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29 de março de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Visualização e tarô
Uma técnica particular
Flávio Alberoni

Uma pessoa me procurou este último fim de semana devido a problemas relativos à sua  própria identidade. E não se sentia bem com o mundo (sic). Simplesmente isso. Um processo de rejeição onde não encontrava compartilhamento nem com a própria família. Um solitário, como se expressou.

                                     
Antes de pedir (ou tirar) um arcano, como costumo fazer, visualizei o símbolo da pessoa. Uma árvore muito grande e um tanto petrificada. Ela ocupava de maneira diferenciada o quadro mental e eu percebia mais o tronco que os ramos e as folhas. O ambiente não era hostil, até agradável, mas ela (a árvore) não se permitia uma aproximação ao próprio ambiente. O símbolo é mais completo que o descrito, necessariamente.

Mas fiquemos só nesta amostra, pois no meu entender o símbolo visualizado é uma manifestação do arcano 21 (em verdade do binômio Arcanos 2 e 21) de cada indivíduo. E desta maneira revela demais como é a pessoa de maneira muito completa. Uma mente treinada pode interferir de maneira indesejada mesmo sem conhecer o consulente em questão.
 
Pedi um arcano e ele me disse: 18. Mentalmente eu tirei um e me veio o 12, invertido.

Pelo símbolo e arcanos fiquei admirado de que me tivesse procurado. Foi por “quase exigência” da esposa, respondeu sorrindo.
 
A série de 12 a 22 como sabemos refere-se a uma seqüência feminina ... ou Yin, como prefiro denominar, e representa por si, a substância do Tarô. Os Arcanos desta seqüência representam a parte fundamental do psiquismo humano e mais difíceis de serem modificados. Importante se compreender isto. É mais difícil uma modificação da atitude de alguém perante a vida, sendo ele notavelmente da série jônica (Yin, feminina, passiva, lunar, intuitiva) do que se ele for principalmente da série dórica (Yang, masculina, ativa, solar, racional). Os arcanos da série dórica são funcionais e gravitam em torno de seus complementos da outra série. (Mas, não apenas de seus complementos).

Portanto, a parte funcional – de 1 a 11 - é a contraparte masculina, ou Yang e os Arcanos do caso em objeto são o Arcano 5 para o 18 e 11 para o 12. Portanto, em paralelo mais dois arcanos são lembrados. Mas não apenas estes. Os  arcanos 18 e o seu complementar, o 5, têm apoio nos 16 e 7, com os quais formam uma tétrade - novamente recorrendo a Wirtz. E isso tem também de ser considerado. No entanto, confesso que essas tétrades deste autor em sua maioria são, para mim, iniciáticas em demasia para o uso corriqueiro.
 
Existe outra relação muito importante. Cada arcano se apóia numa relação ternária e não binária - Wirtz que me desculpe - e com isso o arcano em questão se firma nos 4 e 5 ou nos 5 e 6, dependendo de como se inicia o processo. Como ele me deu um arcano Yin de imediato, eu considero como iniciando a seqüência pelo  22.
 
Deixe-me ser mais claro
 
22     21     20   19    18    17      16      15     14    13        12
     1       2      3     4           6        7        8      9      10         11
 
e não
 
     22      21     20    19    18    17    16    15    14    13     12
1        2      3        4     5       6     7       8      9     10    11     1
 
Esta relação é mais importante do que parece, pois já me diz que, como ele possui como base os arcanos 4 e 5, e não os 5 e 6, os seus problemas, estão tolhidos por algo mais profundo, pois o arcano 4 tem forte tendência à cristalização. E torna mais difícil a análise e inclusive a resolução do mesmo problema. Se fosse a outra seqüência, a do 5 e 6, como base, a influência do 6 sobre o 5 estimularia em muito a criatividade e mesmo o lado mais terno do amigo, além de exigir o enfrentamento dos próprios conflitos.
 
A minha intenção neste texto não é descrever a pessoa que me procurou de maneira completa, é apenas apresentar uma maneira particular de leitura de tarô, por esta estar vinculada a um processo de visualização que, quando devidamente estimulado - e o exercício do tarô propicia isto - nos fará com o tempo prescindir do próprio. Observem por favor, que até agora eu não dei aos Arcanos referidos qualquer denominação. Fujo muito disto, pois o título, o nome dado a algum elemento já o limita. Considero cada arcano a representação de uma força determinada e dar-lhe um nome de referência lhe mitiga esta mesma força. Como não posso referir-me a ele sem alguma denominação eu me limito aos números. Casa de Deus, Lua, Imperador, Enforcado, Sol, são denominações que me dizem muito pouco e alimentam estereótipos que evito com certa energia. Uma força construtiva e curativa como o arcano 18 sendo chamada de Lua, é apenas um nome para uma sua qualidade e nada mais.
 
Esta avaliação inicial do Arcano 18 está devidamente secundada pelo Arcano que eu tirei - o 12 - o qual está invertido (existe até uma relação com o arcano 2 e a influência lunar em ambos – o 18 e o 12 – muito interessante, mas que foge ao objeto deste texto). Mas, o arcano 12, em sua inversão, torna o consulente frágil emocionalmente e rejeitando profundamente esta sua fragilidade, fugindo de suas sombras. Pela mesma seqüência ele (o Arcano 12) possui o apoio do 11 e principalmente no 10 – vejam o diagrama acima. Por este último arcano (e pela sua relação forte com o arcano 4, apoio do 18), já me indica uma intensa necessidade de transformação em nível mental para ele sair do problema que o levou a me procurar. Muito importante que eu não falhe no processo e que tenha para ele uma confiança absoluta. E pelos 18 e 4, sei com certeza de que vai me testar continuamente. Abrir-me e falar de algo que lhe seja inconsistente, não lhe dará o apoio necessário para buscar em mim qualquer auxilio. Se o Arcano orientador do tarólogo (eu me considero apenas secundariamente tarólogo, mas usemos este qualificativo) tiver uma energia que eu não abrace naquele momento eu não atendo a pessoa. E este energia deve ser compatível com o símbolo visualizado e, com isso, às necessidades da pessoa.
 
Outra relação muito importante é a soma algébrica dos arcanos elencados pelo cliente. 18 nos reporta ao 9 e o seu complemento (o 14) nos leva ao 5. Impossível se fazer alguma interpretação sem se levar em conta estas relações. Outras existem. E nos provam que ao se tirar uma carta para alguém, há uma série de interferências, mútuas influências, que tem de ser avaliadas. Pois o ser humano possui em si toda a série de arcanos, colocadas numa ordem energética determinada, que cabe ao tarólogo perceber e agir de acordo. Recordo-me de um dos últimos temas do Giancarlo neste fórum onde fala da importância da seriedade de um tarólogo em suas leituras.

De qualquer modo, só para nos situar: Encontramos uma pessoa de personalidade dominadora, pouco criativa, que usa sua autodisciplina, para obter segurança no universo do qual faz parte. É rigorosa, estratificada, buscando sempre exatidão no que faz e particularmente no que os outros fazem. Segue a letra da lei, sem grande preocupação com sua eventual interpretação. Pouco simpática. Não se entrega e cria continuamente elementos para se defender dos outros e particularmente de si. O aporte numérico que visualizei confirma isso e diz que tem um grande medo de perder sua própria identidade e foge de interpretações de si. Uma imensa dificuldade de se entender com as pessoas de maneira profunda, mas capaz de dialogar horas conversando sobre... trivialidades. Desconfiado, confia poucos nos outros e mesmo em si, principalmente se as coisas não lhe forem claras no âmbito racional. Qualquer terapeuta que procure não consegue lhe ajudar, pois discute sempre com ele, não concordando com eventual tratamento. Não sabe circular sua própria energia e, portanto terá problemas circulatórios e nas articulações, além de uma incapacidade crucial de se adaptar ao meio em que vive até em nível fisiológico, pois – característica negativa do 18, associado com o 5 e com o 9 – seu fígado não deve funcionar devidamente. Certamente se irrita com facilidade e a abordagem do tarólogo tem de respeitar isso, mas primordialmente, como já disse, se explicar pouco. Pelo 12 invertido uma forte tendência depressiva que esconde pela busca constante de disciplina e barreiras, não se admitindo ceder a alguma fraqueza.

Mas temos de nos expressar com certa rudeza, impetuosidade e sem demonstrar a menor hesitação, para que sua transformação (10) ocorra de maneira efetiva.  Se demonstrar alguma hesitação esqueça este consulente!

A partir daqui o terapeuta dá continuidade a seu trabalho conservando apenas as cartas tiradas (de preferência) ou tirando outras para detalhes maiores e – por certo – fundamentais. O dito acima é superficial demais para satisfazer o interessado.

Quem faz tarô continuamente sabe que estas coisas acima nos ocorrem de maneira muito rápida e é muito mais demorado descrever o processo do que perceber. Mas, importante para mim, é observar mentalmente como ocorre a eventual modificação do símbolo inicial. Para saber se estou sendo suficientemente assertivo. No caso em questão a modificação foi notável. Infelizmente nem sempre é assim.


 

 
23/08/2010 07:39:06

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