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19 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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  1. Os Fundamentos | 2. A literatura | 3. As combinações | 4. O pares de cartas  
O simbolismo do Tarô
1. Os Fundamentos
P. D. Ouspensky
    
Este texto consiste na transcrição do Cap. V - O Simbolismo do Tarô,
     do livro de P. D. Ouspensky Um Novo Modelo do Universo - Ed. Pensamento
     Para facilitar o manuseio deste texto, fizemos sua divisão em três partes:
     1. Os fundamentos  |  2. A literatura   | 3. As combinações | 4. O pares de cartas
    Na literatura ocultista ou simbólica, isto é, na literatura baseada no reconhecimento da existência do conhecimento oculto, há um fenômeno de grande interesse.
         É o Tarô.
    O Tarô é um baralho que ainda é usado no sul da Europa para jogar e ler a sorte. Difere muito pouco dos baralhos comuns, que são baralhos de Tarô reduzidos. Têm os mesmos reis, rainhas, ases, dez, etc.
    As cartas do Tarô foram conhecidas desde o fim do século XIV, quando já existiam entre os ciganos espanhóis. Foram as primeiras cartas que apareceram na Europa.
    Há diversas variações do Tarô, com diferentes números de cartas. Considera-se que a reprodução mais exata do Tarô é o chamado "Tarô de Marselha".
    Esse baralho consiste de 78 cartas. Destas, 52 são cartas comuns com o acréscimo de uma carta "ilustrada" em cada naipe, a saber, o "Cavaleiro", colocada entre a Rainha e o Valete. Isso perfaz 56 cartas divididas em quatro naipes, dois pretos e dois vermelhos, ou seja: Paus, Copas (corações), Espadas e Ouros (pentagramas ou discos).
    Há, além disso, 22 cartas numeradas com nomes especiais que estão fora dos quatro naipes.
  1. O Prestidigitador (ou O Mago)
2. A Grande Sacerdotisa
3. A Imperatriz
4. O Imperador
5. O Hierofante (ou O Papa)
6. Tentação (ou O Enamorado)
7. O Carro
8. Justiça
9. O Eremita
10. A Roda da Fortuna
11. A Força
  12. O Enforcado
13. A Morte
14. Tempo (ou A Temperança)
15. O Diabo
16. A Torre
17. A Estrela
18. A Lua
19. O Sol
20. O Julgamento
21. O Mundo
O. O Louco
 
    O baralho de cartas do Tarô, de acordo com a lenda, representa um livro hieroglífico egípcio, com 78 lâminas, que chegaram até nós de um modo miraculoso.
    Sabe-se que, na Biblioteca de Alexandria, além de papiros e pergaminhos, havia muitos desses livros, que consistiam muitas vezes de um grande número de tabuinhas de argila ou de madeira.
    Em relação à história posterior das cartas do Tarô, dizem que, no início, elas eram medalhões impressos com desenhos e números, depois lâminas metálicas, cartas de couro e, finalmente, cartas de papel.
    Exteriormente, o Tarô é um maço de cartas, mas, no seu significado interno, é algo completamente diferente. É um "livro" de teor filosófico e psicológico, que pode ser lido de muitas maneiras diferentes.
FDarei um exemplo de uma interpretação filosófica da idéia total ou do conteúdo geral do Livro do Tarô, seu título metafísico, por assim dizer, que mostrará ao leitor de modo claro que esse "livro" não poderia ter sido arquitetado pelos ciganos incultos do século XIV.
    O Tarô divide-se em três partes.
    1ª parte — 21 cartas numeradas de 1 a 21.
    2ª parte — uma carta numerada O.
    3ª parte — 56 cartas, isto é, quatro naipes de 14 cartas cada um.
    A segunda parte é um elo entre a primeira e a terceira, porque todas as 56 cartas da terceira parte juntas são consideradas iguais à carta numerada zero.
    Saint Martin (O Filósofo Desconhecido), filósofo e místico francês do século XVIII, chamou o seu principal livro de Tableau Naturel des Rapports qui existent entre Dieu, l'Homme et l'Univers (O quadro natural das relações entre Deus, o Homem e o Universo). A obra compreende 22 capítulos que representam comentários sobre as 22 principais cartas do Tarô]
    Imaginemos as 21 cartas da primeira parte dispostas na forma de um triângulo, com sete cartas de cada lado; no centro do triângulo, um ponto representado pela carta zero (a segunda parte), e o triângulo inscrito num quadrado formado pelas 56 cartas (a terceira parte), 14 de cada lado do quadrado.
    Temos agora uma representação da relação metafísica entre Deus, o Homem e o Universo, ou entre (1) o mundo numênico, numeral, (ou mundo objetivo), (2) o mundo psíquico do homem, e (3) o mundo fenomênico (ou mundo subjetivo), isto é, o mundo físico.
    O triângulo é Deus (a Trindade) ou o mundo numênico ou numeral.
    O quadrado (os quatro elementos) é o mundo visível, físico ou fenomênico.   
    O ponto é a alma do homem, e ambos os mundos estão refletidos na alma do homem.
    O quadrado é igual ao ponto. Isso significa que todo o mundo visível está contido na consciência do homem, isto é,
 
Uma segunda representação da relaçãoi entre Deus, o Homem e o Universo.
 
é criado na alma do homem e é a representação dele. E a alma do homem é um ponto que não tem nenhuma dimensão, no centro do triângulo do mundo objetivo.
 
Representação da relação metafísica entre Deus, o Homem e o Universo.
       É claro que tal idéia não poderia ter surgido entre pessoas ignorantes e que o Tarô é mais do que um jogo de cartas e um baralho de cartomancia.
    É possível expressar também a idéia do Tarô na forma de um triângulo, no qual está inscrito um quadrado (o universo material), dentro do qual está inscrito um ponto (o homem).
    É muito interessante tentar determinar o objetivo, o propósito e a aplicação do livro do Tarô.
    Antes de tudo, é necessário observar que o Tarô é uma "máquina filosófica", que, em sua significação e possível aplicação, tem muito em comum com as máquinas filosóficas que os filósofos da Idade Média buscavam e tentaram inventar.
    Há uma hipótese segundo a qual a invenção do Tarô é atribuída a Raymond Lully, filósofo e alquimista do século XIII e autor de muitos livros ocultistas e místicos, que, na verdade, propôs, em seu livro Ars Magna, um esquema de uma "máquina filosófica". Com o auxílio dessa máquina era possível formular perguntas e receber respostas. Ela consistia de círculos concêntricos com as palavras designando as idéias dos diferentes mundos dispostas dentro deles numa certa ordem. Quando determinadas palavras eram colocadas numa posição exata, umas em relação às outras, para a formulação de uma pergunta, outras palavras davam a resposta.
    O Tarô tem muito em comum com essa "máquina". No seu propósito, é uma espécie de ábaco filosófico.
    (a) permite colocar em diversas formas gráficas (como o triângulo, o ponto e o quadrado acima citados) idéias que são difíceis, senão impossíveis, de formular em palavras;
    (b) é um instrumento da inteligência, um instrumento que pode servir para o treinamento da capacidade de combinação, etc.;
    (c) é uma ferramenta para o exercício da inteligência, para acostumá-la aos conceitos novos e mais amplos, para pensar num mundo de dimensões superiores e para compreender os símbolos.
    O sistema do Tarô, no seu sentido mais profundo, mais amplo e mais variado, está para a metafísica e o misticismo na mesma relação que um sistema de notação decimal ou outra qualquer está para a matemática. O Tarô poderá ser apenas uma tentativa para criar tal sistema, mas mesmo assim é interessante.
    Para conhecer o Tarô, é necessário estar familiarizado com a idéia da Cabala, da Alquimia, da Magia e da Astrologia.
    De acordo com a opinião muito plausível de vários comentadores do Tarô, ele é uma sinopse das ciências herméticas com as suas diversas subdivisões, ou uma tentativa de tal sinopse.
    Todas essas ciências constituem um único sistema de estudo psicológico do homem nas suas relações com o mundo dos númenos (com Deus, com o mundo espiritual) e com o mundo dos fenômenos (com o mundo físico visível).
    As letras do alfabeto hebraico e as várias alegorias da Cabala, os nomes dos metais, dos ácidos e sais na Alquimia, os nomes dos planetas e constelações na Astrologia, os nomes dos espíritos bons e maus na Magia, tudo isso nada mais era do que uma linguagem oculta convencional para as idéias psicológicas.
    O estudo aberto da Psicologia, sobretudo no seu sentido mais amplo, era impossível.  A tortura e a fogueira estavam reservadas aos investigadores.
    Se nos aprofundarmos ainda mais nas épocas passadas, veremos ainda mais te­mor em todas as tentativas de estudo do homem. Como era possível em meio a toda escuridão, ignorância e superstição daqueles tempos falar e agir abertamente? O estudo livre da Psicologia está sob suspeita mesmo em nossa época, que é considerada esclarecida.
    A verdadeira essência das ciências herméticas estava, por isso, oculta por trás dos símbolos da Alquimia, da Astrologia e da Cabala. Entre estas, a Alquimia adotou como meta exterior a preparação de ouro ou a descoberta do elixir da vida; a Astrologia e a Cabala, a adivinhação; e a Magia, a subjugação dos espíritos. Mas, quando o alquimista autêntico falava da busca do ouro, falava da busca do ouro na alma do homem. E, ao falar do elixir da vida, falava da busca da vida eterna e dos caminhos da imortalidade. Nesses casos, dava o nome de "ouro" ao que nos Evangelhos é chamado Reino do Céu e, no Budismo, Nirvana. Quando o astrólogo verdadeiro falava das constelações e planetas, se referia a constelações e planetas na alma do homem, isto é, a propriedades da alma humana e suas relações com Deus e o mundo. Quando o cabalista legítimo falava do Nome de Deus, ele buscava esse Nome na alma do homem e da Natureza, e não nos livros mortos, não nos textos bíblicos, como os cabalistas escolásticos. Quando o verdadeiro mago falava da subjugação dos "espíritos", elementais e outros à vontade do homem, compreendia isso como a submissão a uma única vontade dos diferentes "eus" do homem, de seus diversos desejos e tendências. A Cabala, a Alquimia, a Astrologia e a Magia são sistemas simbólicos paralelos de Psicologia e Metafísica.
    Oswald Wirth, num de seus livros (L'Imposition des mains et la médecine philosophale. Paris. Chamuel Editor, 1897), fala de modo muito interessante da Alquimia:
  "A Alquimia estuda, na verdade, a metalurgia e a metafísica, isto é, as operações que a Natureza opera nos seres vivos; a mais profunda ciência da vida estava oculta aqui sob estranhos símbolos...
     "Mas essas idéias imensas teriam queimado cérebros que eram demasiadamente limitados. Nem todos os alquimistas eram autênticos. A ganância atraiu para a Alquimia homens que visavam o ouro, alheios a qualquer esoterismo; eles compreendiam tudo literalmente e suas loucuras muitas vezes não conheciam limites.
     "Dessa fantástica cozinha de charlatães vulgares resultou a química moderna. Mas os filósofos verdadeiros, dignos desse nome, amantes ou amigos da sabedoria, cuidadosamente separaram o sutil do grosseiro, com cuidado e previsão, como exigia a Tábua de Esmeralda, de Hermes Trismegistos, isto é, rejeitavam o significado pertencente à letra morta e conservavam apenas o espírito secreto da doutrina.
     "Nos nossos dias, confundimos o sábio com o insensato e rejeitamos completamente tudo que não tem o selo oficial."
 
   O estudo do Nome de Deus nas suas manifestações constitui a base da Cabala. "Jeová", em hebraico, é escrito com quatro letras, Yod, He, Vau e He. A essas quatro letras foi dada uma significação simbólica. A primeira expressa o princípio ativo, a iniciativa; a segunda. o princípio passivo, a inércia; a terceira, o equilíbrio, a "forma"; e a quarta, o resultado ou energia latente. Os cabalistas afirmam que cada fenômeno e cada objeto está constituído desses quatro princípios, isto é, cada objeto e cada fenômeno constitui-se do Nome Divino. O estudo desse nome (em grego, o Tetragrama ou a palavra de quatro letras) e a constatação da sua presença em tudo é a meta principal da filosofia cabalística.
    Qual é o significado real disso?
    De acordo com os cabalistas, os quatro princípios permeiam e compõem todas as coisas. Portanto, constatando a presença desses quatro princípios nas coisas e nos fenômenos de categorias completamente distintas, entre as quais antes não percebera nada em comum, o homem começa a ver a analogia entre essas coisas. E, pouco a pouco, se convence de que tudo no mundo é construído de acordo com as mesmas leis, segundo o mesmo plano. De certo ponto de vista, o enriquecimento do intelecto e o seu crescimento consiste num aumento da sua capacidade de encontrar analogias. O estudo da lei das quatro letras ou do Nome de Jeová pode, portanto, constituir um meio para alargar a consciência. A idéia é muito clara. Se o Nome de Deus está realmente em tudo (se Deus está presente em tudo), então tudo devia ser análogo a todas as coisas, a menor parte deveria ser análoga ao todo, o grão de poeira análogo ao Universo e tudo análogo a Deus. "Tanto em cima, como embaixo."
    A filosofia especulativa chega à conclusão de que o mundo inegavelmente existe, mas que a nossa concepção dele é falsa. Isso significa que as causas das nossas sensações, que estão fora de nós, realmente existem, mas que a nossa concepção dessas causas é falsa. Ou, dizendo de outro modo, que o mundo em si mesmo, isto é, o mundo mesmo, sem a nossa percepção dele, existe, mas não o conhecemos nem podemos alcançá-lo, porque tudo que é acessível ao nosso estudo, isto é, todo o mundo de fenômenos ou manifestações, é apenas a nossa percepção do mundo. Estamos cercados pelas paredes de nossas próprias percepções e não podemos ver através dessa parede o mundo real.
    O propósito da Cabala é o estudo do mundo como é, do mundo em si mesmo. As outras ciências "místicas" têm exatamente o mesmo objetivo.
    Na Alquimia, os quatro princípios que constituem o mundo são chamados os quatro elementos. São o fogo, a água, o ar e a terra, que correspondem exatamente, no seu significado, às quatro letras do nome de Jeová.
    Na Magia, os quatro elementos correspondem a quatro categorias de espíritos: os espíritos do fogo, da água, do ar e da terra (os elfos, os gênios das águas, os silfos e os gnomos).
    Na Astrologia, os quatro elementos correspondem, de maneira muito remota, aos quatro pontos cardeais, o Leste, o Sul, o Oeste e o Norte, que, por sua vez, servem às vezes para designar várias divisões do ser humano.
    No Apocalipse, eles são as quatro bestas, uma com cabeça de touro, a segunda com a cabeça de leão, a terceira com cabeça de águia e a quarta com a cabeça de homem.
    E todos reunidos são a Esfinge, a imagem dos quatro princípios incorporados num só.
    O Tarô é, por assim dizer, uma combinação de Cabala, Alquimia, Magia e Astrologia.
    Os quatro princípios das quatro letras do Nome de Deus, ou os quatro elementos alquímicos, ou as quatro categorias de espírito, ou as quatro divisões do homem (as quatro bestas do Apocalipse) correspondem aos quatro naipes do Tarô: paus, copas, espadas e pentagrama (ou ouros).
    Cada naipe, cada lado do quadrado, que, como um todo, é igual ao ponto, representa um dos elementos ou comanda uma das quatro categorias de espíritos. Paus são o fogo ou os elfos, copas são a água ou os gênios das águas, espadas são o ar ou os silfos e pentagrama são a terra ou os gnomos.
    Além disso, em cada naipe o Rei representa o primeiro princípio ou o fogo; a Rainha, o segundo ou água; o Cavaleiro, o terceiro ou o ar; e o Pajem (Valete), o quarto princípio ou a terra.
    O Ás também significa fogo; o dois, água; o três, o ar; o quatro; a terra. O quarto princípio, então, reunindo em si os três primeiros, se converte no começo de um novo quadrado. O quatro se converte no primeiro princípio; o cinco, no segundo; o seis, no terceiro; e o sete, no quarto. Depois, o sete é outra vez o primeiro princípio; o oito, o segundo; o nove, o terceiro; e o dez, o quarto, completando assim o último quadrado.
    Os naipes pretos (paus e espadas) representam as qualidades ativas, a energia, a vontade, a iniciativa; e os naipes vermelhos (copas e pentagramas) expressam as qualidades negativas e a inércia. Nesse caso, os primeiros dois naipes, paus e copas, representam o bom, isto é, as condições favoráveis ou as relações amistosas, e os dois últimos, espadas e pentagramas, representam o mau, isto é, as condições desfavoráveis ou as relações hostis.
    Desse modo, cada uma das 56 cartas representa algo ativo ou passivo, bom ou mau, que provém ou a vontade do homem ou que chega a ele do exterior. Além disso, o significado de cada uma das cartas se complica de modos diferentes pela combinação do significado simbólico dos naipes e dos números. As 56 cartas juntas apresentam, por assim dizer, um quadro completo de todas as possibilidades da vida do homem. Esse é o princípio em que se baseia o uso do Tarô para a adivinhação.
    Mas a significação filosófica do Tarô é incompleta sem as 22 cartas ou o "Arcano Maior". Essas cartas têm primeiro uma significação numérica e, em seguida um significado simbólico muito complicado. Consideradas em seu aspecto numérico, as cartas formam triângulos equiláteros, quadrados e figuras similares, que têm diferentes significações, de acordo com as cartas que os compõem.
    
fev.09
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