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27 de julho de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


Artes & expressões nos tempos da pandemia
Arte nos tempos de Pandemia - Em aberto
Vale a pena ver de novo?
Conforme ressaltei na minha última matéria, A Arte de Viver a Vida (25/05/2021), entre maio 2020 e maio de 2021, o Clube do Tarô abordou exaustivamente o tema A Arte em Tempo de Coronavírus, sob várias perspectivas, indo além do seu propósito básico, ou seja, Tarô e Linguagens Simbólicas. O tema se impôs naturalmente permeando os demais assuntos explorados pelo site.
Em abril do ano passado, já não podíamos mais ignorar a tragédia que avizinhava o Brasil, em particular, e o planeta como um todo, desde o final de fevereiro de 2020, período que marcou o aumento global do número de mortes por síndrome respiratória aguda grave. Imagens de dilacerar a alma passaram a se intensificar e circular pelo mundo através das mídias sociais.
Vale a pena ver de novo? - Cristo Redentor e Pais trabalhadores
Cristo Redentor respirando por aparelhos  e  Pais trabalhadores transformados em herois de HQ
Capa da revista Economist  e  ilustração de Tomo Taka, artista londrino (Fubiz Media)
Algo começava a chamar a atenção gerando medo e ansiedade na população global. O coronavírus era (e continua sendo) uma doença que se alastrava com velocidade preocupante e afetava, sobretudo, a população mais vulnerável, composta por idosos e/ou pessoas que apresentavam alguma comorbidade. Hoje, esse diferencial já não é tão claro, pois passado 14 meses do início da pandemia e com várias cepas em circulação, o vírus vem atacando com a mesma ferocidade gestantes, recém nascidos e crianças de várias idades. Enfim, o referido vírus tornou-se um agente democrático causador da doença: que ironia!
Desde que o mundo é mundo que as grandes calamidades e fatalidades, sejam elas naturais ou provocadas pela raça humana, servem de inspiração para muitos artistas (e também para amadores simpatizantes das artes) que buscam por meio delas elaborar os significados dos conflitos e os vazios individuais e coletivos, assim como usá-las como apoio para suportar os medos, as angústias, as tristezas, as perdas e a solidão oriundas de situações adversas. A arte tem o poder de produzir novas formas de ver e pensar a vida e é capaz de efetuar uma transformação positiva da realidade.
Com o isolamento social e físico causado pelo coronavírus, as varandas e janelas tornaram-se as únicas maneiras seguras – e não virtuais – e conexão presencial. Por outro lado, a internet se tornou a principal ferramenta de diálogo e entretenimento e o consumo de produções artísticas ficou mais amplo, gerando inclusive diversos museus para abrigar os acervos das obras virtuais sobre a pandemia, a exemplo do "Museu do Isolamento Brasileiro", "The Covid Art Museum" e "Artes Virais", dentre outros.
Vale a pena ver de novo - Online friends
Gripless – Personagens da cultura pop em quarentena
Artista nova-iorquino retrata o cotidiano de ícones da cultura pop em isolamento social.
In: www.nerdizmo.uai.com.br
Podemos afirmar que se por um lado a arte ficou fragilizada com ações de fechamento de museus, suspensão de shows ao vivo, adiamento de festas populares etc., por outro lado houve um fortalecimento das mesmas via on-line por meio de lives musicais de artistas, visitas virtuais em museus, passeios turísticos online em cidades históricas e por aí vai. Se a pandemia arrefeceu os contatos presenciais ela multiplicou exponencialmente os contatos virtuais. A arte de tempo de pandemia e a tecnologia se unem para representar nossas aflições através de uma linguagem universal. Afinal, a arte tem o poder de expressar sensações e situações difíceis de traduzir em palavras.
Para o psiquiatra Paulo Amarante, a relação entre arte e saúde mental é mais comum do que se imagina. "Poucas pessoas sabem, mas o surrealismo foi criado por um psiquiatra, André Breton.  A ideia do surrealismo era propiciar a emergência do inconsciente sem as limitações impostas pela sociedade, deixar aflorar os sonhos, pesadelos e desejos mais profundos. E a arte foi um dos grandes pontos do movimento surrealista, na pintura, no cinema, no teatro. Ela tem a capacidade de se aprofundar na alma das pessoas, nos desejos, nos instintos, no que há de mais obscuro e dar luz, e isso é profundamente criativo". [Fonte: ComCiência]
Para o psicólogo e doutor em saúde coletiva da Unicamp, Bruno Emerich, a arte tem feito um papel de conexão na pandemia. "Estamos vivendo um momento de incertezas e inseguranças, em que muitas pessoas estão entrando em contato com dimensões da sua própria vida, da sua história e do seu próprio sofrimento, sem necessariamente ainda ter construído estratégias para lidar com isso. É algo bastante complexo, tem diferentes perspectivas, mas, de certa forma, a cultura ou a conexão com algo artístico que faça sentido para a pessoa pode ajudar". Além do impacto pessoal, a arte também é importante para o convívio em coletivo, detalha o especialista: "Podemos pensar na dimensão cultural como algo que aproxima, apesar da distância, e que conecta, apesar das diferenças. É uma forma de ampliar a compreensão e o sentimento desse momento para todo mundo". [Fonte: ComCiência]
Vale a pena ver de novo - Músicos na Janela
Juliana Sucupira, musicista que no auge da pandemia começou a cantar da sua varanda.
Foto: Wilton Junior/Estadão. 21/04/2021 - https://cultura.estadao.com.br/noticias/
musica,na-pandemia-musicos-profissionais-e-amadores-soltam-a-voz-nos-palcos-de-casa
A pergunta que fica neste momento é "Alguém vai querer consumir arte sobre a pandemia depois que ela acabar? " A questão foi colocada em reportagem da Folha de São Paulo, publicada dia 13/06/20, escrita por Walter Porto, cuja matéria teve a participação da professora Paula Peron (Psicologia da PUC-SP) que assim se posicionou: "A arte dá forma, dá palavras e discurso para algo que nos preocupa, mas não encontra uma narrativa". Para ela, a exemplo do pós-guerra, a psicologia do trauma ajuda a entender como vamos lidar com coronavírus na cultura.
Não são poucas as razões para querermos deixar o coronavírus para trás. Só no Brasil, já são mais de  475 mil mortos até o momento (na época da reportagem eram 41 mil mortos) e um número imenso de familiares enlutados, maior até se levarmos em conta as subnotificações de mortes ocorridas nas unidades do SUS e nas UPAs, além das mortes ocorridas em casa ou em frente aos hospitais, por falta de recursos para atendimento dos pacientes ( tempo curto para atender todas as pessoas que procuram socorro nas unidades médicas, falta de profissionais de saúde disponíveis para os  atendimentos necessários, ausência de vagas em UTIs superlotadas e/ou  inexistência de kit entubação).
Mesmo quem não foi infectado amargou a clausura de casa e o medo do contágio. A vontade de superar isso tudo impulsiona, aliás, um movimento de reabertura de espaços públicos que boa parte dos especialistas julga prematura (ainda hoje, um ano depois). E isso, junto com o negacionismo, ausência de liderança política responsável, falta de campanhas de esclarecimento para a população, falta de vacinas e a extrema pobreza de 35 milhões de pessoas (16% da população, de acordo com os dados FGV Social) no território brasileiro, forma o caldo adequado para a terceira onda do coronavírus no Brasil, com cepas muito mais letais, cujo contorno e consequências já estão à vista.
Voltando à questão chave, levantada anteriormente "Alguém vai querer consumir arte sobre a pandemia depois que ela acabar? acrescenta-se " Por que alguém iria querer prolongar mais ainda um martírio que já dura meses consumindo arte sobre a pandemia, depois que o pior passar?" Essas questões são respondidas, na reportagem de Walter Porto, por dois estudiosos do assunto: o Professor da UNICAMP Márcio Seligmann-Silva e a Psicanalista Alessandra Parente.
Vale a pena ver de novo - Preso em casa
Preso em casa.
Jonh Holcroft retrata problemas em tempo de coronavírus.
"Por que ler Primo Levi? Por que ver "Shoah"?", retruca Márcio Seligmann-Silva, citando o escritor italiano e a série documental de Claude Lanzmann que estão entre os testemunhos mais duros do Holocausto. "Porque existe uma demanda social, psíquica e coletiva da comunidade dos afetados, dos traumatizados."
Toda arte sempre teve algo de inscrição do próprio testemunho na história, segundo o professor de teoria literária da Unicamp, que se dedica a estudar a relação entre memória e literatura.
A procura das pessoas por obras que recontam grandes sofrimentos está ligada à necessidade de elaborar seus próprios traumas. "Todo mundo passa por vivências traumáticas na vida. A gente busca essas inscrições e se identifica com elas. A recepção dessas obras de arte é um ato profundamente autorreflexivo." Crédito: Folha de São Paulo
"A arte não deve ser só um lugar de refúgio", aponta a psicanalista Alessandra Parente, doutora em psicologia social e do trabalho pela USP. Um bom trabalho artístico, segundo ela, não é apenas aquele que anestesia, que alivia dores, mas aquele que enfrenta o desafio de articular o que não entendemos bem.
"O que está acontecendo agora é uma coisa tão inédita que ainda não temos formas cognitivas e intelectuais para decifrar. A arte é fundamental para começar a configurar esses afetos e pensamentos."
"Não é exagero algum dizer que a humanidade está passando por um período de trauma coletivo. O choque provocado pela abundância de morte e de pavor é tamanho que não temos, de pronto, nem imagens nem palavras para descrevê-lo." [Crédito: Folha de São Paulo]
Texto de Vera Vilanova
Edição: CKR 7/06/2021
A arte de viver a vida
Em abril de 2020, um mês após o início da pandemia, propus a Constantino lançar no Clube do Tarô uma coluna sobre a Arte em Tempo de Coronavírus. A ideia era identificar, comentar e registrar as manifestações artísticas surgidas durante o confinamento social e físico imposto pela COVID 19. Sendo assim, a coluna teria uma data de início, mas não teria uma data de finalização, pois esta estaria vinculada ao término da pandemia, que todos nós, ingenuamente, achávamos que seria janeiro de 2021.
Arte em tempo de coronavirus
De rápida comunicação visual, a arte urbana pode irradiar hábeis mensagens para auxiliar a formação de uma consciência coletiva na luta contra a covid-19
Fonte: Revista Eletrônica ComCiência - Pixabay
Embora o assunto, A Arte em Tempo de Coronavírus, fugisse ao foco do site (Clube do Tarô - Tarot e Linguagens Simbólicas), minha sugestão para lançamento da coluna estava alicerçada pela (pre) visão de que iríamos viver um período trágico e muito importante para humanidade e que, por isso, o Clube do Tarô precisava redimensionar suas fronteiras de forma a abarcar o assunto, o qual não poderia ser ignorado face à dimensão mundial que o mesmo estava tomando, gerando uma tormenta histórica sem precedentes no mundo desde 1918, quando fomos atingidos pela gripe espanhola.
E foi assim que tudo começou. Era preciso resistir a esse mundo louco, diferente e desestabilizador - diariamente. Era preciso instrumentalizar as pessoas para confrontar com equilíbrio suas perdas e os absurdos vividos durante esta época. Era preciso fortalecer, física e mentalmente, o povo. E nada se iguala à arte, qualquer que seja ela, como ferramenta de resistência.
Historicamente, epidemias, contaminações, pestes e guerras sempre serviram de inspiração para muitos artistas. A grande diferença é que hoje encontramos representações praticamente imediatas da crise que se instaurou no mundo.
Arte na pandemia - Aquarela surreal de Marija Tiurina
Aquarela surreal de Marija Tiurina sobre pensamentos confusos e ansiosos durante o isolamento social.
Fonte: https://nerdizmo.uai.com.br
Em meio ao surto de Covid-19, a indústria cultural também sofreu consequências, mas o vírus não impediu que a arte acontecesse — seja para documentação histórica ou para a construção de uma nova realidade.
De abril de 2020 a março de 2021 falei, no Clube do Tarô, de arte de rua (grafitti), cartoon, desenho animado, filme, música, moda, fotografia, poesia, arte na varanda (música para os vizinhos), documentário e uma série de outros temas. Abordei manifestações artísticas feitas por famosos (Rolling Stones, Sebastião Salgado etc.) e também de expressões virais realizadas por anônimos (Leonardo Mareco, Léo Saldanha etc.).
Documentei a arte pré-pandemia, mas afeita a mesma, como a obra de André Caramuru Aubert, assim como a arte idealizada pós pandemia, a exemplo, de um mural de Eduardo Kobra.
Após alguns meses buscando novos assuntos para incluir na coluna, tomei conhecimento do " The Covid Art Museum": a primeira galeria de arte (virtual) criada em tempos de pandemia, projeto que nasceu pelas mãos de três amigos espanhóis, Emma Calvo, Irene Llorca e José Guerrero, onde tudo se passa na rede social Instagram. Descobri também o "Museu do Isolamento Brasileiro", o 1º Museu digital do Brasil - sem barreiras nem fronteiras - criado pela jovem Luiza Adas, de 23 anos, hospedado também no Instagram; assim como as Artes Virais, um acervo virtual de artes produzidas no mundo durante a histórica pandemia.
Arte na pandemia - de mãos atadas
Arte de rua de autor não identificado.
Fonte: Jornal da Record
Com esses três robustos canais, dedicados ao registro e documentação das obras de arte geradas durante a pandemia do coronavírus, surge uma questão: até que ponto a população brasileira e a mundial, estará disposta, no futuro, a consumir uma arte que lhe remete a um tempo de sofrimentos físicos e psicológicos e de absurdos sociais e políticos. Com a pandemia, fomos literalmente forçados a entrar de cabeça na virtualidade.
Então, não é uma revolução positiva, redentora. E ainda não sabemos como a arte vai lidar com essa natureza. Um outro questionamento a ser feito é se a Covid-19 pode reinventar a arte que consumimos, mas ainda é cedo para prever o que vai mudar.
Os horrores da peste foram traduzidos em diversas obras de arte dispostas em museus e prédios históricos mundo afora.
"O holandês Pieter Brueger (The Elder) traduziu o avanço devastador da peste sobre as instituições sociais e as coisas mundanas ao pintar O Triunfo da Morte, um quadro a óleo de 1563 que está exposto no Museu do Prado, em Madri. Outro exemplo é a gravura Doctor Schnabel von Rom, obra do alemão Paulus Furst, que retrata a vestimenta usada pelos médicos em Roma durante a epidemia de peste e integra o acervo do Museu Britânico". Na literatura, por sua vez, um gênero inteiro foi criado. Autores que viveram a peste e muitos anos depois dela escreveram obras sobre os horrores da época. Entre as mais conhecidas está A Peste, de Albert Camus. (Fonte: UOL)
Arte na pandemia - proteção dos profissionais de saúde
Ilustração de Alireza Pakdel: Profissionais da saúde contra o coronavírus
Fonte: https://nerdizmo.uai.com.br
"É um momento de reflexão, para pensarmos na relação entre corpo e máquina, de entender as fronteiras entre privado e vida pública, os graus de intimidade. São coisas que entram na equação da arte como construção de conhecimento e interface", comenta Martin Grossman, Professor Titular da USP, em entrevista a UOL. O ator e dramaturgo Vitor Rocha se coloca no processo de busca por respostas ao pensar o que será da arte a partir da Covid-19. "O grande desafio, agora, é encontrar um jeito novo de fazer arte para que ela chegue até as pessoas. É pelo celular? Produzida para postar numa rede social? Não são coisas estudadas numa escola de artes, e é uma grande oportunidade" afirma lançando a mesma indagação para a literatura e o teatro. (Fonte: UOL)
"Acho que as epidemias moldaram a história em parte porque inevitavelmente levaram os humanos a pensarem sobre grandes questões", disse o médico Frank Snowden, em entrevista à revista The New Yorker. "As epidemias parecem levantar um espelho para enxergarmos quem realmente somos, e nem sempre [o espelho] mostra só o lado obscuro, ele também revela nosso lado heroico." (Fonte: The New Yorker)
Texto de Vera Vilanova
Edição: CKR 24/05/2021
Sobre as nossas cabeças um verdadeiro apocalipse
Em abril de 2020, quando o coronavírus se vestiu de pandemia sem sinais de arrefecimento, comecei a pensar sobre o que eu poderia escrever para o público do Clube do Tarô, que fugisse às notícias comuns e deprimentes, e que contribuísse para melhorar a ansiedade e o astral das pessoas confinadas, abordando um tema que fosse ao mesmo tempo do interesse geral e alimentasse a alma de quem os lesse.
Sobre as nossas cabeças um verdadeiro apocalipse - Monumento às Bandeiras
Trabalhador coloca máscaras no Monumento às Bandeiras para promover
o uso de máscaras em meio à pandemia de coronavírus, em São Paulo
Foto: Andre Penner/AP (12.05.2020)
Com esse intuito, passei a pesquisar e observar com mais cuidado as matérias publicadas em vários jornais e revistas (El País, Folha de São Paulo, revista Piauí, Época etc.) e percebi que, em geral, as notícias eram tristes, desanimadoras e muitas vezes desagregadoras. Eu precisava de algo que fugisse a esse padrão, pois meu objetivo era lidar com o coronavírus, dentro do possível, de uma maneira alegre, irônica e informativa, sem cair no linguajar comum da tragédia que estávamos passando, e que ainda hoje estamos vivendo.
E foi no campo da poesia que encontrei uma resposta para minha dúvida. Gosto muito de poesias e um dia, lendo o site Alguma Poesia (www.algumapoesia.com.br), encontrei um poema de André Caramuru Aubert, denominado "Se", cujo "texto curto, com apenas sete versos, parecia resumir a atual situação de pandemia global e pandemônio nacional, na qual o governo federal joga a favor do vírus e contra a vida dos brasileiros. Nesse contexto, como diz o poema — que foi escrito antes e obviamente refere-se a outra coisa — a cada manhã desenha-se a possibilidade de um verdadeiro apocalipse". (Carlos Machado, editor do site Alguma Poesia)
 
SE
como se a cada manhã,
a cada novo dia, o fim,
um fim horrendo, cruel e sujo,
um verdadeiro apocalipse, enfim
(você me entende?),
fosse uma possibilidade bastante real e concreta.
Dizem que os artistas de um modo geral e os poetas em especial mantêm uma comunicação direta com os deuses e por isso pressentem e anteveem fatos que se descortinarão no futuro. Bem(n)dito e feito. Em nossa coluna no Clube do Tarô A Arte em Tempo de Coronavírus pudemos constatar essa ligação divina através de vários posts sobre filmes, desenhos animados, músicas, livros etc., os quais descreveram antecipadamente, às vezes com minúcias, o que nos ocorreu em 2020 e tem ocorrido em 2021.
Com o isolamento social, os eventos culturais tiveram que parar, pois foram fechados os serviços não essenciais, dentre eles os teatros, museus e demais locais de exibições artísticas. Mas mesmo assim é possível ter contato com a arte. A arte nos coloca em todos os lugares do mundo e em todos os tempos, mesmo que o espaço no qual estejamos vivendo seja restrito e solitário. O confinamento nos causa ansiedade e é aí que devemos dar vazão ao nosso talento em doar e/ou receber demonstrações artísticas virais, afinal a arte é fundamental para mantermos a sanidade mental, física e psicológica num período tão confuso e avassalador.
Sobre as nossas cabeças um verdadeiro apocalipse - Coexistência - Mural de Eduardo Kobra
O artista brasileiro Eduardo Kobra posa para fotos com a obra Coexistência,
mural de sua autoria, em São Paulo
Foto: Rebeca Reis/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão (02.05.2020)
Abaixo podemos apreciar mais dois poemas de André Caramuru Aubert criados antes da pandemia, os quais também nos remetem ao isolamento físico necessário para combater e nos livrar do contágio do vírus.
 
Domingo
enjaulado nesta sala, neste apartamento
neste domingo ensolarado de céu muito azul
eu olho o tempo passar
sem ter o que fazer, para quem ligar
pego uma cerveja na geladeira e
lá fora, longe, uma motocicleta ruge, quebrando o silêncio
eu vou até a janela
e olho.
 
21:38
sentada no ponto de ônibus uma
mulher, sozinha, mexe no celular. na
esquina, um catador de lixo dobra caixas
de papelão para empilhar na carroça. a luz
branca do poste atravessa as folhas da sibipiruna,
salpicando o asfalto de manchas quase claras.
sabem ser bem tristes, às vezes,
as noites de são paulo.
André Caramuru Aubert é historiador, tradutor, romancista, poeta e prosador. Ultimamente colabora regularmente com o caderno Aliás, do jornal O Estado de S. Paulo, e com o jornal literário Rascunho, no qual apresenta e traduz poetas estrangeiros. Nascido em 1961, é um paulistano cujo objeto de inspiração é quase sempre a vida cotidiana e seus pequenos detalhes, com ênfase no seu relacionamento com a mulher amada.
Em entrevista dada ao blog "Como eu escrevo", de José Nunes, em 13 de fevereiro de 2020 (https://comoeuescrevo.com/andre-caramuru-aubert/), André relata como é seu processo de criação poética "Poemas só escrevo quando a ideia vem. Não forço. Posso escrever mais de um poema por dia, posso passar um mês sem escrever. E, mesmo quando escrevo por impulso, os poemas costumam sofrer, depois, um monte de alterações: cortes, acréscimos, mudanças de pontuação, de quebras de linha, trocas de palavras" (...)
Sobre a inspiração e ideias que lhe acontecem, explicita: "Não sei de onde todas elas vêm, mas posso dizer que fico inspirado quando leio. Borges dizia que é mais importante ler do que escrever, e no meu caso isso é uma verdade absoluta. Na realidade, para mim a leitura é uma condição essencial para a escrita. Mas não me faltam ideias, o que é escasso é o tempo. Tenho mais ideias do que capacidade e tempo para executá-las. Não sei, e digo isso com toda sinceridade, o que é "bloqueio criativo", que assombra tantos escritores de ontem e de hoje".
E complementa: "Não sei exatamente quando decidi que queria ser escritor, mas acho que foi bem cedo. De alguma forma, sempre soube que queria ser escritor. Cresci cercado por livros e minha família sempre esteve envolvida com livros e arte. Com dezoito anos eu já tinha uns duzentos contos escritos. Todos eles seguem inéditos, na gaveta, e assim devem permanecer, porque não são bons. Mas fizeram parte de um processo de aprendizagem e de amadurecimento que foi importante para mim. De qualquer forma, escrever é a única coisa que sinto que sei fazer. E já escrevi de tudo, não foi só literatura, não. Já fui colunista de jornal e de revista, já escrevi sobre história, tecnologia, surfe, marketing farmacêutico, meio ambiente, esporte de aventura, estatísticas de segurança no trânsito, e até mesmo... sobre livros!".
"Sempre achei, quando escrevia, que estava praticando, que nada deixaria de ser útil para meu objetivo mais importante, que era a literatura. Por exemplo, quando uma revista me encomendava um artigo de "três mil e quinhentos toques, para quarta-feira", aquilo me obrigava a uma disciplina, de forma, conteúdo e prazo que ajudava a me educar (...) Naturalmente, em contraste com todo esse universo de escrita por encomenda, com meus romances e poemas, posso me dar ao luxo de não ter pressa. Escrevo, reescrevo, apago, faço de novo... Se o meu próximo romance levar 15, 20 anos para ficar pronto, que assim seja".
Algumas características muito próprias me chamam atenção nos livros de poesias de André: em primeiro lugar a ausência de letras maiúsculas e os recuos de alguns versos em certos poemas, o que graficamente torna o texto mais elegante e delicado. Muito dos seus poemas contém uma baliza indicando a inspiração, ou melhor sua lembrança no momento em que o poema surgiu ("depois de Li Po", " Depois de 'Next', de Charles Wright" etc.), mas esse marco não gera continuidade do tema abordado pelo mesmo, o que me leva a crer que a ideia por trás disso é apenas indicar a origem do seu trabalho, nascido muitas vezes da leitura de outros poetas. E finalmente, o que eu mais aprecio em seus livros que é a prosa embutida na poesia, a qual escorre pelas páginas harmoniosa e cadenciadamente, mantendo um diálogo contínuo com o leitor, o qual consegue visualizar a beleza, com riqueza de detalhes, das situações e fatos banais que compõem o nosso cotidiano.
Poesia e beleza estão estreitamente ligadas, entrelaçadas. Assim, podemos afirmar que os poemas de André é o belo em travessia pelas coisas da vida, o que pode estar em muitos elementos do dia a dia: no zupt, zupt, zupt, zupt do limpador de para-brisa do carro da mãe; num poema escrito para a mulher amada quando ela completou 22 anos; num questionamento que o autor faz se teve ou não uma infância feliz; numa mesa de almoço repleta de pessoas vozes altas; na gata deitada no banco, dormindo, ou quase...
 
 
Referências:
1) Como eu escrevo, de José Nunes - https://comoeuescrevo.com/andre-caramuru-aubert/
2) Número 339 e 444 do Boletim Poesia net, de Carlos Machado - http://www.algumapoesia.com.br/ poesia.htm
3) Entre/Vistas, de Artur Gomes - https://arturgumes.blogspot.com/2020/05/andre-caramuru-aubert-entrevistas.html
*   *   *
Sobre as nossas cabeças um verdadeiro apocalipse - André Caramuru Aubert
André Caramuru Aubert,  nasceu em São Paulo em 1961. É bacharel e mestre em História pela USP. Desde janeiro de 2014, seleciona e traduz mensalmente, para o jornal Rascunho, poemas de algum poeta estrangeiro, muitos dos quais inéditos no Brasil, número que já está chegando aos noventa. Colabora regularmente com o caderno Aliás, do jornal O Estado de S. Paulo.
Publicou cinco romances (Cemitérios, A Vida nas Montanhas, Acultura dos Sambaquis, Só uma estranha luz como pensamento e Poesia Chinesa) e três volumes de poemas (outubro/dezembro), As cores refletidas nas lentes dos seus óculos escuros e Se/o que eu vi), pela Editora Patuá. André ainda tem um romance inédito guardando publicação (Estevão) enquanto trabalha em outro (Pés Negros), além de preparar, para publicar em 2021, mais um volume de poemas.
Texto de Vera Vilanova
Edição: CKR 15/03/2021
O Eremita - Tarot e Solidão
Luís Parras apresenta o terceiro episódio da série sobre a solidão nesse período agudo da pandemia do Coronavírus.
Luís Parras é diretor de arte e trabalha em Salvador - Bahia.
Contato: lupa.parras@gmail.com
Aprecie os outros episódios: Papisa e Pendurado
11/02/2021
Desfile de modas Dior inspirado no Tarô
A Semana de Alta-Costura é um evento de luxo, que acontece na ultima semana de janeiro. Neste ano de 2021, devido ao Covid-19, todas as marcas substituiram a passarela por desfiles online. No caso da Dior, sua apresentação foi feita pelo vídeo Le Château du Tarot (O Castelo do Tarô) produzido pelo artista italiano, Matteo Garrone, com base no antigo Tarot de Visconti Sforza.
Desfile Dior com o Tarot
O Louco, o Mago e o Sol no desfile de modas Dior.
Essas imagens estão no vídeo que reproduzimos abaixo:
O famoso jogo de cartas italiano, o Tarô Visconti Sforza, pode ser visto na Galeria do Clube do Tarô e está disponível na www.loja.simbolika.com.br/oraculos/baralho-tarot/taro-visconti-sforza
Por sugestão de Carola Trimano, do Atelier Pássaro de Papel, reproduzimos outro vídeo do Desfile Dior, que se inicia com uma leitura de cartas:
Comentários de Fabíola Ciavaglia Fretz
É realmente um mergulho e insight, incríveis, que a Casa Dior nos brinda – e, por que não, nos homenageia!! - com tal obra de pura beleza, requinte, sensibilidade e muita magia!
Modelos na apresentação da Coleção Dior
Modelos da grife que promove uma explosão de arte e vanguarda.
Uma jornada artística-cultural, emblemática, histórica, no que toca a concretude de Saturno; mística e onírica, no que diz respeito ao belo toque de Netuno, em Piscis, andando de mãos dadas em parceria, sextilhando o desfile de Vênus, em Capricórnio, já quase em Aquário, mais Sol, Saturno, Júpiter e Mercúrio em Aquário à disposição de Urano em Touro.
Recomendo uma visita ao site da Dior:
Coleção Alta Costura Primavera-Verão 2021 - DÉFILÉS HAUTE COUTURE - Moda Feminina | DIOR
Fabiola 'Sofia' Ciavaglia Fretz 
é bailarina, terapeuta corporal, taróloga, astróloga.
www.instagram.com/_fabifretz__
ffretz@hotmail.com
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição CKR - 26-28/01/2021
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