes que jorravam do interior das pedras por entre as fendas  das rochas. Água pura e mineral vinda do sítio da Goiabeira.  | 
  
  
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    | Essa era a cidade de  apenas três ruas principais na época de Zorilda: uma que subia, uma que descia e  a terceira que servia de bifurcação entre a Igreja, situada no centro da Praça  e as demais ruas. Diante da Igreja um coreto se erguia para dar lugar às bandas  de música que alegravam as festas do padroeiro da cidade. Com a passagem do  tempo o Coreto fora demolido. | 
  
  
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    | A fundação de  Nascentes remonta ao século XVII com a chegada de um grupo de descendentes da  nobreza florentina vinda da longínqua Itália. Ela, a cidade, é muita antiga na  verdade. Antiga também era a praga dos ciganos, proferida pela esposa do chefe  no seu sepultamento, juntamente com seu filho: “Cidade ingrata! Eu te amaldiçôo.  Nunca irás prosperar!... Anos se passarão... Todas as cidades ao teu redor  prosperarão. Tu ficarás estagnada no tempo e no espaço”. | 
  
  
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    | ─ Zorilda –  diz a  amiga –  lembro-me bem da praga dos ciganos. Esse povo realmente tem um poder  mágico. Até hoje Nascentes só vai para trás. A fábrica de queijo faliu. A de  fubá também. O cinema fechou. Os bares que tinham várias mesas de sinuca também.  Ficamos até sem padaria por um longo tempo. Os rapazes são obrigados a sair em  busca de empregos. Não há uma hospedaria para quem chega de visita. O Clube dos  Trinta, onde se realizavam os bailes, não existe mais.  | 
  
  
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    | ─ Tens razão, Estela,  relembrando a praga dos ciganos, sinto que é verdade que Nascentes parou no  tempo e no espaço desde as mortes do chefe cigano e de seu filho, causa da maldição  por parte da mulher dele. Mas o povo da cidade não teve culpa! O poste de  madeira caiu em meio a uma chuvarada e os fios que se enroscaram no pescoço do  pai e do filho que tentou ajudá-lo, causaram as mortes. Estavam montados em um  cavalo árabe quando aconteceu a tragédia, o que facilitou tudo.  | 
  
  
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    | E Zoé em sua imaginação  ativa, continuava a relembrar dos detalhes de sua infância e mocidade, sem  esquecer nenhum detalhe. | 
  
  
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    | ─ Pois sim. Segundo  os mais velhos até para salvar o cavalo de ser enterrado junto com eles foi  difícil. O fazendeiro teve que implorar quase de joelhos, além de oferecer uma  polpuda quantia em dinheiro – continuou Zorilda.  | 
  
  
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    | Conversando, as duas  amigas se dirigiram para o local onde o circo estava sendo armado, chamado pelos  moradores de os Coqueiros, por conta de um coqueiral que se organizou de forma  circular no terreno arenoso. Havia um projeto para se fazer uma pracinha, mas o  responsável apenas fizera um círculo cimentado rodeando o local, imitando um  calçadão e embolsara o restante da verba municipal. Uma mandala se formara com  os coqueiros no centro, rodeados pela calçada de cimento que o tempo iria se  encarregar de destruir. | 
  
  
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    | ─ Incrível! Agora que  sei o significado das coisas, revejo os fatos como um evento de sincronicidade.  Rochas, pedras em forma de elipses envolvendo a cidade ou melhor dizendo, uma  mandorla. Na praça dos Coqueiros vê-se nitidamente a forma circular –  murmurava  dona Zoé, sonolenta e mergulhada em suas lembranças. | 
  
  
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    | O carro zunia na  pista de asfalto, embalando as recordações, como se fora uma pano de fundo ou  uma sonoplastia. E dona Zoé continuava a sonhar acordada...  | 
  
  
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    | Existem mais duas  praças na cidade. Uma de forma ovalada e outra arredondada. Esta ficava em  frente à Igreja Mariz, construída pela matrona florentina fundadora da cidade, e  a outra praça, junto ao grupo escolar. A paisagem era de uma beleza sem par, tudo  emoldurado pelas serras que em noites de lua cheia dava a impressão de que, se  estendêssemos as mãos tocaríamos a lua e as estrelas. As folhas do coqueiral  farfalhavam com a chegada da brisa da noite, recebendo os raios enluarados que  permeavam por entre a folhagem.  | 
  
  
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    | Nascentes, quase sempre  vivia às escuras. Tempos bons aqueles. Nada  se sabia da vida. Nada se temia. Nada se fazia.  | 
  
  
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    | ─ Veja, Zorilda!  Que homem bonito e alto! Nossa! Ele vem em  nossa direção. Deve ser um cigano! | 
  
  
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    | ─ Deve ser...  | 
  
  
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    | Antes que Zorilda  pudesse responder, um cigano moreno de cabelos negros como as asas da graúna, olhos  negros iguais ao da canção russa e dentes brilhantes, se achegou e logo de  chofre dirigiu-se a ela.  | 
  
  
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    ─ Vamos entrar – diz  ele – estava à sua espera. 
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    | Zorilda sem fala, e  sem esboçar nenhuma reação o seguiu de perto, ante o olhar perplexo de Estela.  | 
  
  
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    | ─ Então... A moça  bonita veio me testar? Quer saber do destino. Está magoada e no momento  não confia em ninguém. | 
  
  
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    | ─ Não. Imagine! Não  sei o que dizer. Eu acredito.  | 
  
  
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    ─ Lembre-se do que  vou lhe dizer quando tudo acontecer – falou com rispidez, o cigano bonito. 
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    | E sem mais delongas  tirou um baralho de uma caixinha decorada com alguns símbolos: um círculo, uma  meia lua, uma cruz...  | 
  
  
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    | Mais tarde, já  refeita do susto, Zorilda procurou saber a interpretação dos símbolos: o círculo  seria a percepção total, a meia lua, transmissão de energia e a cruz a união do  masculino e feminino numa interpretação que não poderia ser a única, uma vez  que se tratava de símbolos. | 
  
  
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    | Em seguida, o cigano  pediu a data de nascimento dela. Não quis saber de nenhuma pergunta.  | 
  
  
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    | ─ Veja bem  – disse o  cigano sem titubear – você vai casar com o primeiro que aparecer. Vai ter 11  filhos se não se cuidar, porque vem de uma família muito fértil. Vai fazer uma  cirurgia séria e ficar entre a vida e morte do segundo filho. Sua vida só vai melhorar  depois dos quarenta anos. 
      Mas nunca lhe faltará  nada. O básico, é claro. | 
  
  
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    Zorilda sentindo-se agredida, talvez  pela fragilidade emocional do seu momento, diz bastante zangada: 
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    | ─ Não acredito numa  palavra do que estou ouvindo. Não vou ter nem o direito de escolher um marido: o  primeiro que aparecer!  Que Horror! Onze  filhos!  Poupe-me!  E melhorar de vida só depois dos quarenta  anos! Agradeço, mais assim, eu não quero!  | 
  
  
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    | ─ Não é questão de  querer ou não  – diz o bonito cigano  – tem que aceitar. É o seu destino. Gostaria  de estar aqui no dia do seu casamento, que não vai demorar e falar para você: eu  não lhe disse?  | 
  
  
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    | Zorilda, aturdida e  muito zangada, tenta retirar algo da carteira e sente uma mão sobre a sua:  | 
  
  
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    | ─ Não precisa pagar. É  uma cortesia – diz zombeteiramente o cigano bonito. | 
  
  
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    | Caminhando e pensando,  Zorilda se deu conta de que ficara muito perturbada com as palavras do cigano e  murmurava consigo mesmo: | 
  
  
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    | ─ Pelo que eu sei são  as ciganas que jogam as cartas. Mas o cigano parecia bastante sério.  | 
  
  
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    | Anos se passaram. As  Parcas continuaram com a tessitura da vida, representando o presente, o passado  e o futuro. Cloto, que está sempre no presente, responsável pelos altos e  baixos da nossa existência, é a primeira irmã. Laquesis, a segunda irmã, é a  distribuidora dos presentes que a vida nos oferece, permanecendo no passado. Restou-nos  a última irmã Átropos, a mais implacável delas. É o futuro em ação. Anotou  tudo que as outras duas ditaram e apenas cumpriu as suas determinações sem dó  nem piedade. | 
  
  
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    | Tudo isso com a nossa  participação. É claro!  | 
  
  
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    | Assim, os  acontecimentos foram se atropelando na vida de Zorilda. Ela realmente casou-se  um ano depois da leitura das cartas como o cigano predisse, com o primeiro que  apareceu.  | 
  
  
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    | Lembrou-se do cigano  no dia do casamento e ficou com a impressão de que ele estava rindo dela. Sentia  a presença dele o tempo todo. Na viagem de carro para a lua de mel, no anoitecer  de um dia frio de dezembro, um acontecimento insólito lhe fez lembrar o cigano  bonito. Na estrada, um homem vestido com um capote preto, deu com a mão e pediu  carona. Qual não foi o seu espanto quando ela verificou que ele se parecia com  o cigano bonito. Encolheu-se toda no banco do carro e ficou muda até chegar ao  destino do carona. | 
  
  
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    | Novamente o tempo caminhou lentamente e anos se  sucederam, enquanto a vida continuava com seus reveses. Na gravidez do segundo  filho – ao todo teve três filhos – a cirurgia  cesariana foi muito complicada. Por pouco, muito pouco mesmo, ela e a criança  não morreram. Ao nascer a criança pesou cinco quilos. | 
  
  
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    | Todo o restante  aconteceu exatamente como havia dito o Cigano bonito, anos atrás...  | 
  
  
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    | Ao chegar a essa parte  das lembranças, dona Zoé despertou para a vida e olhou enternecida para o seu  segundo filho, Petrúcio, que dirigia o carro, com destino à Capital.  | 
  
  
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    | ─ Acordou, Mãe? | 
  
  
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    junho.11  | 
  
  
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    Contato com a autora:
      Glória Marinho é historiadora e antropóloga formada pela UFPE.  
      Atende  pessoalmente, seguindo a linha junguiana:  glorieta@bol.com.br
      Outros trabalhos seus no  Clube do Tarô:  Autores  | 
  
  
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