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19 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Tarô e Baralho Cigano - Semelhanças e Diferenças
Alexsander Lepletier
A relação entre os oráculos se dá tanto nas diferenças quanto nas semelhanças, apesar da tendência geral evidenciar superlativamente suas diferenças, criando uma ideia que não corresponde à realidade.
Podemos estabelecer três tipos de diferenças: Estrutural, iconográfica e simbólica.
A estrutural se evidencia no número de cartas e suas estruturas internas. No tarô temos 78 cartas ou arcanos que se dividem em maiores e menores. Ambos têm função complementar e estruturas complexas. Existe uma linearidade no ordenamento dos dois conjuntos que se dá pelos números ou hierarquia, no caso dos arcanos menores numerados e das figuras de corte. Além da ordem sequencial, encontramos outros fatores que interligam os elementos dos conjuntos de formas diferentes, através do número e relações simbólicas.
No Petit Lenormand temos 36 cartas e dois conjuntos: imagens e naipes, como no tarô, porém esses estão contidos um no outro, mesmo sem manter relação direta. Cartas e naipes são independentes. Não se pode ordenar sequencialmente todos os elementos, simultaneamente. Se ordenarmos pelos naipes, desordenamos os números e vice-versa, optando-se, na maioria das vezes, pelo número. Naipes e Imagens foram concebidos para funções distintas, sendo complementares, somente, através da utilização de algumas técnicas de leitura.
Cartas do baralho Lenormand - Cigano
Três exemplos do baralho Lenormand: imagens e naipes
Ilustrações do Lenormand Piatnick em www.pinterest.com/ccattynna/tarot
Vemos as diferenças iconográficas na construção das imagens. Enquanto o tarô obedece a padrões mais rígidos, onde cenários, personagens e suas posições precisam seguir certas regras como, por exemplo, O Mago, que deve segurar uma varinha e ter uma mão erguida e outra abaixada, o Lenormand já não apresenta essa necessidade. A cegonha, independente de estar se alimentando no lago, cuidando de seu ninho ou voando, manterá seus atributos inalterados. Suas imagens podem ser elaboradas de forma mais livre, não estando presas a cadeias simbólicas por serem mais simples.
As diferenças simbólicas se apresentam nos símbolos (sol, lua, torre, estrelas e cavaleiro) utilizados pelos dois baralhos, porém com atributos diferentes ou parcialmente semelhantes. Como exemplo, temos a Lua, que no tarô fala de ilusões, medos e inimigos ocultos, enquanto no Petit Lenormand ela representa honras, méritos e reconhecimento profissional. Já o Sol, em ambos, divide os atributos de sucesso e alegria, porém o Sol do tarô apresenta um aspecto relacional, simbolizando amor e namoro, que não encontramos no Lenormand.
Entre as semelhanças, a mais importante a ser destacada é: ambos são cartomancia.
Cartomancia é a arte de prever o futuro através das cartas, então isso engloba todos os tipos de cartas. O tarô é uma variação mais sofisticada de cartomancia, mas não deixa de sê-lo. No seu surgimento, ele era tão mundano como qualquer baralho. Seus símbolos eram facilmente reconhecidos e descreviam situações cotidianas, como faz o Petit Lenormand, hoje em dia.
Afirmações de que o tarô presta-se mais para perguntas de cunho filosófico e espiritual, enquanto o Petit Lenormand é mais para questões mundanas, não se confirmam no dia a dia do consultório, onde ambos se mostram perfeitamente eficazes em responder perguntas de qualquer natureza.
Da mesma forma, dizer que o tarô dá respostas subjetivas e o Petit Lenormand objetivas é outro erro grosseiro. A qualidade da resposta está no produto dos estudos e na experiência pessoal do leitor, que definirão o grau de profundidade da sua interpretação e a linguagem que usará para transmitir essa informação. Portanto, podemos ser tão subjetivos com o Lenormand quanto objetivos com o tarô. Esses mitos construíram-se durante o processo histórico de ambos os baralhos.
Os dois foram, inicialmente, concebidos para serem jogos de diversão. No caso do tarô, nos séculos XVIII e XIX, ocultistas reconheceram nele características místicas e esotéricas inserindo-o em seus rituais e atribuindo-lhe, assim, novas formas de utilização e funções para que se adequasse às suas necessidades. Posteriormente, houve uma releitura de seus símbolos pelo viés da psicologia junguiana, o que fez nascer uma abordagem que ampliou ainda mais o seu universo. Essas duas interferências marcaram profundamente a história do tarô e como ele passou a ser visto.
Com o Lenormand, o processo foi inverso. A sua curta história e a falta de obras e estudos mais profundos limitaram as informações a seu respeito aos livretos que acompanhavam o baralho, compostos por meia dúzia de palavras-chave e um único método de cartomancia rudimentar. Dessa forma, criou-se a falsa ideia que ele se restringia às palavras-chave e, por isso, dava “respostas mais diretas”, recebendo a alcunha de “Baralho Fofoqueiro”. Ao mesmo tempo, alguns dizem que o Lenormand só dá respostas por combinações, sendo desaconselhável a leitura com uma só carta, ao contrário do tarô, pelo qual podemos obter respostas com um só arcano. Mais uma vez, a prática desconstrói essa falácia, mostrando que uma carta do Lenormand, sozinha, é capaz de nos responder o que precisamos saber.
Tarô e Lenormand equilibram-se na balança. A riqueza simbólica e a complexidade das cartas do tarô são compensadas pela atualidade e simplicidade das cartas do Petit Lenormand, atributos que permitem a identificação imediata de seus símbolos, mesmo por quem não as conhece, facilitando o aprofundamento do seu conhecimento através de experiências vivenciais.
Com todas as suas diferenças e semelhanças, a função de ambos é a mesma: proporcionar-nos uma visão mais ampla da vida e maior compreensão de nós mesmo, orientando-nos em nossas escolhas.
Contato com o autor:
Alexsander Lepletier - tarólogo, oferece consultas
e cursos no Rio de Janeiro e pela Internet.
(21) 8894 8263 e www.lenormando.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Revisão: Ivana Mihanovich
Edição: CKR – 21/05/2015
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