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16 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  Lygia e Tarot - tópicos : Arcanos maiores | Naipe de Paus | Copas | Ouros | Espadas  
Lygia Fagundes Telles e os Caminhos do Tarot
O Naipe de Copas
Cláudia Ferrari
Ás de Copas no Universal Waite Tarot
 
Ás de Copas - Amor
Rosa. O Ás de Copas é representado por uma taça ou um coração. Sua energia está ligada ao amor mais que verdadeiro. Esta carta faz ponte com a carta dos Amantes e com o dois de copas.
No conto A Sauna, Rosa vende sua casa para o narrador poder ir viajar, faz um aborto para não comprometê-lo e acredita nas qualidades artísticas dele mais do que qualquer outro jamais acreditou. Porém, o narrador, fazendo concessões, uma atrás da outra, acaba rico, mas casa-se com Marina. Numa sauna alguns anos depois, ele reavalia seus erros, mas percebe que já é muito tarde para repará-los. A lição de Rosa e desta carta é o amor puro, aquele que quando se encontra, jamais se deve deixar escapar.
<-- Ás de Copas no Universal Waite Tarot
Dois de Copas - Romance
Gina e Oriana. A energia do Dois de Copas é de amor profundo e a representação desta carta é de um casal apaixonado. Gina e Oriana, no conto Uma Branca Sombra Pálida, são duas jovens de vinte anos que segundo o olhar da mãe de Gina, a voz narrativa da história, possuem uma relação íntima e muito intensa. Na história, a mãe de Gina interpela a filha de maneira preconceituosa e isso culmina no suicídio da garota. A lição do conto e da carta é a entrega profunda ao amor verdadeiro. Esta carta faz paralelo com a carta dos Amantes e com o Ás de copas.
Três de Copas - Celebração
Três Xícaras de Chá. O Três de Copas possui energia de celebração e a representação desta energia é através de três taças, que, aqui, são três xícaras de chá. No conto Um chá bem forte e três xícaras, Maria Camila e sua empregada estão preparando um chá para uma jovem convidada que se supõe ser a amante do marido de Maria Camila. Durante este preparo, Maria Camila intui também que o marido pode aparecer de surpresa. Esta celebração não é de felicidade e sim de constatação dos fatos apesar da impotência diante da situação. Aqui mais uma vez vemos o confronto entre jovens e idosos exposto de maneira brutal. A lição deste conto e desta carta neste contexto é a vitória que se celebra quando colocamos a vida e os relacionamentos em pratos limpos.
Cartas de 2 a 5 no Naipe de Copas do Universal Waite Tarot
Cartas 2 a 5 no Naipe de Copas do Universal Waite Tarot
Quatro de Copas - Reavaliação
Anão de Jardim. O Quatro de Copas geralmente é representado por um jovem pensativo, curvado entre quatro taças e fazendo um balanceamento de sua vida. No conto Anão de Jardim, um anão de pedra faz uma reavaliação do jardim que vive e que está prestes a ser demolido. Nestas lembranças, ele recorda os donos da casa, analisa a sua situação de prisioneiro daquela pedra e metaforicamente fala em espiritualidade e transcendência. Mais uma imagem recorrente da obra de Lygia, este anão que aparece no romance Ciranda de Pedra, além de presente em outros contos, é o símbolo do homem preso em seu corpo e eternamente em conflito com a alma que quer ser livre. A lição do conto e da carta é, após a reavaliação, tentar ultrapassar os limites pessoais.
Cinco de Copas - Desapontamento
Helga. O Cinco de Copas é a carta das decepções, sua energia é representada por um jovem de cabeça baixa ao lado de cinco taças caídas no chão. No conto Helga, o personagem Paul Karsten narra suas façanhas na Alemanha nazista e seu envolvimento com Helga (a jovem sem uma perna) com quem ele se casa. Na noite de núpcias, ele rouba a perna ortopédica da esposa para vendê-la e ter o capital para fazer sua fortuna (e talvez seja esse mesmo brasileiro alemão, “Herr Paul”, que, no romance As Meninas, vai parar na Bahia e se une à mãe de Lião: “Quando o meu pai que é distraído à beça viu de perto o que era o nazismo, arrancou a farda e veio trotando por aí afora até Salvador. Difícil, dificílimo entender uma fuga dessas, não fosse o cinema.”). E Helga, a jovem que perde o marido e a perna ortopédica na noite de núpcias, é quem representa a energia deste arcano. A lição de Helga e desta carta é que a decepção faz parte da vida e, às vezes, ela é que fortalece e prepara a pessoa para futuros êxitos em outras circunstâncias.
Seis de Copas - Memória
Potyra. O Seis de Copas é uma carta de energia juvenil e geralmente é representada por crianças, seis taças e lembranças doces. No conto Potyra, o nosso narrador é uma espécie de vampiro que, através do contato com sangue estrangeiro, aprende línguas. Após enfrentar adversidades na Europa, decide migrar para o Brasil. Lá conhece Potyra, uma linda índia catequizada. Neste contexto o narrador se envolve com a tribo e aprende com o cacique a alimentar-se de outra maneira, substituindo aos poucos o sangue humano por sangue animal e, posteriormente, por seiva vegetal. Aprende sobre o respeito que tem este povo catequizado, tanto pela cultura que veio de fora quanto pela própria. Porém, o doce sonho desta nova maneira de viver se desfaz quando Potyra é assassinada por um dos colonizadores da terra e o narrador decide partir outra vez. A lição de Potyra e desta carta é a lembrança, é levar os nossos afetos para sempre em nossos corações. O que é realmente importante, jamais deve ser esquecido. “Potyra está me esperando no sol.”
Cartas de 6 a 9 no Naipe de Copas do Universal Waite Tarot
Cartas 6 a 9 no Naipe de Copas do Universal Waite Tarot
Sete de Copas - Ilusão
A Pomba Enamorada. O Sete de Copas é a carta das quimeras, dos desejos impossíveis que em determinados momentos da vida confundem-se com a realidade. Esta carta geralmente vem representada por sete taças cheias de moedas, doces, louros de vitória e corações. No conto A Pomba Enamorada, claro está, desde o momento em que Antenor pede licença para fumar lá fora, que ele não está interessado na princesa do baile. Entretanto, a energia desta carta de ilusões faz com que quanto mais ele dê mostras de que não quer, mais ela se iluda de que o amor infinito, mas unilateral, pode vencer tudo. A lição desta carta é abrir os olhos e ler os sinais do início para que o final não seja um grande tombo. Mas como a esperança sempre é a última que morre, depois da queda ela se levanta e tenta outra vez.
Oito de Copas - Sacrifício
O Lagarto. O Oito de Copas é uma carta de sacrifício e de dificuldades. Geralmente representada por taças caídas, a energia desta carta parece o caminho de um escritor de cabeça baixa e calado, que vai abrindo com as mãos em garra o seu caminho. E transpirando… No conto Verde Lagarto Amarelo, Rodolfo é este escritor. Um personagem gordo, desconfortável, que transpira muito, sem estabilidade na carreira e que faz o sacrifício de tentar conviver com Eduardo, o irmão lindo, bem-sucedido, bem-casado, que é elegante até para dobrar a manga da camisa na medida exata. Uma carta de energia muito difícil, traz como lição o fortalecimento através das dificuldades. E a força de Rodolfo está neste irmão que faz tudo melhor do que ele e que ele tenta evitar. Porém, essa tentativa mais atrai Eduardo, que ama o irmão profundamente e faz questão de estar sempre se fazendo presente. A dor desta convivência fortalece Rodolfo sem que ele perceba.
Nove de Copas - Preenchimento
O Noivo. O Nove de Copas é uma carta que possui energia leve, tranquila e de felicidade representada por nove taças. No conto O Noivo, observamos esta energia fluindo de maneira graciosa quando o noivo acorda no dia do casamento sem lembrar da noiva. Como num jogo de detetive, ele vai imaginando primeiro quem irá se casar. Depois de constatar que o noivo é ele próprio, vai imaginando, entre todas as mulheres que passaram por sua vida, qual delas seria a noiva. Enquanto isso, o melhor amigo vai dirigindo o carro para a igreja sem lhe dar nenhuma pista. O vácuo da memória é preenchido quando ele levanta o véu. E justamente nesta, ele não tinha pensado! A lição do conto e da carta é o preenchimento das lacunas da vida para que possamos estar de posse do todo.
Dez de Copas - Sucesso
Natércio e suas três filhas. O Dez de Copas é a carta dos resultados positivos e esta energia é representada pela reunião de uma família ditosa. No romance Ciranda de Pedra, Natércio (o ex-marido de Laura) representa esta energia opondo-se a Laura e Daniel (o amante). Pois, apesar do grande amor de Laura e Daniel, ambos acabam sendo tão patéticos quanto Anna e Vronsky de Leon Tolstoy. Enquanto Karenin (o marido de Anna) fica com a guarda de Serezha, o filho que teve com Anna, da pequena Anna a filha do Conde Vronsky com sua esposa, fica ambém com o respeito da sociedade e com o dinheiro. Nada sobra ao casal adúltero Anna e Vronsky, exatamente como acontece a Laura e Daniel. Em Ciranda de Pedra, Natércio – como no caso de Karenin de Tolstoy - fica com as três filhas, com o respeito da sociedade e com o dinheiro. E ainda que com Virgínia (a filha de Daniel) o relacionamento de Natércio seja mais formal, a garota o respeita, pois ele é o pai provedor que a assume e a acolhe. A lição de Natércio e desta carta é mostrar o quanto o êxito familiar atua como alicerce de toda uma vida.
 
Dez de Copas do naipe de Paus no Universal Waite Tarot
Pajem/Pricesa de Copas - Carinho
As folhas. Esta carta representa o carinho juvenil de uma donzela. Ligada à energia feminina da juventude, esta carta nos traz uma jovem que é dócil, linda e que não mede esforços, arriscando pés e mãos por entre os espinhos, para extravasar seus sentimentos de carinho. No conto Herbarium, a energia desta cartaestá representada na figura da jovem devota que recolhe folhas para a coleção do primo botânico, convalescente de uma doença. A lição que nos dão o conto e a carta é o desabrochar da juventude e de seus anseios. Da menina que quer parecer mulher aos olhos deste primo, mas que ainda não está preparada para isto. Ainda que a juventude passe tão rápido, esta jovem é determinada e quer crescer rápido e esse desejo, em parte, já é amadurecimento.
Cavaleiro de Copas - Charme
Marcelo. O Cavaleiro de Copas é um jovem encantador. Esta energia geralmente é  representada por um rapaz montado num cavalo. No conto As Cerejas, Marcelo é o jovem parente que se hospeda na casa da madrinha da narradora da história e fascina tanto a narradora menina quanto a Tia Olívia. Porém, é com a Tia Olívia que ele acaba tendo um encontro amoroso que a narradora presencia sem querer. A lição do conto e da personagem é a sedução e o erotismo que fazem parte da vida.
figuras de Corte no Universal Waite Tarot
Valete, Cavaleiro, Rainha e Rei no Naipe de Espadas do Universal Waite Tarot
 
Rei de Copas - Consideração
Eduardo. O Rei de Copas é uma figura generosa e paciente. Geralmente é representado por um rei sentado em um trono segurando uma taça. No conto A Ceia, Alice e Eduardo marcam um último encontro. A relação desfeita é descrita através do cenário triste e degradante de um restaurante vazio e escuro. Com dureza e rispidez, de novo Lygia trata da relação entre jovens e idosos. Eduardo, o jovem que rompeu com Alice, a velha, está tranquilo com a situação, enquanto ela sofre com a separação. Generoso, ele tenta mediar a situação sem sucesso. Depois que ele se vai, o golpe mortal vem do garçom que diz a ela: “Também discuto às vezes com a minha velha, mas depois fico chateado à beça. Mãe tem sempre razão.” A lição do Rei de Copas e deste conto é a consideração tanto de Eduardo quanto do garçom, embora neste caso ela seja ainda mais dolorosa do que o desprezo.
Rainha de Copas - Empatia
Otávia. A Rainha de Copas simboliza a beleza, a empatia e a sedução. Ela é a “Afrodite do Tarot”. Geralmente é representada por uma mulher linda sentada em um trono segurando uma taça. No romance Ciranda de Pedra, Otávia é meia-irmã da protagonista Virgínia que, desde a infância, atraiu para si todas as atenções (em especial de Frau Herta, a governanta da casa do pai, e também de Conrado, fato que amargou a infância inteira de Virgínia). Otávia cresce e vira pintora. Na verdade ela não era tudo aquilo que Virgínia acreditava, mas se transforma numa jovem fiel aos seus valores e às suas verdades pessoais, independentemente do que ditava a sociedade. A lição de Otávia e da Rainha de Copas é o deleite e tentar aproveitar ao máximo o que de melhor a vida tem para oferecer.
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Contato com a autora:
Cláudia Ferrari é licenciada em Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira pela USP.
É autora do romance American Bar publicado pela Ed. América Literária, em 2006.
Entre vários escritos, tem a peça Take Me With You, escrita em parceria com o
dramaturgo italiano Mario Fratti, publicada nos EUA pela S.S.Literary Agency em 2011.
Para mais informações, consultas, cursos, palestras e eventos:
www.clauferrari2003.wix.com/clauferrari#!gallery
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Revisão: Ivana Mihanovich
Edição: CKR – 30/06/2015
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