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16 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Adivinhação é pecado?
Constantino K. Riemma

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Flávio Siqueira - 26/4/2010 17:56:40
"Queria que você esclarecesse uma questão que tem estado em minha cabeça há algumas semanas. Como lidar com o tarô e com algumas idéias cristãs? Por exemplo, há diversas passagens bíblicas (Deuteronômio, Levítico) que condenam a prática adivinhatória e tal e coisa. Acho que você já ouviu muito acerca disso. Bom, creio que seja importante saber como lidar com tal questão, pois sou muito criticado por minha família acerca disso."

Constantino: O tarô não é condenado pelos cristãos. Ele aparece no mundo católico, no século XV, utilizado nas cortes e nos mais diferentes lugares, com finalidade lúdica, sem qualquer interdição religiosa. Mais ainda, na tradição judaico-cristã os prognósticos não são condenados. Muito pelo contrário, os profetas sempre foram valorizados. Portanto, a questão fundamental é compreender o que de fato pretendem os orientadores religiosos quando condenam a adivinhação. Seria mera implicância ou preconceito? Sim, pode ocorrer que muitos religiosos sejam simplesmente pessoas fechadas. Mas será só por isso? Talvez valha a pena refletirmos um pouco mais.

Uma imagem que utilizo para examinar essa questão é a seguinte. Se alguém passar por você em excesso de velocidade, em direção a um paredão, será possível prever que dentro de 5 segundos ele se arrebentará num impacto fatal. Você será elogiado e valorizado por suas aptidões de previsão. Se ao invés de confirmar a trombada você der um grito e alertar o distraído para brecar, talvez o impacto seja bem menor ou até mesmo possa ser evitado. Nesse caso, o seu gesto talvez não seja tão valorizado e todos acreditarão que você simplesmente fez o que deveria fazer pelo seu semelhante.

[Ao lado: "Fortune Teller" em www.aescott.net
Ilustração abaixo: Ramana in www. bhagavanramana.blogspot.com]


Outra imagem pode nos ajudar a refletir sobre o problema que você coloca. Um médico de diagnósticos pega uma radiografia e faz sua previsão ao paciente : "Você só tem três meses de vida". Já um médico curador vai olhar a mesma chapa e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para superar ou, pelo menos, contornar a gravidade da situação. O paciente poderá viver ainda muitos anos, contrariando assim os diagnósticos iniciais. Ou seja, não é pecado fazer diagnósticos. O problema todo está na capacitação do profissional para utilizar os prognósticos de modo terapêutico e não para agravar o sentido negativo de um quadro muitas vezes bem difícil.

Em muitas questões humanas, nas quais predomina a mecanicidade dos  acontecimentos, o adivinho poderá prever como a pessoa sofrerá com a situação. E ao verbalizar sua previsão poder correr o grave risco de reforçar, na mente e no coração do consulente, a mecanicidade dos fatos, agravando assim os problemas que enfrenta. Caso esse mesmo consulente tivesse buscado um terapeuta competente ou um orientador espiritual talvez pudesse ganhar um novo discernimento, uma nova compreensão do processo, e tomar medidas e direções que evitassem equívocos e a piora da situação em que vive. Mais ainda, poderia até mesmo reverter tendências negativas e ganhar novos rumos de crescimento.

Com esses exemplos cabe a questão. Como lidar com as possíveis previsões? Qual é o grau de saber necessário para utilização terapêutica dos prognósticos? Como ganhar a qualificação para lidar evolutivamente com as questões humanas?

Desde sempre as artes divinatórias tiveram forte presença na vida humana; basta ver a enorme lista de mancias até hoje praticadas em todas as classes sociais (confira em: http://www.clubedotaro.com.br/site/r68_0_mancias.asp). São muitos, porém, os buscadores espirituais que contrapõem o livre-arbítrio ao determinismo das adivinhações. Apesar de, no plano coletivo, predominar a busca de previsões factuais de "sim ou não?", "vai ou não vai dar certo", e de também serem muito procuradas as técnicas mágicas e "trabalhos" de manipulação da vontade alheia, estamos frente a outra bela questão para considerarmos.

Se tivermos a possibilidade de realizar escolhas como devemos estudar para tomar as melhores decisões? Onde buscar orientação? Se, caso contrário, estivermos diante de situações inelutáveis, como fazer para descobrir a melhor atitude?

Quem poderia ser nosso guia e orientador? Em nossas crises e incertezas, procuramos por um cartomante, por um tarólogo, ou por um mestre e orientador espiritual? Será possível combinar essas alternativas?

E aí?

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Flávio Siqueira - 4/5/2010 17:10:49 
"Oi Constantino. Agradeço demais sua resposta. Alías, ela me fez pesquisar várias coisas interessantes. Entrei no Google e joguei o seguinte: "Tarô e cristianismo". Qual não foi minha surpresa encontrar o link   para o próprio  Clube do Tarô, onde você escreveu  sobre o livro "Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores". Minha surpresa foi maior ainda ao verificar que a Editora é a Paulus. Daí segui um dos links que mostram o saudoso Papa João Paulo II sentado à sua mesa com esse tal livro, presente de um de seus Cardeais, fala o texto. Fiquei espantado ao pensar que talvez ser cristão e ao mesmo tempo fazer uso do tarô não seja algo tão antagônico.
De qualquer forma, quero pesquisar mais sobre as passagens bíblicas do Levítico e Deuteronômio que fazem referência ao assunto, pois quero saber por que usam tais passagens para condenar o tarô. Penso que manipulam ou manipularam o texto como forma de concentração de poder religioso, ou coisa parecida."

    [Foto: O Papa João Paulo II e, em sua mesa de trabalho, o tratado de Valentim Tomberg sobre o Tarô]

Resposta do Constantino: :
Flávio, foi muito bom você lembrar que um dos mais importantes tratados sobre os arcanos maiores é de autoria de um cristão, católico! Para registrar o link a outros visitantes, o texto que você menciona está na seção "Serviços / Livros e Autores / Estudos -> Valentim Tomberg". Ou para chegar até ele basta apenas clicar: http://www.clubedotaro.com.br/site/z94_Tomberg-bio.asp

 
03/05/2010 22:27:59

Comentários

Valderez Martini - 04/05/2010 17:19:41
Sr. Constantino,
Parabéns por tão esclarecedor assunto. Realmente, os profissionais que atuam no campo das Terapias alternativas, carregem o fardo da contestação religiosa. Entendo que, serenamos os desafios, olhando para o alto e confiando em nosso caminhar. Durante anos, fiquei prisioneira da ditadura da razão. Durante anos, eu mesma, vivia questionando o meu campo de atuação. Comecei a dar espaço para familiares invadirem o meu pensar e criticarem a Astrologia e Tarô. O tempo foi passando e cada dia que chegava, minha sensibilidade intuitiva, adormecia. Um dia, acordei para a dura realidade. Estava triste, chorosa, com mais de 60 anos e sem um baralho de Tarô para alimentar o meu espírito. Decidi encarnar a energia da TORRE. Dei um grito de liberdade, arrumei a bagagem e lá fui eu, morar em outra cidade. Longe de nora e filho evangélico. Resgatei a natureza do LOUCO e despertei o MAGO que dormia em meu interior.
Hoje, sei que os mensageiros do Universo conspiraram a meu favor. Os crentes da família pouco me visitam, no entanto, os outros filhos vivem solicitando irradiações energéticas!!!
Bom saber que os desafios existem para amadurecer o nosso espírito.
Hoje, entendo que: O Tarô e outros instrumentos considerados oráculos, sinalizam caminhos para restauração das energias fragmentadas.
Mais uma vez, Parabéns pelo texto.

Bete Torii - 05/05/2010 19:18:09
Olá Constantino, Flávio e Valderez,
Gostei muito da troca entre vocês!
Eu sei que o Constantino é o pedagogo "perfeito" e nunca dá respostas fechadas, se pode abrir o caminho do interesse da pessoa que o consulta - e como lhe agradeço por isso!
Mas quero dar a minha opinião pessoal ao Flávio: eu suponho que a Igreja (ainda que extraoficialmente) passou a condenar o tarô e a astrologia simplesmente porque esses sistemas simbólicos passaram a ser usados predominantemente como instrumentos de adivinhação. Uma coisa utilitária e reduzida, de "vaticínio", que não promove o desenvolvimento de ninguém - e, ao contrário, às vezes provoca debilidade e dependência. Adivinhação é quase sempre o que o consulente quer e o que cartomantes ou tarólogos de diversos naipes - muitos deles inegavelmente ignorantes - oferecem. Portanto, a igreja moralizadora (nem falo isso como crítica) achou mais fácil jogar a água da bacia com a criança dentro: melhor proibir a coisa toda do que ir a fundo para separar o joio do trigo. É mais ou menos como a medicina ortodoxa tem agido, com os Conselhos de Medicina querendo banir todos os tipos de tratamentos alternativos com a alegação de que esses ramos, por falta de "carteirinha" e fiscalização, abrigam muitos charlatães.
Um abraço a todos.

Giancarlo Kind Schmid - 06/05/2010 02:27:02
Oi Constantino,
Muito elucidante seu "texto-resposta", é bastante complicado a abordagem de um tema como a "adivinhação" (que ao meu ver, está em franca decadência nessa nova fase da humanidade), pois não serve mais seu propósito original (o de significar a mensagem dos deuses para determinados propósitos), penso que o tarô (e outras vertentes simbólicas oraculares) deverá se direcionar para o autoconhecimento (que considero a parte nobre do trabalho). Porém, sou bastante criticado e mal interpretado quando afirmo que "tarô não é adivinhação" (que, no sentido mais claro que desejo que alcancem, não é o de negar que realize previsões, mas de afirmar que o tarô está muito aquém de se prestar a simples constatações do futuro). Fui achincalhado diversas vezes por isso, mas aprendi que o tempo é o melhor professor e que amanhã muitos entenderão o que quis afirmar. Estou com você, pois de forma elegante respondeu a dúvida do Flávio, embasando suas observações e apontamentos. Estamos vivendo um momento delicado de transição do tarô do seu estado "puramente adivinhatório para o estado terapêutico" que será assumido por uma grande parte dos profissionais; porém, como mudanças são processos delicados que requerem tempo, os mais conservadores se sentem ameaçados e atacam deliberamente novas propostas sem piedade e covardemente.
A Bete Torii foi muito feliz ao fazer os comentários dela, e não mudo uma vírbgula sequer do que escreveu. É exatamente o que penso, será que é tão difícil assim, algumas pessoas entenderem ou é pura implicância apenas comigo? Quando há 15 anos atrás defendia a integração do tarô com recursos terapêuticos, fui duramente criticado e ironizado. Hoje, uma grande maioria enche a boca pra falar de Jung, Florais, Meditação, etc. integrando ao tarô.
O destino do tarô é a terapia, não é suposição, é constatação. Os consulentes estão cansados da superficialidade e insegurança advindas das previsões.Se o autoconhecimento é a única evolução, assumamos isso já!

Flávio Siqueira - 06/05/2010 09:55:09
Caros colegas,

Não posso deixar de afirmar uma coisa que para mim é fato: o tarô responde ao que lhe é perguntado. Se vamos usá-lo somente para previsões, isso é uma decisão pessaol. No meu entender só usar o tarô para previsão é explorá-lo de forma pobre. Ele pode sim e dever ser utilizado para buscarmos o autoconhecimento. Nosso colega Giancarlo bem afirmou que o consulente já está cansado de saber se vai ou não comprar o carro. Ele quer saber como deve se organizar melhor, como o veículo pode lhe ajudar, enfim....A consulta deve não somente dizer sim ou não, mas apontar caminhos, dar sugestões. E nada disso é pecado.rsrsrs.

Bom dia a todos.

Tânia Regina Soares - 06/05/2010 21:02:50
A prática da Adivinhação sugere o contato com as ciências místicas, espiritualistas, espiritistas, e várias correntes, ligadas as aos rituais que aludem a presença de “entidades espirituais”, comum na “unbanda”, “candomblé”, onde “os guias espirituais”, se comunicam com aquele que busca “orientação”... Este no “momento de desespero”, ou não, circulam por toda parte onde se diz que pode falar “alguma coisa sobre sua vida”, ou que possa “trazer soluções para suas aflições. Dentro deste ponto de vista, tudo isso é pecado. Toda prática em que o “ser humano” seja livre para falar sobre sua intimidade, segredo, romances fora do casamento (a prática do adultério) não passa pela guilhotina do pecado.
E a prática da interpretação das cartas do Tarô, associada às outras abordagens sempre foram vinculadas ao contato com “o processo psicológico ou psicossocial do consulente”, e ali se trabalha a conexão com a sua “psique”, ou a linguagem do seu “eu”... Abrindo portas do inconsciente deixando fluir essa energia, onde envolve tudo: medos, desejos, auto-estima, obsessões, etc. E, tarô, terapias alternativas ou convencionais não se adéquam às ‘regras de comportamento padronizadas pelo “pré-conceito”, e ignorância das tendências fanáticas das doutrinas religiosas.
Levando em conta esse referencial do “preconceito” determinado pela religião, a adivinhação é rechaçada como “pecado”.
Mesmo assim, sempre tem aqueles (as) que se escondem atrás da máscara da “figura religiosa” e “pessoa de família”, que procuram loucamente pelos serviços de tarólogos, cartomantes e até “terreiros”, buscando soluções para saber se o marido tem amante;
Se algum dia vão conseguir se casar; ou quem sabe, podem fazer um “trabalho para amarrar homem”.
Então, na visão mais holística e científica e filosófica, Adivinhação não é pecado.



Marcelo - 06/05/2010 23:22:14
Boa resposta. Abordei o tema dia desses citando exatamente um comentário rabínico sobre a passagem bíblica. Deixei o link atrelado ao nome para quem quiser dar uma olhada.

abs

Bete Torii - 07/05/2010 00:19:32
Marcelo
Como?! Qual resposta é boa? Qual passagem bíblica? Deixou um link atrelado a que nome? Onde?
Nem estou tão curiosa, na verdade. Faço todas estas perguntas para você perceber como seu comentário está incompreensível. Contextualize.

Flávio Siqueira - 07/05/2010 09:36:11
Eu sim estou super curioso para ver o comentário do rabino acerca das passagens bíblicas. Acho que ele dele ter comentado essas:

"Quando entrares na terra que o SENHOR teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti." [Deuteronômio 18:9-12].

e

Levítico 19:31: “Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles: Eu sou o Senhor, vosso Deus.”

Ko o link Marcelo!!!

Tudo de bom a todos!!!

contraditório - 07/05/2010 13:38:22
Com a historia percebemos que certos fatos se contradizem, sabemos que a Igreja romana sempre promoveu perseguição, houve época que lavar as mãos para fazer partos era considerado satânico.
Observando os fatos: quando alguém adivinha alguma coisa fora da igreja essa adivinhação e considerada satânica. Quando isso ocorre dentro da igreja ela e chamada de revelação.
Não importa se a falecida foi santa se vc fala com alguém que já faleceu seria "necromancia "
A qualidade de adivinhar "intuição" percepção esta presente no ser humano, o fato é que tem o monopólio dessa liberdade.
Não temos que questionar o que e certo ou errado, temos que entender porque e considerado certo ou errado. Que fatores levaram acreditar naqueles dogmas.


savio araujo - 07/05/2010 19:25:21
não sei se estou exatamente certo ou errado, mas utilizo o taro os arcanos maiores para fazer previsões unicamente para mim, e acredito que ales são as chaves esotéricas para interpretação da bíblia

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