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26 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  Crônicas de 2013: maio | abril | março | janeiro  
A mentalidade catastrófica: um resumo
Rui Sá Silva Barros
 
Historiador e Astrólogo
Em uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a ser um exercício de sobrevivência. Vive-se um dia de cada vez. Raramente se olha para trás por medo de sucumbir a uma debilitante nostalgia; e quando se olha para frente, é para ver como se garantir contra os desastres que todos aguardam. Assim começa o importante livro de Christopher Lasch, O mínimo eu, publicado em 1984 (durante o grande stellium de planetas lentos) e lançado aqui pela Brasiliense em 1986. Os exercícios de sobrevivência incluíam leituras, treinamento em mato, estoque de alimentos e construção de abrigos subterrâneos nos anos de 1970, e muitos mecanismos psicológicos. A origem desta mentalidade estava na explosão nuclear no Japão, nas ameaças de destruição total durante a Guerra Fria e na descoberta dos danos ambientais causados pela industrialização. Estes fenômenos foram muito intensos nos EUA e menos na Europa Ocidental que se recuperava da destruição da Segunda Guerra. Estas loucuras foram criadas no Ocidente.
O Sol incandescente
 
Na década de 80 descobriram que o fim do mundo podia render dinheiro e vieram livros, filmes e documentários. A ameaça ambiental e a nuclear eram resultados de ações humanas e, portanto, alteráveis e controláveis. Era preciso criar cenários devastadores que independessem de nós e para tanto asteroides e cometas foram convocados, bem como as marés da atividade solar. Depois os desastres climáticos e geológicos como terremotos, tsunamis, secas e enchentes; e a possibilidade de pandemia. São desastres perfeitamente possíveis, embora asteroides colidindo conosco (o último de grande impacto em 1908 na Sibéria) e intensa atividade solar (a última de grande magnitude foi em 1859) sejam eventos espaçados. Nem vale a pena tentar prever tais eventos, eles ocorrerão de qualquer maneira e seus impactos
serão devastadores, três dias sem telecomunicações e eletricidade serão caóticos. Já os desastres climáticos e geológicos valem a pena prever, eles não serão evitados, mas ao menos podemos criar organizações de emergência para lidar com isto. Há mais um ingrediente neste quadro e merece um tratamento pormenorizado.
A carreira da ufologia – Mesmo antes do acidente de Roswell (1947) já havia interesse em vida extraterrestre, Buck Rogers e Flash Gordon foram HQs no início da década de 1930 e o Super-Homem vinha do planeta Krypton que estava em destruição. O que pareciam inocentes devaneios permeados por romances juvenis já assinalavam os temores com as novas tecnologias (as pesquisas para a fabricação de bombas já estavam em andamento) e os tiranos estavam assumindo o controle da Europa e Japão.  As inquietações continuaram especialmente nos filmes como O dia em que a terra parou (1950), mas o grande estímulo veio da corrida espacial que gerou a série de TV Star Trek e o livro do impagável Van Daniken, Eram os deuses astronautas? O estrago que causaram é enorme.
A física fantasiosa de Star Trek deu uns frutos escabrosos, a quarta dimensão da teoria da Relatividade foi transformada em um mundo mágico e passou a provar a possibilidade de viagens no tempo. Uma física quântica totalmente fantasiosa foi usada para explicar fenômenos como telepatia e outros. Contribuiu intensamente para a atual prática de justificação científica de fenômenos dos mundos sutis, naturalmente os cientistas zombam disto, reservadamente para não contrariar a plebe.  Este é um aspecto do fenômeno, o outro é que os Ets eram grotescos, humanoides deformados, o que revigora muito nosso narcisismo cambaleante. 
Já o livro de Van Daniken deu origem a uma reavaliação fantástica da história humana: nossa espécie é uma modificação genética introduzida por ETs que produziram escravos para trabalhar na extração de ouro, metal escasso e absolutamente necessário em Nibiruta, o planeta deles. E há quem fique muito contente com esta história! Tudo isto foi criado a partir de uma interpretação delirante de um cilindro acádico, o VA 243 que está no museu de Berlim:
Cilindro Acádico
Os cilindros tinham duas funções: serviam como amuletos e como selos que autenticavam documentos. Este pertencia a Dubsinga, filho de Illaat, servo do deus X que é representado sentado e que pode ser Martu. A figura central é o secretário do deus e a da esquerda é o proprietário do selo que está requerendo uma audiência de súplica. Chamou atenção a figura do Sol enquadrado por uma estrela de seis pontas e dez esferas ao redor. A partir daí deduziram que os sumérios conheciam o sistema solar. O material astronômico/astrológico recolhido na Mesopotâmia não deixa a menor dúvida, eles tinham uma concepção geocêntrica e enumeravam o Sol, a Lua e cinco planetas correspondentes aos deuses. Os Anunnakis, juízes do Ikur – o mundo dos mortos –, foram transformados em ETs e o termo nibiru realmente existe em sumério e significa o verbo cruzar e o substantivo encruzilhada. Ademais é bom lembrar que a arqueologia do Neolítico mesopotâmico não deixa a menor dúvida: a construção de casas, a agricultura, a domesticação de animais, a tecelagem, olaria, a invenção da roda, a irrigação demoraram cinco mil anos antes que surgisse a escrita, os ETs com sua avançada tecnologia fariam tudo isto num piscar de olhos. Esta abordagem insensata é totalmente materialista e fascinada com tecnologia.
Esta imensa fantasia é agora divulgada em séries na TV a cabo e a única pergunta interessante a respeito é: por que tanta gente acredita nisto? A má-fé fica explícita quando observamos que a mitologia grega apresenta os mesmos deuses com outros nomes, então por que não usá-la? Porque a chiadeira seria grande. A partir da década de 80 este tema sofreu uma reviravolta, os ETs simpáticos de Spielberg tornaram-se cada vez mais malévolos, queriam destruir ou escravizar a humanidade, mais um ingrediente aos horrores que nos esperam. Sem contar com vampiros e zumbis que se alimentam da humanidade e máquinas inteligentes que tomam o poder. E para arrematar as coisas, os telejornais usam mais da metade do tempo para apresentar crimes hediondos e acidentes pelo mundo, a
 
ETs malévolos
Aliens, os alienígenas malévolos
humanidade não tem jeito e precisa ser governada por regimes fortes, é a conclusão sugerida.
Por último algumas igrejas cristãs reformadas começaram a tentar correlacionar os eventos contemporâneos com o livro do Apocalipse. Alguns chegaram à conclusão que a formação da União Europeia deu início ao processo, como se a construção de blocos fosse atividade da Besta, e neste caso por que não o Nafta, Mercosul, Asean e tantos outros? Outros concluíram que o Anticristo sairá da realeza inglesa, isto deve ser obra de humoristas porque a monarquia inglesa é um baile à fantasia que só produz escândalos e mais nada.
Kant foi muito otimista ao proclamar o fim da minoridade humana, a fé cega nas autoridades, no final do século 18. Na década de 1930 a humanidade permitiu e participou da emergência da barbárie em troca de segurança. Depois permitiu os danos ambientais em troca carros e eletrodomésticos. Agora permite experimentos em bioengenharia e a venda de órgãos, músculos, ossos e articulações no mercado negro de transplantes, em troca de uma vida longa. E mesmo assim os temores não vão embora, melhor um desfecho rápido para este pesadelo sem fim. Passado o calendário maia já temos outra data, 2019, num filme recente. Isto continuará a dar dinheiro.
Ao dar vazão aos temores, eles proclamam aos céus uma impotência desesperada que leva à inércia e passividade. O que podia ser denúncia é convertido em entretenimento e lamúrias. É certo que a civilização industrial está em declínio e, se nada for feito, teremos conflitos e guerras por água, terras, minérios e petróleo; mas tudo isto levará décadas com sobressaltos, angústia e sofrimento. Governos e grandes empresas -que já são quase a mesma coisa- não tomarão nenhuma providência, o trabalho deve ser feito pela grande maioria desorganizada da população.
Tudo o que foi dito acima não nega a existência dos ETS nem os enigmas da história humana. Eles provavelmente existem, mas enquanto não houver um contato público tudo não passa de especulação e há muita coisa a fazer. Quanto aos enigmas na história humana, aqui começa o esoterismo: as características e habilidades humanas variam ao longo do ciclo e algumas são embotadas no final, e o mundo divino intervém periodicamente em nosso mundo. Imaginar que egípcios e sumérios tiveram a mesma psicologia que nós temos, só mesmo sendo ingênuo como um neurocientista. Os seres grotescos que vemos em filmes e seriados são representantes dos pobres e maltrapilhos que vemos nas grandes cidades e nos países periféricos. Vampiros e zumbis são seres reais, mas não estão em nosso mundo o que lhes aumenta a eficiência. As máquinas inteligentes que nos dominam são a personificação de uma tecnologia fora de controle e usada para manter o poder.
Incêndio na Austrália
Incêndios na Austrália
Ag. Reuters - 2013
 
Em conexão com a mentalidade catastrófica está a teoria da conspiração, a atividade intelectual dos que têm preguiça de pensar. Isto fica para a próxima crônica.
Enquanto isto – vemos um inverno severo no Norte e um verão esquisito no Sul com variações bruscas de temperatura, secas e queimadas na Austrália. O ano promete uma desordem climática surpreendente e notícias marinhas nada animadoras: a poluição e acidificação crescem! Nos EUA, Obama e o Congresso jogaram a decisão do Orçamento e do teto da dívida para março com o Sol em oposição a Netuno natal da carta do país, boa sorte! Antecipada a retirada do Afeganistão, é preciso economizar, e depois de 10 anos o Taliban e a pobreza continuam  por lá,  espero
que os chineses apareçam para explorar as ricas minas e tragam um mínimo de organização.
Na UE, um grupo de intelectuais das mais variadas tendências lançou um manifesto, Europa: união política ou caos. A França começa a se atolar no Mali diante de uma ofensiva islâmica, efeito colateral da queda de Gadafi na Líbia, o Mali tem ouro, diamantes, minérios e um pouco de petróleo. A Inglaterra ameaça sair da União (sob protestos americanos) e muitas multinacionais encerram fábricas, mas Merkel conta em levar isto num banho-maria até outubro quando terá eleição com uma economia estagnada. Estamos no intervalo da ópera, o segundo ato começa em 2014 quando Urano e Plutão afligem o Sol dos EUA e 4 planetas em Capricórnio no mapa da União.
Em Israel há eleição e um novo partido ‘A casa judia’, dirigido por um empresário que proclama que a Cisjordânia é nossa, o diabo é o que fazer com as centenas de milhares de palestinos que habitam a região. Esse é o programa do Likud também, mas até agora ele não teve coragem para anunciar. A população israelense se conforma em viver em perpétuo estado de emergência! No Irã, eleições em meados do ano e a inflação, desemprego e carestia continuam a correr enquanto os recursos do orçamento são direcionados para a indústria bélica e as forças armadas, e a pressão de Urano e Plutão sobre a Lua e Ascendente continuam. O rotineiro massacre na Síria saiu das manchetes, já são mais de 60 mil mortos.
A China passa por um inverno severo com poluição enorme nas grandes cidades e vê o novo governo japonês se rearmar, uma notícia ruim para o Pacífico. Os governos japoneses não se conformam ainda com a derrota na Segunda Guerra e não cogitam pedir desculpas pelas barbaridades que cometeram naquela época: escravização de soldados para trabalhos forçados, bombardeios de populações indefesas, escravização de mulheres para prostituição e outras.
Poluição em Pequim
A poluição em Pequim
Na Índia a violência contra mulheres atingiu um novo patamar e gerou uma manifestação de repúdio, a rápida urbanização vai trazer novos conflitos e um punhado de bilionários ostenta uma riqueza que acabrunha a metade da população que ainda vive da mão para a boca.
Em Pindorama o governo se enrola cada vez mais. A imprensa politizou o julgamento do mensalão e deu início à eleição de 2014, o que é péssimo para o país, pois o governo coagido toma medidas em vista da popularidade e deixa de fazer o que é necessário. Saturno retrogradará até o Marte do mapa natal e veremos o governo acuado novamente, política e economicamente. A presidente mantém a popularidade por conta dos milhões de empregos criados, da manutenção da renda popular e da adição de 40 milhões de pessoas aos bancos e crédito. Ela receia que o baixo crescimento arruíne este quadro, a inflação incomoda, o estado dos reservatórios de água e a rede de transmissão elétrica prometem sobressaltos (logo para ela que fez a carreira política lidando com o setor!), o câmbio não pode desvalorizar mais senão ameaça acelerar a inflação.  E em meio a este tumulto um deserto de ideias. Economistas e jornalistas de oposição clamam por juros mais altos para controlar a inflação, cortes no orçamento (aonde não dizem, é impopular), privatizar isto e aquilo (com empréstimos do BNDES e fundos de pensão estatais) e garantir taxas de retorno adequadas. A iniciativa privada brasileira é uma lastimável piada, por aqui tivemos que fabricar os fabricantes desde o Barão de Mauá que, deputado, bradava por garantia de retorno para suas empresas.
E a Venezuela nos presenteou com uma trama digna de Gabriel Garcia Marques, uma posse sem o empossado. O caudilhismo é o mais previsível dos regimes políticos, a cada vez que ocorre alguém diz: desta vez será diferente. Estamos vendo! O getulismo sem Getúlio deu em ditadura militar e o peronismo sem Peron, idem. Como o clima não anda propício para golpes militares virá uma transição caótica e a volta à pobreza.
In the Court of the Crimson King
Crimson King
 
O tema catástrofe também foi abordado na música popular, com grande arte num LP de 1969, intitulado In the court of the crimson king, uma referência direta ao dito cujo. A música é excelente e variada e os textos estão acima da média. Epitaph inicia assim: The wall on which the prophets wrote, is cracking at the seams. Upon the instruments of death, the sunlight brightly gleams. E no refrão encontramos: Confusion will be my epitaph, as I crawl a cracked and broken path… And I fear tomorrow I’ll be crying!
E a propósito da Primeira Guerra um grande poeta escreveu: This is the way the world ends, not with a bang but a whimper. (É deste jeito que o mundo acaba, não com uma explosão, mas com um sussuro). T.S. Eliot, The hollow men, 1925.
janeiro.13
Contato com o autor:
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
 
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