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07 de maio de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Dramas afetivos e vícios oraculares
(o tarô ajuda ou atrapalha a vida sentimental?)
Giancarlo Kind Schmid
  Ao longo desses 13 anos que venho freqüentando a rede através de variados fóruns, listas virtuais, Orkut e dezenas de comunidades, vim observando a insistente procura pelo tarô (e outros oráculos) para questões predominantemente afetivas. Se não fosse o fato dessa procura aumentar com a oportunidade de oferecimento de leituras gratuitas e interpretações variadas (devido ao enorme número de participantes – muitos desses curiosos, inexperientes, estudantes e agitadores – que se valem da rede para “profissionalização” da prática), diria que o interesse pelas leituras abertas existe pelo simples fato de estarem à mão sempre que é preciso, gerando até uma certa irresponsabilidade proveniente da exposição de assuntos íntimos e desrespeito para com os praticantes que procuram defender a seriedade da profissão.
 


Amor... um tema sempre delicado. Seria inocência de minha parte negar que a procura ao tarô seja em sua maioria para outro assunto qualquer. Sim, o âmbito financeiro e profissional tem sua importância, mas no fim das contas, todos querem saber como anda a sua relação ou se encontrará a sua “metade da laranja”. Esse é um comportamento inerente ao ser humano, basta ver que, ao longo da História, os romances destronaram reis e sucumbiram até impérios. Em alguns casos, até delegaram poderes a uns e glórias a outros. Mas, hoje, em pleno século XXI, estamos diante dos mesmos dilemas amorosos que movem homens e mulheres de toda a Terra. O que talvez ainda não aprendemos inteiramente, é como fazer do tarô (e outro oráculo) um meio que auxilie o(a) consulente a crescer emocional e psicologicamente, de forma a não se sujeitar a erros que repetem-se insistentemente levando-o a fazer do oráculo uma “muleta” e não “uma ponte para a superação pessoal”.

 O primeiro e maior erro de uma grande maioria de tarólogos é apenas responder o “arroz com feijão” nas questões amorosas; perguntas do tipo “ele(a) me ama?”, “ele(a) tem atração por mim”, “a relação vai dar certo?”, “Fulano(a) ou Beltrano(a) é minha alma gêmea?”, “o que a pessoa está pensando sobre mim?”, dentre outras perguntinhas básicas que movimentam as redes internet afora, representam apenas tentativas (muitas vezes frustradas) de buscar o amor sem saber como fazê-lo. A premissa fundamental acaba ficando de fora, quando apenas são respondidas as questões com jogos do tipo “sim ou não”: o(a) próprio(a) consulente. O foco exclusivamente no outro é um erro crasso, pois  o referido (centro de interesse do consulente) não participa da leitura, não pode argumentar, discutir, questionar ou se defender das observações de quem nos procura, muitas vezes equivocadas, já que se tratam de impressões muito particulares recheadas de projeções e vicissitudes (experiências afetivas de outrora).

Quando, numa leitura, focamos no objeto de desejo do(a) consulente ou somente na relação, estamos tirando a responsabilidade do consulente em aprender a lidar com as próprias falhas e limitações. Muito bem, todos tem o direito de amar, desejar, se apaixonar, mas tais expressões sentimentais encobrem recalques e inseguranças capazes de transformar o mais caloroso romance num “inferno de Dante”. Total covardia de nossa parte acusar o(a) parceiro(a) de quem atendemos do fracasso do relacionamento, como se quiséssemos poupar o nosso cliente de críticas ou advertências, uma vez que ele nos paga e tememos perdê-lo para “outro profissional cheio de firulas interpretativas”.

Enquanto não colocarmos o(a) consulente no centro da questão, conscientizando-o(a) de seu papel e influência no drama afetivo que vive, manteremos quem nos procura permanentemente em estado infantilizado, cuja incompetência de conduzir uma boa relação dará lugar a respostas pouco racionais de nossa parte, do tipo “você não é feliz afetivamente porque é carma, por isso não encontra ninguém à altura”. Pontuação simplista que alivia nosso lado (já que nos livramos do “peso” do problema) acomodando o cliente diante de sua dificuldade.

É impressionante o número de consulentes que saem de um provável romance e já estão na semana seguinte visando outro, sem dar tempo para reconhecerem onde ocorreram as falhas. Daí, as comunidades  virtuais “fervem” com historinhas contadas das mais variadas formas, muitas delas com aquela velha desculpa que “a minha vizinha, ou irmã, ou amiga, ou colega de trabalho está interessada num cara e quer saber se a relação dará certo?”; ora, quando a situação chega a esse pé, é sinal que a pessoa já está tão viciada na consulta oracular que é capaz até de modificar a pergunta para a mesmíssima questão, só para assegurar que a resposta anterior “calhará” com a nova obtida. Quando não, temos internautas que espalham as mesmas questões em dezenas de comunidades diferentes ( para “tirar a prova dos nove”) e no final, condecorarão o(a) "tarólogo(a)"  - “puxando-lhe o saco” - que lhe dirá exatamente o que queriam ouvir (ou ler). Conclusão: as relações acabam novamente fracassando, os mesmos internautas voltam às comunidades em busca de novas respostas e o ciclo vicioso se completando com novas leituras superficiais oferecidas pelos  mesmos curiosos, inexperientes, estudantes e agitadores (raríssimos casos, profissionais sérios – porque quem é sério, não vai se prestar a isso). Resultado: alguns "tarólogos" com ego inflado, porém, consulentes altamente desiludidos.

Volto a frisar que o tarô deve ser um instrumento para educar e orientar e não realizar previsões vãs. As cartomantes vivem cheias de clientes pelas mesmíssimas razões e, se por acaso algo dá errado, é o tarô ou outro método de previsão que será maculado, pois o cartomante da esquina continuará a atrair novos incautos. Não estou desmerecendo o esforço de praticantes sérios e responsáveis, mas está mais do que na hora de tornarmos os nossos consulentes pessoas conscientes de seus atos, escolhas, posturas ou limitações, competindo a nós, tarólogos, prepararmos o indivíduo em sua escalada de vida. Precisamos urgentemente substituir as batidas questões do tipo “ele me ama?” por outras mais salutares psicologicamente falando, tais como: “você acredita no amor? o que está fazendo para merecê-lo?”, “do que tem medo e te deixa inseguro(a) na relação?”, “que trauma, perda ou crise levou-o(a) a dificultar suas atuais relações?”, “como você se vê, sente-se atraente?”, “por que atrai o mesmo tipo de pessoa?”, “por que as relações acabam não dando certo, em que está contribuindo para tal?” dentre outras dezenas de perguntas que aqui poderia levantar. Podemos até responder as questões ditas básicas (sobre a outra pessoa e futuro do romance), mas antes, a prioridade é trabalhar o(a) consulente em sua dinâmica afetiva.

Atenção tarólogo(a): pare com essa tendência de supervalorizar a relação ou o(a) parceiro(a) do(a) consulente! A grande sacada é primeiro orientar a pessoa em suas dificuldades e não prometer “romances duradouros ou términos súbitos” sem dar condições ao indivíduo de se transformar. Paremos, pois, de alimentar questões amorosas repetitivas na rede, pois isso não é inteligente e não o(a) torna um(a) profissional renomado(a)!

Para refletir: "quer tornar o mundo um lugar melhor? Ajude a tornar as pessoas melhores."
 
25/07/2010 15:58:32

Comentários

Izabel Donalisio - 04/08/2010 10:34:39
Oi Giancarlo, gostei muito das suas colocações, principalmente na ênfase sobre o educar e orientar. E isso muitas vezes significa olhar para as partes mais doloridas, as raízes dos padrões repetitivos. Um mestre zen dizia: " que bom uma desilusão, uma ilusão a menos". Mas mesmo assim, a responsabilidade da leitura é um tema amplo, sinto que as pessoas que tem procurado por uma leitura vêm por um esclarecimento mais profundo ou ao menos sentem-se felizes quando encontram essa possibilidade. Mas a curiosidade pelas previsões amorosas é algo tão natural e corriqueiro ...que fazer!? minha opção foi não toma-las a sério, e as vezes, até me arriscar em um palpite desses, mas realmente, me pergunto, é possível alcançar na leitura, não na clarividência, uma ´previsão assim detalhada, tipo de pessoa, idade, quando vai aparecer, detalhes do destino. Bem que gostaria de chegar nessa especificidade das mensagens oraculares, é possível? Mas, se o grande oráculo de Delphos devolveu a bola :" Conhece-te a ti mesmo". Não deve ser sabendo o que vai acontecer o melhor caminho mesmo, né?
Obrigada a todos vocês. Adoro o clube do tarô.

Giancarlo Kind Schmid - 04/08/2010 11:52:52
Oi Izabel,
Seja bem vinda e obrigado pelos comentários.
Sim, o Templo de Delfos já havia "cantado a pedra" há mais de 2.000 anos e nem assim conseguimos entender a importância dessa máxima também socrática. O ser humano deixa-se seduzir pelo que é fácil e imagético, é uma verdade, mas se não houver quem os faça despertar, muitos continuarão mantendo-se em um "profundo sono interior". O caminho não é tão fácil e, no entanto, também não é impossível, tudo requer compromisso consigo mesmo. A curiosidade também faz parte da natureza humana, mas o tarô não deve se prestar a "joguinhos de salão" para saciar meras dúvidas que, na maioria das vezes, são vazias. A facilidade com que as pessoas acessam o tarô banalizam-no de tal forma, que mesmo os profissionais que se prestam a um trabalho sério, acabam atingidos. E, também, como diz o ditado: "a curiosidade matou o gato" - quantas pessoas, de fato, que fazem do tarô uma "muleta emocional" conseguiram resolver seus problemas afetivos? Se estas pessoas tivessem, de fato, conseguido suplantar seus dramas, não estariam espalhando continuamente suas postagens comunidades afora (as pessoas insistem porque seus problemas permanecem). Como eu afirmei, se a grande maioria deseja continuar a agir de tal forma, nada posso fazer, consciência é artigo de luxo. Pelo menos, o que cabe à minha parte no que refere-se a alertar e chamar a atenção, estou fazendo, penso que um dia as pessoas crescerão psicologicamente e entenderão o recado.
Quanto a detalhar a pessoa num futuro relacionamento, isso cabe à capacidade parapsíquica do praticante e não ao tarô. Esse último poderá até fornecer pistas, mas dar nomes, características físicas definidas, idade e tudo mais, compete ao aspecto de vidência do indivíduo. Precisamos sempre separar uma coisa da outra, o tarô não confere poderes a ninguém, apenas permite acesso a conteúdos que normalmente estariam "invisíveis" ao olhar racional.
Abraço!

Izabel Donalisio - 04/08/2010 13:37:35
Oi Giancarlo, obrigada pela resposta.
Entendi claramente e me identifico bastante com sua visão.
Obrigada também pelo esclarecimento sobre a clarividência, há sempre um certo fantasma no ar do que se espera de uma taróloga e me sinto feliz de poder fortalecer o profundo sentido da leitura de tarô nas tiragens que venho realizando, sempre com o propósito de orientação psicoespiritual.
Um abraço também!


Giancarlo Kind Schmid - 04/08/2010 19:45:43
Oi Izabel,
Sou eu quem agradeço sua visita e gentileza em retornar-me.
Até breve!

Lucia - 06/08/2010 09:51:28
Olá Giancarlo! parabéns pela sua colocação, concordo com tudo o que você falou.
Porém, tenho que ressaltar uma coisa, por mais que nós, tarólogos tenhamos consciência disso, o consulente geralmente não tem. E mesmo que a gente tente focar a consulta NELE, o que fatalmente ocorre é do consulente querer focar no OUTRO, é como se a parte do autoconhecimento não importasse, e sim, somente, o que o outro vai fazer, pensar, sentir.
Complicado, pois, para quem vive do tarot (meu caso), nem sempre dá pra conduzir a consulta para o autoconhecimento, e se você se nega a fazer a leitura dentro do que o cliente espera (perguntar as mesmas coisas sempre, falar só do outro, e não querer descobrir os seus erros), fatalmente o cliente não volta pra você, e vai procurar a cartomante da esquina que traz o amor em 7 dias.
Então, infelizmente, muitas vezes, o que eu constato é isso, que o tarot atualmente é procurado não para saber onde SE esta errando, mas sim, saber sobre o OUTRO.

Abraços!

Giancarlo Kind Schmid - 09/08/2010 01:08:31
Olá Lucia,
Agradeço sua visita e comentários!
O grande erro normalmente é deixar que o consulente conduza a consulta. Se somos nós, os profissionais, cabe a nós esclarecer algumas coisas para quem atendemos, pois muitos tem uma ideia confusa e distorcida sobre o tarô e sua função. O profissional não pode deixar que o consulente decida o que deve ou não deve acontecer na consulta; imagine no caso de um médico, se o cliente decidisse o que tomar, quando tomar e como realizar o tratamente, uma vez que desconhece o seu problema? O "arroz com feijão" é o que muitos fazem, mas será que isso ajuda o consulente? Falar de um grande amor, prometer romances, ou prognosticar separações é fácil. O lance é saber o que cada pessoa que nos procura aprende com determinadas experiências. Se não soubermos educar nosso cliente, ficará sempre no "basicão" e apenas alimentaremos seus vícios amorosos, nada diferente de quem mantém um viciado à base de drogas. O outro é outro, não é o foco do atendimento, mas quem nos procura. Como afirmei, não rejeito falar de um romance ou futuro do relacionamento, conquanto o consulente entenda seu papel na coisa.
Agora, numa coisa você está tremendamente equivocada: afirmar que, se não focarmos no OUTRO, achar que o consulente não vai voltar. Esse é o discurso típico de quem é inseguro e não confia no próprio taco. Se a pessoa não retornar, o problema é dela, fiz a minha parte.
Para ter uma ideia, tenho 23 anos de atividade, vivo somente do tarô e minha cartela de clientes cresce a cada mês. Atendo pessoas do Brasil todo, presencial ou on line (você não verá propagandas minhas por aí, apenas de quem gosta do meu atendimento). E, meu foco sempre foi (e será) no consulente, pois é ele quem precisa se resolver. Portanto, desencana e começa a refletir sobre isso. Se "o autoconhecimento é a única evolução" (como afirma Nei Naiff), está mais do que na hora de nos prestarmos a agir coerentemente com a frase e não apenas admirá-la. Reflita.
Abraço!

Flavio Alberoni - 13/08/2010 20:48:51
Muito lúcido este artigo do Gian. Muito bom mesmo.
Mas, a sua reflexão ... Não temos de passar por nós mesmo antes de ajudar os outros? Boa parte de um problema é que nós podemos ter o mesmo problema.
Ajudar os outros é realmente muito difícil. Ou, como se chegar ao Arcano 7 sem passar pelo 16?
Muito grato Gian, sua abordagem nos dá luz num tema muito complicado!

Alberoni

Vania Plaza - 14/08/2010 10:49:19
Adorei suas colocações, até opor que vão de encontro ao que eu penso, porém não conseguiriaa traduzir tão brilhantemente em palavras.
Por outro lado, apesar de ser isso o que penso, admito ter tendências de não querer ver o consulente decepcionado ou magoado e tomo muito cuidado com o que vou dizer.
Esse comentário seu me clareou sobre algumas falhas que cometo, sem nem perceber.
Obrigada
Vania Plaza

Juliana - 15/08/2010 07:37:21
Obrigada Giancarlo!
Foi muito bom ler esse artigo, pois me deu a seguranca de continuar no caminho do taro. Nunca acreditei no taro como forma de adivinhacao e sim como luz que pode iluminar nossos caminhos se permitirmos .
Abracos e que possamos ler mais sobre suas reflexoes sobre o taro .


Giancarlo Kind Schmid - 15/08/2010 16:06:03
Oi Alberoni,
Grato pelos seus comentários e reflexões.
Sim, as preocupações dos consulentes são muitas vezes comuns às nossas e é exatamente aí que devemos ter cuidados. Embora possamos atravessar o mesmo drama do consulente, nem sempre nossa experiência irá lhe servir. O tarô incontestavelmente é uma via de mão dupla, ensinamos e aprendemos todo tempo e é aí que a isenção se faz necessária. Não podemos projetar na leitura o que consideramos ideal - precisamos conhecer (bem) o perfil do consulente para que aquilo que for dito sirva bem para ele. Tentados todos nós ficamos, em função disso devemos dobrar a atenção. Cada um é cada um e não podemos generalizar o problema. Concordo piamente: "para se chegar ao 16 precisamos atravessar o 07 e vice versa". Mas, nem todos farão o caminho igual ao nosso, alguns andarão em zigue zague, outros em círculo, alguns pularão etapas, etc. Por isso o consulente deve ser o centro da análise, pois não se pode chegar a lugar nenhum sem conhecer-se profundamente. É mais ou menos o exemplo do esportista que, para realizar uma prova, precisa conhecer bem sua disposição física, limites e preparação. Ou seja, "você só come o fruto porque conhece a árvore que o gerou".
Abraços!

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