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24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Dramas afetivos e vícios oraculares
(o tarô ajuda ou atrapalha a vida sentimental?)
Giancarlo Kind Schmid
  Ao longo desses 13 anos que venho freqüentando a rede através de variados fóruns, listas virtuais, Orkut e dezenas de comunidades, vim observando a insistente procura pelo tarô (e outros oráculos) para questões predominantemente afetivas. Se não fosse o fato dessa procura aumentar com a oportunidade de oferecimento de leituras gratuitas e interpretações variadas (devido ao enorme número de participantes – muitos desses curiosos, inexperientes, estudantes e agitadores – que se valem da rede para “profissionalização” da prática), diria que o interesse pelas leituras abertas existe pelo simples fato de estarem à mão sempre que é preciso, gerando até uma certa irresponsabilidade proveniente da exposição de assuntos íntimos e desrespeito para com os praticantes que procuram defender a seriedade da profissão.
 


Amor... um tema sempre delicado. Seria inocência de minha parte negar que a procura ao tarô seja em sua maioria para outro assunto qualquer. Sim, o âmbito financeiro e profissional tem sua importância, mas no fim das contas, todos querem saber como anda a sua relação ou se encontrará a sua “metade da laranja”. Esse é um comportamento inerente ao ser humano, basta ver que, ao longo da História, os romances destronaram reis e sucumbiram até impérios. Em alguns casos, até delegaram poderes a uns e glórias a outros. Mas, hoje, em pleno século XXI, estamos diante dos mesmos dilemas amorosos que movem homens e mulheres de toda a Terra. O que talvez ainda não aprendemos inteiramente, é como fazer do tarô (e outro oráculo) um meio que auxilie o(a) consulente a crescer emocional e psicologicamente, de forma a não se sujeitar a erros que repetem-se insistentemente levando-o a fazer do oráculo uma “muleta” e não “uma ponte para a superação pessoal”.

 O primeiro e maior erro de uma grande maioria de tarólogos é apenas responder o “arroz com feijão” nas questões amorosas; perguntas do tipo “ele(a) me ama?”, “ele(a) tem atração por mim”, “a relação vai dar certo?”, “Fulano(a) ou Beltrano(a) é minha alma gêmea?”, “o que a pessoa está pensando sobre mim?”, dentre outras perguntinhas básicas que movimentam as redes internet afora, representam apenas tentativas (muitas vezes frustradas) de buscar o amor sem saber como fazê-lo. A premissa fundamental acaba ficando de fora, quando apenas são respondidas as questões com jogos do tipo “sim ou não”: o(a) próprio(a) consulente. O foco exclusivamente no outro é um erro crasso, pois  o referido (centro de interesse do consulente) não participa da leitura, não pode argumentar, discutir, questionar ou se defender das observações de quem nos procura, muitas vezes equivocadas, já que se tratam de impressões muito particulares recheadas de projeções e vicissitudes (experiências afetivas de outrora).

Quando, numa leitura, focamos no objeto de desejo do(a) consulente ou somente na relação, estamos tirando a responsabilidade do consulente em aprender a lidar com as próprias falhas e limitações. Muito bem, todos tem o direito de amar, desejar, se apaixonar, mas tais expressões sentimentais encobrem recalques e inseguranças capazes de transformar o mais caloroso romance num “inferno de Dante”. Total covardia de nossa parte acusar o(a) parceiro(a) de quem atendemos do fracasso do relacionamento, como se quiséssemos poupar o nosso cliente de críticas ou advertências, uma vez que ele nos paga e tememos perdê-lo para “outro profissional cheio de firulas interpretativas”.

Enquanto não colocarmos o(a) consulente no centro da questão, conscientizando-o(a) de seu papel e influência no drama afetivo que vive, manteremos quem nos procura permanentemente em estado infantilizado, cuja incompetência de conduzir uma boa relação dará lugar a respostas pouco racionais de nossa parte, do tipo “você não é feliz afetivamente porque é carma, por isso não encontra ninguém à altura”. Pontuação simplista que alivia nosso lado (já que nos livramos do “peso” do problema) acomodando o cliente diante de sua dificuldade.

É impressionante o número de consulentes que saem de um provável romance e já estão na semana seguinte visando outro, sem dar tempo para reconhecerem onde ocorreram as falhas. Daí, as comunidades  virtuais “fervem” com historinhas contadas das mais variadas formas, muitas delas com aquela velha desculpa que “a minha vizinha, ou irmã, ou amiga, ou colega de trabalho está interessada num cara e quer saber se a relação dará certo?”; ora, quando a situação chega a esse pé, é sinal que a pessoa já está tão viciada na consulta oracular que é capaz até de modificar a pergunta para a mesmíssima questão, só para assegurar que a resposta anterior “calhará” com a nova obtida. Quando não, temos internautas que espalham as mesmas questões em dezenas de comunidades diferentes ( para “tirar a prova dos nove”) e no final, condecorarão o(a) "tarólogo(a)"  - “puxando-lhe o saco” - que lhe dirá exatamente o que queriam ouvir (ou ler). Conclusão: as relações acabam novamente fracassando, os mesmos internautas voltam às comunidades em busca de novas respostas e o ciclo vicioso se completando com novas leituras superficiais oferecidas pelos  mesmos curiosos, inexperientes, estudantes e agitadores (raríssimos casos, profissionais sérios – porque quem é sério, não vai se prestar a isso). Resultado: alguns "tarólogos" com ego inflado, porém, consulentes altamente desiludidos.

Volto a frisar que o tarô deve ser um instrumento para educar e orientar e não realizar previsões vãs. As cartomantes vivem cheias de clientes pelas mesmíssimas razões e, se por acaso algo dá errado, é o tarô ou outro método de previsão que será maculado, pois o cartomante da esquina continuará a atrair novos incautos. Não estou desmerecendo o esforço de praticantes sérios e responsáveis, mas está mais do que na hora de tornarmos os nossos consulentes pessoas conscientes de seus atos, escolhas, posturas ou limitações, competindo a nós, tarólogos, prepararmos o indivíduo em sua escalada de vida. Precisamos urgentemente substituir as batidas questões do tipo “ele me ama?” por outras mais salutares psicologicamente falando, tais como: “você acredita no amor? o que está fazendo para merecê-lo?”, “do que tem medo e te deixa inseguro(a) na relação?”, “que trauma, perda ou crise levou-o(a) a dificultar suas atuais relações?”, “como você se vê, sente-se atraente?”, “por que atrai o mesmo tipo de pessoa?”, “por que as relações acabam não dando certo, em que está contribuindo para tal?” dentre outras dezenas de perguntas que aqui poderia levantar. Podemos até responder as questões ditas básicas (sobre a outra pessoa e futuro do romance), mas antes, a prioridade é trabalhar o(a) consulente em sua dinâmica afetiva.

Atenção tarólogo(a): pare com essa tendência de supervalorizar a relação ou o(a) parceiro(a) do(a) consulente! A grande sacada é primeiro orientar a pessoa em suas dificuldades e não prometer “romances duradouros ou términos súbitos” sem dar condições ao indivíduo de se transformar. Paremos, pois, de alimentar questões amorosas repetitivas na rede, pois isso não é inteligente e não o(a) torna um(a) profissional renomado(a)!

Para refletir: "quer tornar o mundo um lugar melhor? Ajude a tornar as pessoas melhores."
 
25/07/2010 15:58:32

Comentários

Maria Elisa Fernandes - 27/07/2010 21:13:57
Adorei o puxão de orelha duplo: aos consulentes e aos "tarólogos" que querem agradar e manter os coitados dependentes a vida toda...
e olha que foi puxão de orellha com toda a elegância e delicadeza!!!!
Parabéns.

Giancarlo Kind Schmid - 27/07/2010 21:42:01
Oi Maria Elisa,
Obrigado pelos seus comentários! Tenho uma preocupação enorme em não "ferir" nenhum dos lados, ao mesmo em que é necessário ser direto e franco no trato do assunto, para que não sucitem dúvidas. Abraços!

Renata Monteiro - 28/07/2010 09:09:07
Caro Giancarlo,
Muito boas as colocações de seu texto.
Seja por imaturidade psicológica, seja por imaturidade espiritual, como subutilizamos o tarô e outras formas oraculares, não é mesmo ? A grande mudança é a gente poder olhar nossa vida menos sob a perspectiva dos anseios do nosso ego e do nosso proprio umbigo, e investirmos mais na nossa evolução e refinamento pessoais. O tarô é de muita valia neste aspecto.
A grande questão é que é exatamente na vida amorosa (Freud explica...) onde nos revelamos mais infantis e imaturos. Isso é essencialmente humano, penso eu. Grande abraço!

Giancarlo Kind Schmid - 28/07/2010 12:12:00

Oi Renata,
Obrigado pelas suas observações. Infelizmente, o tarô (e outros oráculos) ainda são utilizados de forma muito superficial, quase como um "joguinho de brincar com o futuro". O que ganhamos com isso? Entupir o consulente com previsões sem dar-lhe condições de trabalhar-se, é pura ignorância. Não é mais possível desvincular o aspecto oracular do autoconhecimento. Sim, o ego, esse "anão metido a gigante" intromete-se toda hora, e fazemos dos oráculo não fonte de conhecimento e sim, de autopromoção. O tarólogo (e outro oraculista) necessita ter consciência que tem em mãos um poderosa ferramenta de transformação psíquica; como utilizá-la, tudo dependerá do preparo e maturidade do praticante. No "frigir dos ovos" uma grande maioria ainda não compreendeu que "melhorar o mundo, se inicia com a nossa própria melhoria e a do próximo". De nada adianta reclamarmos dos seres humanos, se não estivermos fazendo a nossa parte. É como naqueles casos, por exemplo, em que lamentamos as sujeiras nas ruas, mas somos incapazes de jogar um simples papel de bala na lixeira, arremessando-o sem pudor ao chão.
O amoroso, digamos, em 90% dos casos, é atrativo para que uma gama de praticantes que se autodenominam "tarólogos" (ou outro "ólogo" qualquer) alcancem alguma fama, pois tratam do assunto de forma elementar,sem profundidade, realçando questões relativas à relação ou ao(à) parceiro(a) - ou pretendente - sem focar no próprio consulente que, na maioria das vezes, é o neurótico do caso. É romântico encobrir falhas com "lentes de cor de rosa", falando de prováveis e intensos envolvimentos e as conhecidas "almas gêmeas". Enquanto assim continuar, o tarô será relegado ao campo da "banalidade adivinhatória", mantendo os embaraçados consulentes em permanente inconsciência e profunda infelicidade. Penso que a felicidade (se é que ela existe de fato, tal como afirmam por aí), não vem separada da sabedoria. Ser feliz, em qual área que for, depende-se de viver sabiamente.

takako - 28/07/2010 14:45:55
muito obrigada, exelente sua avaliação!
nada como aprendermos mais sobre sí mesmo.
e assumirmos a responsabilidade q cabe a cada uma das partes!
não é a toa q pessoas procuram por orientações e nem sempre encontram uma com visão tão madura quanto a sua.
e isso possa ser um passo para a responsabilidade pessoal d cada um.


marjorie - 29/07/2010 19:13:49
concordo plenamente com vc.
Primeiro há que se conhecer, para depois conhecer o próximo, saber se ele(a) quer ou não "ficar", casar, etc...
Sera este então o motivo, do qual eu perguntei algo que para minha consulente ´ésério e obtive uma única resposta?(na comunidade do taro..)
Sendo que outras questões, geralmente, brigas de marido mulher, amores que vem e vão, são sempre respondidas?Todos sabemos qual o tamanho do nosso aperto, certo?Mas falar é fácil, difícil é aprender e colocar em prática..Vc não acha?
Abraços.



Giancarlo Kind Schmid - 30/07/2010 00:27:56
Oi Takako,
Não existe superação da dor sem o autoconhecimento, não é mesmo? Agradeço seus gentis comentários!
Abraços!


Giancarlo Kind Schmid - 30/07/2010 00:50:30
Oi Marjorie,
O grande problema é o comodismo humano. Poucos querem crescer, é mais fácil manter-se em estado de ilusão e fazer do tarô uma prática para alimentar fantasias; então, a coisa se transforma naquelas famosas conversas de comadre, de porta de cabeleireiro ou salão de beleza: "conheci um cara que é um tesão, tô amarradona nele, quero saber aonde isso vai dar...". As pessoas adoram "vender e comprar ilusões", para quê fazer força? Afinal de contas é mais fácil viver em clima romântico de novela das oito (no amor e na dor) do que procurar uma solução para seus dilemas. O que vemos por aí não se tratam de leituras tarológicas e sim, "fofocas tarológicas". Refletir é um talento que poucos sabem se utilizar. Depois alguns vêm reclamar que não encontram a pessoa certa... é claro! Viver no "parquinho de diversões amoroso" é mais popularesco. Por isso sua questão foi respondida por uma única pessoa. Poucos têm competência de responder algo além do "a relação vai durar?", "o cara vai topar namoro?", "o cara vai reatar?". Preste bem atenção: quem normalmente topa esse tipo de coisa (responder tais questões), ou está profundamente infeliz afetivamente, ou desesperado por causa de solidão prolongada, ou ainda sofre (ou sofreu) alguma rejeição ou fica "pulando de galho em galho" sem conseguir encontrar a pessoa ideal. Depois alguns(mas) consulentes reclamam que foram enganado(a)s, manipulado(a)s, traído(a)s... cada um acaba tendo o que merece (a ignorância - digo, inconsciência - é o primeiro passo para abertura de tais situações). E vai-se continuando a usar o tarô como um "ópio" para as próprias desilusões amorosas. Fazer o quê? E o que é pior: muitos que comentam, orientam e dão sugestões nestas questões, são pessoas ainda mais complicadas afetivamente. É um ciclo vicioso onde "cegos guiam cegos". Lastimável! Mas, um dia as pessoas crescem. Creio que futuramente muitos entenderão o que eu afirmei no texto acima. Sem qualquer prepotência.
Abraços!

Regina - 30/07/2010 05:15:33
Ahhh...que bom se todo tarólogo, agisse com essa preocupação!! Sim, porque na verdade o tarot é um meio de autoconhecimento, e o estudioso dele, muitas vezes é visto como um adivinho!!! Claro, que todo consulente quer uma resposta mais fácil, e favorável, mas isso não é o tarot. É...tomar as rédeas da própria vida e ser responsável por lidar com seus percalços, é uma tarefa que nem todos querem pra si...

Eliane - 30/07/2010 09:05:08
Parabéns Giancarlo !!!
Simplesmente fantástico !!!

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