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     | Era de Aquarius É preciso uma nova mentalidade para evoluir
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     | Quem  acompanha meus textos aqui no Clube do Tarô, sabe que costumo analisar letras  traduzidas de Heavy Metal. Por que faço isso? Primeiro por ser meu gênero  favorito de música e, depois, porque os autores costumam explorar temas que nos  fazem refletir sobre política e história mundial – são muito comuns as críticas  sociopolíticas –, mitologia, sobre nós mesmos, nossa espiritualidade e como  encaramos a existência ou não de outra vida após esta. Alquimia, Esoterismo, Fantasia,  Magia, Ocultismo e Tarô também são temas muito explorados pelos letristas. |  
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     | Geralmente  faço essas análises numa tentativa de explorar ao máximo a essência de cada  letra. É claro que posso deixar algo passar, pois além de não querer fazer uma  análise definitiva, o texto estará sempre aberto a novas perspectivas e  leituras. |  
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     | A  letra escolhida dessa vez é uma letra complexa, pois de acordo com algumas  análises que li, aborda momentos da política mundial e os relaciona com os  quatro Cavaleiros do Apocalipse. Porém para que não fique um texto muito longo,  me basearei apenas no livro do Apocalipse e no simbolismo de cada cavaleiro. |  
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     | Quando pensamos em religiões ou espiritualidade, vez ou outra, perguntamos para nós  mesmos e para os outros: algum dia nós alcançaremos a paz mundial tão desejada?  Será possível um diálogo interreligioso entre as principais lideranças? O  preconceito e as discriminações finalmente desaparecerão? Ainda podemos acreditar que a atual situação melhorará e realmente viremos como civilização, como sociedade organizada? As religiões têm devolvido para seus fiéis o “prêmio” de acordo com sua atuação assídua e sua fé inesgotável? Haverá de fato  uma terra prometida? |  
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     | Algumas dessas questões  podem ser vistas em uma composição que Bruce Dickinson e Roy Z construíram de  maneira crítica e coerente com o nosso tempo. Escrita em 1997, Darkside of Aquarius, parece ter sido  composta ontem levando em consideração a triste atualidade dos pontos aqui  levantados. Assim, para um maior entendimento da letra da música, proponho uma  análise como a que já fiz em outros artigos. Darkside of Aquarius pode ser vista como um contraponto de Nova Era, da banda de Power Metal Angra. |  
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     | Se Nova Era celebra a vida mostrando-nos que precisamos encontrar um  sentido para as nossas vidas, abrir nossas mentes para um novo modelo de  consciência encarando as dificuldades com coragem, de modo que nada possa nos  desanimar quando se trata de alcançar nossos objetivos, Darkside of Aquarius,  como o próprio título sugere, trata de uma época difícil e de escuridão.  Darkside of Aquarius é a 5ª canção do álbum Accident of Birth, 4º álbum de estúdio da carreira solo de Bruce  Dickinson, lançado em 1997. |  
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     | Capa do Album Accident of Birth (1997), de Bruce Dickinson, e a Banda na época do lançamento do álbum: Roy Z (guitarra), Bruce Dickinson (vocal),
 Adrian Smith (guitarra), David Ingraham (bateria) e Edddie Casillas (baixo).
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     | Os Cavaleiros estão chegando! |  
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     | Já  na primeira estrofe temos que “O primeiro cavaleiro do inferno chega, em asas  de fartura no escuro / Derrama seu veneno enquanto deixa sua marca / Os  fascistas do leste estão chegando, mães, escondam seus filhos”. |  
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     | O primeiro cavaleiro – que teria aparecido em um cavalo branco –, de acordo com o livro do Apocalipse seria o responsável por trazer a paz (representada pela cor branca), porém seria uma paz ilusória e disfarçada. Esse  cavaleiro teria o poder de conquistar. De acordo com a Bíblia, “a fonte do mal é a ambição de poder e de conquista (primeiro selo), que geram a guerra e a competição”, o que confirma a ideia da paz disfarçada, como podemos ver no trecho: “Vi então quando apareceu um cavalo branco. O cavaleiro tinha um arco, e deram para ele uma coroa / Ele partiu vitorioso para vencer ainda mais” (Ap 6, 2). |  
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     | Na segunda estrofe temos que “O segundo cavaleiro do inferno chega, de mares ardentes e areias escaldantes / O flautista toca a mando do inferno / Derrama  seu veneno, com suas promessas de terras prometidas / Enegrecendo as línguas  dos líderes mentirosos”. |  
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     | Imagem em https://unitedstatesprophecy.com |  
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     | No  livro do Apocalipse, o segundo cavaleiro teria aparecido em um cavalo vermelho,  como podemos ver na passagem: “Apareceu então outro cavalo, era vermelho. Seu  cavaleiro recebeu poder pra tirar da terra a paz, a fim de os homens se matarem  uns aos outros. E entregaram para ele uma grande espada” (Ap 6,4). Neste caso a  cor vermelha simboliza crueldade, carnificina, guerra, poder, egoísmo e ódio. |  
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     | O  verso “Aqui  vão os cavaleiros enquanto a roda do Dharma está fora de seu compasso / Aqui  vão os cavaleiros enquanto a roda do Dharma está fora de seu compasso”  é repetido para enfatizar que enquanto os cavaleiros passam, isto é, enquanto a  guerra e a competição ocorrem, a roda do Dharma sai de seu compasso, pois de acordo  com o Budismo, Dharma significa Lei Natural, Realidade, O Caminho para a  Verdade Superior, a própria roda da vida, que deve ser trilhado mediante a  difusão da paz, da harmonia, da perfeição e da libertação do sofrimento e da  ignorância. Neste verso, temos que a ideia de paz mundial e libertação da  tirania prescrita pelo Dharma dá lugar à guerra e à destruição. |  
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     | "O  triunfo da morte", pintura de Pieter Bruegel, representando a fome, a guerra, a peste e a morte mencionadas no Apocalipse.
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     | Na  terceira estrofe “O terceiro cavaleiro do inferno chega, ensinando irmãos a se  matarem / E o quarto cavaleiro aguarda com uma viagem ácida para um mundo ácido  / Guerras de velhos idiotas religiosos e homens supersticiosos / Jogue algumas  assustadoras cartas de Tarô e...”. |  
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     | No verso “E o quarto cavaleiro aguarda, com uma  viagem ácida para um mundo ácido”, “viagem ácida” e “mundo ácido” podem ser compreendidos como aquilo que corrói, magoa, fere, e  finalmente, destrói, como são os resultados obtidos por qualquer tipo de  guerra. Então, o quarto cavaleiro “espera”, isto é, apenas assiste a promessas  de paz e mudanças que nunca são concretizadas, como por exemplo, em relação às  religiões que ao invés de tentarem um caminho e um diálogo para a paz mundial,  dão espaço para a intolerância e o ódio entre as nações, como fica claro no  verso “Guerras  de velhos idiotas religiosos e homens supersticiosos”. |  
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     | Esse momento da letra  pode estar relacionado com a guerra travada entre os líderes religiosos e os  “supersticiosos”, pois há uma “batalha travada” entre os líderes das principais  igrejas dogmáticas contra os esotéricos que pregam o advento da Nova Era, isto  é, período marcado pela igualdade e desenvolvimento espiritual e intelectual,  pela fraternidade universal em oposição às religiões dogmáticas organizadas –  simbolizado pelo peixe. A Nova Era seria o “derramamento de água”, isto é, a  vinda de um novo “espírito”, uma nova “mentalidade”, simbolizados pelo aquário.  A Nova Era proporcionaria, ainda, à maioria dos seres humanos, a descoberta, a verdadeira vivência e o  real conhecimento dos ensinamentos cristãos mais profundos e interiores. Além disso, as cartas do Tarot podem funcionar como um alerta: A  Morte, O Diabo, A Torre (ou Guerra). |  
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     | Trunfos do Thoth-Crowley Tarot |  
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     | De acordo com O Livro  de Thoth, de Aleister Crowley (1944), a carta A Morte, como o próprio nome diz,  representa a mudança  inesperada, a dissolução, o fracasso, a morte propriamente dita. A carta O  Diabo está relacionada com a ruína, o fracasso, a violência, a falta de ética e  de princípios, enquanto que a carta A Torre – também chamada A Guerra –  prenuncia a adversidade, a miséria, a ruína, a destruição, o colapso. Assim,  podemos perceber que as características que essas cartas simbolizam estão  relacionadas com os conflitos religiosos e espirituais ainda muito presentes  entre as pessoas. |  
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     | Conforme o livro do Apocalipse, o terceiro cavaleiro teria aparecido em  um cavalo negro e o quarto cavaleiro  em um cavalo verde, como podemos ver nos trechos a  seguir: “[…] Apareceu então um cavalo negro. O cavaleiro tinha na mão uma  balança. Ouvi uma voz que vinha do meio dos quatro Seres Vivos e dizia: ‘Um  quilo de trigo por um dia de trabalho! Três quilos de cevada por um dia de  trabalho! Não danifiquem o óleo e o vinho!’ ” (Ap 6,5-6). “Vi aparecer um  cavalo esverdeado. Seu cavaleiro era a Morte. E vinha acompanhado com o mundo  dos mortos. Deram para ele poder sobre a quarta parte da terra, para que ele  matasse pela espada, pala fome, pela peste e pelas feras da terra” (Ap 6,8). |  
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     | "Os  Quatro Cavaleiros do Apocalipse" de Matthias Gerung |  
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     | Com a quarta estrofe “Aqui vão os cavaleiros, enquanto a roda do Dharma  está fora de seu compasso / Aqui vão os cavaleiros, enquanto a revolução está  seguindo a sua linha / O lado negro de Aquarius tem roubado nossas almas e  mentes / Aqui vão os cavaleiros, enquanto a roda do Dharma está fora de seu  compasso”, novamente temos a informação de que a roda do Dharma não está  “funcionando” direito, como explicado anteriormente, pois o  que impera na mente das pessoas é exatamente o lado negro de Aquarius (“O lado  negro de Aquarius tem roubado nossas almas e mentes”). Ou seja, a ideia de  igualdade, fraternidade e a possibilidade de uma vida com menos dificuldades e  problemas daria lugar à guerra, à destruição, à intolerância religiosa, e  finalmente, à morte. E não apenas à morte física, mas à morte espiritual, à  morte de sonhos, esperanças e da tão sonhada paz mundial. |  
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     | Na quinta  estrofe “Do céu iluminado, em um mar de prata / Um solitário surfista prateado,  chega para impulsionar a roda para mim / Um solitário surfista prateado, chega  para impulsionar a roda para mim” Roda do Dharma, ou seja, “a difusão  da paz, da harmonia, da perfeição e da libertação do sofrimento e da  ignorância”, como dissemos acima. No Dicionário de Símbolos, prata simboliza sabedoria  divina, boas intenções, purificação e uma consciência limpa, como a Roda do  Dharma sugere como devemos seguir nosso caminho. |  
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     | Representação  da Roda do Dharma |  
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     | Ilustração em https://espaco-nova-lua.pt |  
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     | É preciso girar  direito a Roda do Dharma! |  
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     | O verso “Tem que girar, tem que girar, tem que impulsionar esta roda  direito / Tem que girar, tem que girar, tem que impulsionar esta roda direito”  é repetido como se fosse um apelo, chamando a atenção de todos – aqui poderia  ser colocado o plural, isto é, todas as pessoas de todas as nações – para o fato  de que é preciso “impulsionar” e fazer “girar” direito a Roda do Dharma para  que os objetivos citados no parágrafo anterior possam ser, de fato, alcançados. |  
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     | Os versos seguintes “Tem que empurrar a roda do Dharma direito / Empurre  a roda do Dharma direito / Empurre a roda do Dharma direito / Empurre a roda  direito, direito agora, sim” nos transmitem, de forma insistente e necessária  no contexto da letra, as mesmas mensagens dos versos anteriores: é preciso  girar direito, de forma correta a Roda do Dharma. |  
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     | Na última estrofe, com os versos “Eu tenho que girar a roda do Dharma,  tenho que girar a roda do Dharma / Tem que girar a roda do Dharma, girar esta  roda direito / Tem que girar a roda do Dharma, tem que girar a roda do Dharma  agora”, o narrador deixa claro que ele precisa girar a Roda do Dharma – aqui ele se coloca como singular “Tenho que  girar a roda do Dharma” – pois o bom funcionamento da Roda também depende dele,  de forma individual, ou seja, é como se cada um fizesse a sua parte em  benefício do todo. E assim, o narrador termina com os versos “Tem que girar a  roda do Dharma, girar esta roda direito / Tem que girar a roda do Dharma, tem  que girar a roda do Dharma agora” nos lembrando de forma enfática, mais uma vez,  que precisamos girar direito a Roda do Dharma. A hora é agora! 
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     | Podemos, ainda, traçar um paralelo entre os versos das três últimas  estrofes com a abertura do sexto selo do Apocalipse e o Dharma, pois no livro de  São João, houve um clamor da parte de todos, “os reis da terra, os magnatas, os  capitães, os ricos e os poderosos, todos, escravos e homens livres,  esconderam-se nas cavernas e rochedos das montanhas, clamando aos montes e  pedras: ‘Desmoronem por cima de nós, e nos escondam da Face daquele que está no  trono, e da ira do Cordeiro. Pois chegou o grande Dia de sua ira. E quem poderá  ficar de pé?’” (Ap 6, 15-17). Como o livro do Apocalipse trata do julgamento do  homem e de sua salvação, entendemos que esse clamor ocorreu porque, de acordo  com o livro, a história do homem foi marcada pelo mal, que se traduziu na busca  pelo poder, resultando em guerras, fome, doenças e finalmente a morte,  acontecimentos estes que podem ser vistos como o resultado de mal “funcionamento”  da Roda do Dharma. |  
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     | Então, para que o lado negro de Aquarius não se manifeste e para que  possamos evoluir espiritualmente, alcançar a paz e a harmonia de que tanto  falamos e ouvimos falar, podemos dizer que a coisa mais acertada a fazer, como  dizem insistentemente os autores da letra, é girar direito a Roda do Dharma! |  
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             | Referências: |  
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             | BÍBLIA  SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Paulinas, 1990. |  
             |  |  
             | CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: mitos, costumes, gestos, formas, figuras,  cores, números. 24ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009 (verbetes: vermelho e prata). |  
             |  |  
             | CROWLEY, Aleister. O livro de Thoth: um curto ensaio sobre  o tarô dos egípcios. 1944. Arquivo em PDF. |  
             |  |  
             | http://forum.hangarnet.com.br/index.php?showtopic=24856.  Acesso em 01/05/2017. |  
             |  |  
             | https://pt.wikipedia.org/wiki/Darma.  Acesso em 27/05/2017. |  
             |  |  
             | https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_de_Aquarius.  Acesso em 02/05/2017. |  
             |  |  
             | https://pt.wikipedia.org/wiki/New_age.  Acesso em 01/05/2017. |  
             |  |  
             | https://www.letras.mus.br/bruce-dickinson/10810/traducao.html.  Acesso em 27/05/17. |  |  |  
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