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12 de novembro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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A experiência de desenhar o Tarô para Nei Naiff
Thais Linhares
 
 
Convidei Thais Linhares para relatar sua experiência de desenhar um tarô para ser publicado, pois em seu site profissional não havia menção a esse trabalho. Ela me encaminhou uma mensagem sobre o processo de ilustração e, de quebra, apontou dificuldades que os artistas gráficos encontram em suas relações com as editoras.
Dou muito valor ao registro do processo criativo que, na maior parte dos casos dos tarôs publicados, não recebe qualquer menção, como se o artista fosse um mero coadjuvante. No presente caso, o depoimento de Thais Linhares ganha destaque pelo modo direto com que ela recapitula os acontecimentos. Agradeço.   [Constantino]
 
Constantino, antes de tudo um detalhe pitoresco: estava grávida de meu segundo filho, quando da feitura do tarô para o Nei Naiff. Se não me engano ele nasceu pouco depois da entrega das artes.
Quando a Editora me contactou, foi por conta de meus trabalhos anteriores na casa, tais como as capas dos livros do Carlos Castaneda, livros de Yoga e Budismo. O que eles não sabiam é que há vários anos eu estudava tarô, usando-o inclusive como um recurso para criatividade e auto-conhecimento.
Esse estudo começou com o designer Claudio Bernard, na época meu namorado. Ele tem uma imensa coleção de tarôs – chegou a produzir algo sobre o tema para uma editora espanhola. Ele leu e se apaixonou pela obra de Italo Calvino O Castelo dos Destinos Cruzados. Passou-me a leitura e começamos a experimentar o tarô como recurso em elaboração de narrativas espontâneas. Por um tempo, me viciei em consultar o tarô antes de qualquer decisão importante na vida.
O Louco por Thais Linhares   O Mago por Thais Linhares   A Sacerdotisa por Thais Linhares
O Louco, 1. O Mago e 2. A Sacerdotisa – três cartas do tarô litográfico de
Thais Linhares, parcialmente coloridas com aquarela, e que foram produzidas em
2000, período anterior ao convite que recebeu para desenhar o tarô de Nei Naiff.
Realizei algumas experiência também fazendo tarôs pessoais. Um primeiro inspirado no Tarô Vertigo, do Dave McKean (famoso no mundo todo, sobretudo pelas capas de Sandman), outro em litografia – bem surtado e vanguardista, e alguns projetos redirecionando a essência do tarô de outra forma.
Então, muitos anos depois, foi tranquilo absorver toda a informação que o Nei queria passar. Ele elaborou um curso bem legal, separando em "caminhos" que seriam representados por uma cor dominante. Havia um certo limite porém, para representação visual, já que era preciso ter uma familiaridade bem forte com a base tradicional das cartas. Ainda assim, algo mais pessoal, tanto meu quanto do Nei, deve ter vasado nas imagens. É quase inevitável. O Nei é um incansável estudioso de tarô e pude usufruir um tantico dos seus ensinamentos para meus próprios estudos e criações (em outros projetos).
Quanto à técnica em si, os desenhos foram todos feitos à mão, escanerizados e coloridos digitalmente. O projeto gráfico foi mais conduzido pela editora, que pecou, ao meu ver, ao descartar o uso de um cartão mais resistente (como queríamos) para a embalagem. Tínhamos também pedido o uso de berço para o deck, o que também foi descartado por motivos de economia. Mesmo assim, o resultado é bonito, não acham?
 
Um adendo sobre o mercado editorial
Thais Linhares mencionou, ainda, conquistas ao longo de sua carreira com editoras, em especial com referência à cláusula contratual de cessão total dos direitos autorais sobre a obra.
No caso específico do tarô, contou: "Mais tarde fui chamada para redesenhar as cartas em versão para diferente tipo de impressão. Infelizmente, o valor pago era muito abaixo do viável para mim [..]. Passaram as imagens para um outro ilustrador redesenhar [..]. Assim, as imagens são usadas, re-editadas, sem que o autor original receba um único centavo por isso. Graças a situações como esta, é que hoje em dia me recuso a trabalhar com contratos de cessão integral."
"Que bom que hoje podemos discutir sobre isso e denunciar quando as práticas são prejudicias como nos contratos leoninos. Quando, anos atrás comecei a reclamar, sabia que poderia acabar "queimada". Mas não tinha escolha... ou isto, ou teria de abandonar a carreira de qualquer forma, porque esses contratos inviabilizam nosso trabalho. Mas para minha surpresa, o que aconteceu foi o oposto!"
"Hoje, autores e até editores me procuram para aconselhamento, sou chamada para dar palestras e apresentações, e fui uma das convidadas a representar associação (participo da diretoria de duas dentre as três de que faço parte) no Fórum Nacional do Direito Autoral, mostrando que, afinal de contas, eu estava afinada com os novos tempos!"
 
setembro.10
 
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