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29 de março de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Símbolos de cura
Giancarlo Kind Schmid
  O símbolo é a linguagem do inconsciente. É a melhor forma de expressar um conteúdo psíquico, manifestando codificadamente múltiplas informações e indicações através de nossa alma. Externamente o encontramos nas diversas narrativas míticas, na arte, nas crenças, etc.; internamente, manifesta-se através do vasto campo onírico, na imaginação viva de cada um, enfim, ele pulsa em nós e é importante caminho de ligação e interpretação do ser humano a partir do  seu complexo mecanismo psíquico.  


A linguagem-mãe da humanidade é a simbólica. Com o passar dos séculos, o homem foi desconectando-se mais e mais de seus símbolos originais, tornando-se um ser essencialmente racional e lógico, provocando assim uma dissipação dos seus conteúdos inconscientes mais ricos, separando-o de sua real natureza, levando a humanidade à uma crise por novos valores simbólicos, trazendo sérias implicações para o autoconhecimento, fazendo o homem sentir-se só no universo. Os fenômenos naturais perderam lentamente suas implicações simbólicas, segundo Jung: "O trovão deixou de ser a voz de um deus zangado, e o raio, o seu projétil vingador. Nenhum rio possui um espírito, nenhuma árvore é o princípio vital do homem, nenhuma cobra é a corporificação da sabedoria, nenhuma caverna na montanha é a casa de um grande demônio. Pedras, plantas e animais já não têm vozes para falar ao homem, nem o homem fala com eles acreditando que possam ouvi-lo. Seu contato com a natureza partiu, e com ele partiu também a profunda energia emocional que sua simbólica conexão produzia" (O Homem e Seus Símbolos - Jung e colaboradores).

Neste início de século há um emergente renascimento e reencontro do homem com seus símbolos ancestrais (podemos notar na moda, no cinema, na literatura, etc.). Uma coisa é certa: o homem precisa relacionar-se a nível anímico com estruturas simbólicas, pois, do contrário, muitas psicopatologias criarão cada vez mais espaço no cenário humano.

Mas, como podemos entender a relação entre o símbolo e a cura psicológica do homem? Em primeiro lugar, vamos entender que o símbolo supre e alimenta a estreita ligação entre consciente e inconsciente; sinaliza o caminho a ser percorrido, é o recurso fundamental para se chegar ao âmago da cura interior. Podemos citar, por exemplo, que se um homem não sonhasse, certamente ficaria louco; o símbolo "salta" do inconsciente, feito um "jato de vapor que sai de uma panela de pressão", trazendo consigo alegoricamente, fortes cargas emocionais, impressões, aspectos densos da psique. A seguir, se analisarmos como um símbolo imprime forte impacto e revelação na mente humana, entenderemos que ele também pode desequilibrar um dado indivíduo, ao invés de curá-lo ( é lógico, que essa reação é muito particular), se associado a dada situação traumática ou mesmo ao despertar a força de um complexo.

Como pudemos notar, a função do símbolo não é só expressar conteúdos inconscientes; antes de tudo, ele é um regulador psíquico de grande valor, ferramenta indispensável para o caminho da individuação.

Os símbolos de cura são aqueles que proporcionam uma religação do consciente com o inconsciente, são a chave para a interpretação de um bloqueio e um estímulo para a psique se organizar novamente. Qualquer símbolo pode ser curador, desde que intervenha no processo individual psíquico e revele à pessoa informações necessárias à autocompreensão. O uso do símbolo para cura é administrado terapeuticamente, através, por exemplo, do exercício de visualizações (como no caso da meditação com mandalas) ou direcionado por um terapeuta utilizando gravuras, fazendo uma série de perguntas para o cliente, indagando-o em relação aos sentimentos manifestados. Temos também a oniroterapia, e mesmo a técnica com o tarô, utilizando-se das lâminas para orientar o cliente na sua jornada interior, tendo em mãos símbolos primordiais que podem suprir lacunas psíquicas e ajudar no caminho da individuação. Os símbolos de cura não são novidade: as antigas culturas como a grega, egípcia, indiana, dentre outras, cultivavam através de seus símbolos uma vivência feita através de antigos ritos, mobilizando a coletividade para a busca do sagrado interior, tão distante nos dias de hoje. É importante colocar que sabemos mais de simbolismo do que qualquer geração anterior à nossa. Mas, em outros tempos, "os homens não refletiam sobre seus símbolos; eles os viviam e eram inconscientemente animados por seu significado" (O Homem e Seus Símbolos - Carl G. Jung). As religiões, ainda hoje, mantém na sua ritualística uma simbólica de cura, tão avidamente procurada por nossa civilização; esse é um dos motivos principais da busca religiosa desenfreada deste milênio.

A força que está por trás do símbolo está aquém de nossa compreensão. A capacidade curadora se apóia na ilimitada expressão de sua forma e na qualidade de seu conteúdo para abrir caminhos no emaranhado psíquico, tal como o fio de Ariadne, ajudando Teseu a livrar-se do labirinto e enfrentar o Minotauro.


Bibliografia:

ALLEAU, René. A Ciência dos Símbolos. Edições 70 (Lisboa), 1982.

CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos (Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). São Paulo: José Olympio Editora, 1990, 3ª edição.

EGO - GUIA DO COMPORTAMENTO HUMANO, Abril Cultural, 1975, volume 1, páginas 41 a 44.

JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

 
23/11/2009 02:49:58

Comentários

Betty Fontes - 26/11/2009 15:02:02
Giancarlo, muito interessante e sintético o seu artigo. gostaria de acrescentar que no "processo de individuação", para Jung nao existe individuar. Ao se lidar com símbolos é necessário que a psique em questao "faça" alguma coisa com isto: escrever o sonho e buscar relações com a vida cotidiana, pintar o símbolo, dançar, cantar, contar para alguém receptivo etc. Faço-me entender? o símbolo terá a sua funçao curativa quando for feito algo com ele na consciência.
Muito grata pela oportunidade de reflexão.
Betty Fontes

Giancarlo Kind Schmid - 26/11/2009 19:06:31
Oi Betty,
Obrigado pelo seu gentil comentário e apontamento corretivo.
Sim, você está certa ao afirmar que não existe o "individuar". É que, em nossa língua, às vezes faltam as palavras adequadas (exatas) para ilustrar ou dar exemplos, pequei pelo uso indevido do termo, mas deu para entender o que eu quis dizer, certo? A sua complementação sobre a atuação do símbolo como recurso curador na psique foi perfeita. Todo e qualquer símbolo que exercer um papel reorganizador, será potencialmente "de cura".
Abraços!

maria apparecida souza e silva - 26/11/2009 21:10:05
Imagino que o Giancarlo lê os comentários. Também é claro que acredito nos símbolos. Há algum tempo tenho estudado e pensado sobre nossa bandeira. O círculo é criador por excelência, então porquê ele ainda não criou nossa "ordem e progresso"?
Eu mesma

Giancarlo Kind Schmid - 27/11/2009 11:02:47
Oi Maria Aparecida,
Obrigado pelos seus comentários.
Pode ter certeza que leio todos que aqui postam e tenho o maior prazer em responder.
Bem, sem querer corrigir-lhe, não seria muito apropriado dizer que "precisamos acreditar nos símbolos". Não é uma questão de crença, mas de identificação, correspondência, sintonia. O símbolo que nos atrai revela o que vai em nosso íntimo e normalmente é o sinalizador da qualidade de nossa vida interior (psíquica). Por exemplo, os sonhos refletem muitos de nossos anseios, desejos, motivações. Não precisamos crer nos sonhos para que eles possam nos dar recados (mesmo que subjetivos). Assim como a arte nos fala à alma, sem precisarmos afirmar o que de fato ela nos transmite.
Bom, quanto ao círculo, é bem complexo explorar por essa área de postagem a questão do seu significado. Só para facilitar o diálogo, é o triângulo um símbolo geométrico que indica criação. Em todas as culturas, a trindade representa a manifestação, o círculo evoca totalidade (contém a criação), perfeição, e normalmente figura a divindade. O que acontece, é que os símbolos precisam ser combinados especialmente dentro de uma significação, um sentido (mais ou menos o que os antigos magistas faziam ao traçar seus pantáculos para invocação). O fato de nossa bandeira ter o círculo, sem um contexto simbólico delineado, não evocará seu significado original, por si só o símbolo não se revela se não houver uma intenção por trás dele. Por exemplo, a nota de um dólar americana é cheia de simbolismo, porque quem a desenvolveu, conhecia os significados e combinações das figuras (eram maçons) e visavam a prosperidade e proteção para o povo. Agora, colocar um símbolo num lugar sem uma intenção direta, não assegura nada. Eu até acho, particularmente, que o lema da nossa bandeira deveria ser: "ordem É progresso". O que falta ao nosso país é ordem, seriedade, logo, vemos o que vemos. Acho que seu comentário ficou cortado, se puder completar depois, eu agradecerei. Abraços!

Zoe de Camaris - 27/11/2009 11:24:22
Oi Gian,

Gostei do seu artigo. Mas gostaria de ver mais imagens dos símbolos de cura. Talvez você pudesse expandi-lo, tratando de alguns símbolos em especial, esse assunto é muito interessante. Quanto à observação da Maria Aparecida me ocorre que ORDEM e PROGRESSO (pensando agora na força das palavras) não convivem. Difícil existir verdadeiro progresso na ordem, pelo menos num primeiro momento... E o contrário tbm parece ser verdadeiro. Abraços, Zoe.

Giancarlo Kind Schmid - 27/11/2009 15:16:04
Oi Zoe,
Legal te ler por aqui.
Procurarei tratar do assunto de forma mais profunda mais à frente. Na verdade, não existem símbolos de cura especiais, pois todo e qualquer pode ser utilizado para esse fim se estiver gerando uma reestruturação psíquica. Penso que os mandalas são naturalmente curadores, devido à sua harmônica expressão imagética e a que destinam-se (meditação). Alguns símbolos utilizados na radiônica também cumprem esse papel (cura).
Quanto ao lema de nossa bandeira, exige uma reflexão filosófica. Eu que sou meio saturnino (devido ao meu mapa), não consigo dissociar a ordem do progresso. Até já foi dito que no aparente caos do universo, há uma sutil organização. O estudo dos fractais é um bom exemplo. Não penso nos termos "ordem e progresso" como elementos de referência humana; a ordem e o progresso estão acima da conceituação comum, pois podemos interpretá-los apenas pelo senso comum e creio que isso limite a dimensão de seus significados.
Abraços!

Flavio Alberori - 27/11/2009 16:36:25
Um belo texto. Trabalho há muito com símbolos e seus significados, relacionados ao tarô. Você expõe de uma maneira completa que me preenche muitas lacunas. Gosto da frase:
"Os símbolos de cura são aqueles que proporcionam uma religação do consciente com o inconsciente, são a chave para a interpretação de um bloqueio e um estímulo para a psique se organizar novamente". Mas, mais que "ferramenta indispensável para o caminho da individuação", para mim é um verdadeiro portal para o supraconsciente. Um sensível caminho natural do arcano 21 ao 22.

Grato,

Alberoni

Giancarlo Kind Schmid - 27/11/2009 22:57:08
Oi Alberoni,
Fiquei muito satisfeito com as suas observações, tenha a certeza que a sua exposição vem completar (somar) àquilo que eu compreendo como natureza simbólica. Obrigado, mais uma vez!
Abraços!

Luzia de menezes leal - 28/05/2010 16:59:04
Luzia Leal.
Estou estudando símbolos,estou tendo oportunidade de acrecenta-los em trabalhos de arteterapia;muito interessante seu artigo.Obrigada pela oportunidade.

atencisamente Luzia

Giancarlo Kind Schmid - 28/05/2010 23:49:43
Oi Luzia,
Fico imensamente feliz quando encontro pessoas, como você, realizando trabalhos desse tipo, tenho certeza que muitas pessoas serão beneficiadas. Obrigado!

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