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24 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


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Ás de Copas
ou
Carta 28 - Cavalheiro, no baralho Petit Lenormand
Geraldo Spacassassi
 
Ás de Copas: indica a explosão dos sentimentos, do amor e da beleza. É a força da natureza que irradia encanto e harmonia, que propicia abundância, fartura e fertilidade, mas que também pode ser traiçoeira e vingativa. Preenche os corações humanos com o frenesi das paixões e dos sentimentos, impulsionando-os ao relacionamento. Essa força é feminina, sensível, terna, submissa e doadora, mas também pode ser agressiva, infiel, falsa e instável. A manifestação sexual é apaixonada, afetuosa, amorosa e dedicada.
A Serpente, Rainha de Paus no Petit Lenormand
O Cavalheiro (Ás de Copas)
no baralho Petit Lenormand
Editora AGMüller, Suíça
 
Psicologicamente, é a Anima, definida por Jung como a representação psíquica da minoria de genes femininos presentes no corpo do homem (60% genes masculinos + 40% genes femininos). A Anima é, simultaneamente, um complexo pessoal e uma imagem arquetípica da mulher na psique masculina. A Anima condensa todas as experiências que o homem vivenciou nos seus encontros com a mulher no curso dos milênios. Numa abordagem mais específica, as características da Anima de um homem lhe são “moldadas” através de um “regulamento” dado, basicamente, pela mãe. Essa feminilidade inconsciente no homem, indiferenciada, inferior, pode manifestar-se no cotidiano de forma positiva ou negativa. Sob o aspecto positivo, cabe à Anima, em seu papel mais importante, colocar a mente lógica de um homem em sintonia com as energias sutis do mundo das emoções e dos sentimentos, com os valores interiores mais legítimos.
Em geral, como a mente lógica de um homem é incapaz de perceber fatos que estão escondidos em seu inconsciente, compete à Anima ajudá-lo a desenterrá-los. A Anima é ainda responsável pelo fato de um homem ser capaz de encontrar a parceira ideal; é a presença da Anima que faz com que ele se apaixone de repente quando vê uma mulher pela primeira vez e sabe imediatamente que aquela é “ela”.
A Anima encerra os atributos fascinantes do eterno feminino e proporciona ao homem a capacidade de se relacionar com o mundo exterior; é a expressão consciente de seus sentimentos. Em seus aspectos negativos, a Anima se manifesta através de despropositadas mudanças de humor e caprichos, sentimentos indefinidos, melancolia, irritação, ciúmes, depressão, insegurança e incerteza.
Cavalheiro: representa o princípio masculino, ativo, positivo, Yang, racional. Psicologicamente está associado ao princípio Logos, que se caracteriza por diferenciar e ordenar; representa a vontade, o agir, o verbo e o sentido; é um princípio eminentemente Solar. Para entendermos como o princípio Logos atua e se manifesta, principalmente nos relacionamentos externos – homem e mulher –, considero oportuno analisarmos os resultados obtidos em pesquisas realizadas nos Estados Unidos, divulgados pela psicoterapeuta junguiana Sukie Miller. Segundo essas pesquisas, o homem toma as palavras como informação; o seu maior medo é o de ser sufocado; o reconhecimento social é, para ele, muito importante; o homem tende mais à intimidação e à agressão, sendo sexualmente ciumento; não tem grande resistência ao estresse, tende a falar principalmente sobre coisas e funciona linearmente. Estas colocações, embora polêmicas, podem de maneira prática explicitar como esse princípio atua. Neste Baralho, o Cavalheiro representará o consulente do sexo masculino. Se o consulente for uma mulher, esta carta representa um homem influente em sua vida: pai, marido, amante ou chefe.
A definição de “Homem” está, em geral, fundamentada em padrões exteriores de comportamento social desenvolvidos desde a Idade da Pedra até os dias de hoje. São eles o físico forte, a agressividade, a ousadia, a racionalidade e a rigidez. Cabia ao homem prover o sustento e proporcionar condições mínimas de segurança para a família e o grupo. Desta forma, ao longo do tempo, foram construídos “valores masculinos”: ser forte, inteligente, acumular poderes e bens materiais. Essas virtudes são o que desperta a admiração das mulheres e do grupo como um todo, e a sua falta é vista como sinal de incompetência. Esse é o fundamento do Patriarcado.
Atualmente, os princípios Masculino e Feminino continuam a ser mal compreendidos em nossa sociedade. Nos primórdios da Humanidade, como atestam as religiões ou filosofias antigas, predominou o Matriarcado. A mulher dominava e reinava absoluta porque dava à luz. O processo gestação-nascimento era muito respeitado por ser facilmente visível e espantoso. Não se podia “ver” que cabia ao homem a fertilização do óvulo que originava o visível. Provavelmente, quando ocorreu a tomada de consciência de que o homem era o responsável pela fertilização, seu status no grupo foi elevado. Mas não foi esse o único fator responsável pelo crescimento de seu poder. As condições do meio ambiente determinavam a necessidade crescente de dominar a natureza hostil e promover a segurança do grupo; e, como nessa tarefa os homens se destacavam como lutadores e caçadores, isso muito contribuiu para que assumissem o comando do grupo e, conseqüentemente, o Patriarcado fosse instaurado. Desde então, uma guerra filosófica também se desenvolveu a respeito do que era melhor – o princípio Masculino ou o princípio Feminino –, tendo isso ocorrido porque deixamos de compreender a base do simbolismo que fundamenta esses princípios. Os símbolos foram aplicados confusamente ao homem e à mulher biológicos, desconsiderando que esses princípios transcendem as formas e estão permanentemente entrelaçados um ao outro.
Como os princípios Masculino e Feminino podem ser simbolizados na forma humana, é fácil interpretar erroneamente o conceito filosófico e dotar o homem físico com o poder do “Princípio Masculino” e a mulher física com o poder do “Princípio Feminino”. Essa má interpretação separa os símbolos usados para definir a Força da Vida, e nós acabamos com duas metades que lutam entre si.
O ser humano completo e inteiro é aquele que engloba e harmoniza as duas polaridades. Para que possamos melhor entender esta questão, é oportuno analisarmos de forma sucinta os princípios da psicologia de Jung. Sua idéia central é o conceito de Individuação, isto é, o processo pelo qual a pessoa vai se tornando progressivamente, durante toda a vida, um ser pleno e unificado, tal como almejado pelo Criador. As conseqüências disso são uma expansão gradual da consciência do ser e a capacidade sempre crescente de a personalidade consciente refletir o Self integral, o Eu Maior. O ego pode ser entendido como sendo o centro da consciência, o “eu menor” dentro de nós, aquela parte com a qual nos identificamos conscientemente. O Self, ou Eu Maior, é o nome dado à personalidade total, ao ser na sua potencialidade, ao ser que está dentro de nós, procurando, desde o início, ser reconhecido e manifestado através do ego ou “eu menor”.
O processo de individuação envolve o ser humano em problemas psicológicos e espirituais de grande complexidade. Um dos maiores problemas que encontra é a questão de aceitar o seu lado Sombra, aquele lado escuro, indesejado e perigoso da personalidade que está dentro de cada um de nós, e que entra em conflito com as atitudes e ideais conscientes. A rejeição da Sombra resulta numa divisão interior e no estabelecimento de um estado de hostilidade entre consciente e inconsciente, afastando-nos da possibilidade de nos tornarmos plenos. A aceitação e integração da Sombra é um processo muito difícil e doloroso, mas que tem como conseqüência o estabelecimento da unidade e do equilíbrio psicológico, que de outra forma não seriam atingidos.
Ainda mais difícil é a incorporação que o homem deve fazer de seu elemento inconsciente feminino, a Anima. Uma das maiores contribuições de Jung foi a demonstração de que o ser humano combina em si os princípios Masculino e Feminino. Segundo Jung, o princípio Masculino representa a Perfeição e o princípio Feminino representa a Totalidade. Para crescermos como seres humanos, para alcançarmos o Self, precisamos reconhecer a combinação desses princípios dentro de nós mesmos e nos outros. O homem geralmente se identifica com seu lado masculino e usa sua feminilidade no interior. A incorporação do elemento feminino na consciência do homem é uma questão psicológica de grande sutileza e dificuldade, mas necessária, pois caso ele não o consiga, não pode sequer ter esperanças de compreender todo o mistério de seu próprio Self.
Devemos ter sempre em mente que a psicologia da individuação mostra que a meta deste processo que leva ao Ser Total não é a perfeição, mas sim a integridade. Um indivíduo, na sua inteireza, nem sempre é inatacável, sem culpa e puro, mas é aquele em quem, não se sabe como, todos os aspectos foram integrados num ser pleno.
 
Outros Capítulos de O Baralho Petit Lenormand - Teoria e Prática
de Geraldo Spacassassi, que podem ser acessados no Clube do Tarô:
Carta 7 - Rainha de Paus / Serpente : texto completo
Carta 20 - 8 de Espadas / Jardim : texto completo
 
agosto.10
Contato com o autor:
Geraldo Spacassassi - www.spaca.com.br
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