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15 de outubro de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  julho.2016
Movimentos contra a globalização
Rui Sá Silva Barros
Historiador e Astrólogo
No final do século 20 emergiu um movimento denunciando os problemas da globalização. Foram manifestações promovidas por sindicatos e Ongs, durante reuniões do FMI, OMC e G-7. Protestavam contra a crescente desigualdade de renda, restrição de direitos trabalhistas e questões ambientais, em Seattle (1999), Praga (2000) e Gênova (2001) as manifestações foram maciças e houve enfrentamentos com a polícia num crescendo. Estas manifestações ocorreram com Urano e Netuno em Aquário, Júpiter conjunção Saturno em Touro. Os atentados nos EUA terminaram o movimento, uma cortesia do tino político de Bin Laden.
O que se vê agora é diferente: nacionalismo, protecionismo e xenofobia dão o tom e partidos políticos comandam o espetáculo. As três características sempre existiram nos dois lados do Atlântico Norte e o partido francês dos Le Pen existe há mais de 30 anos, a ele seguiram-se outros e hoje a Europa está recoberta deles. A globalização foi um movimento de maciça concentração de capital com precarização do trabalho e depois dos atentados jihadistas a xenofobia cresceu. Este é o pano de fundo do recente plebiscito que decidiu pela saída da União Europeia.
Reino Unido
Formado pela Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte, ingressou na Comunidade Econômica Europeia em 1973 e não deixou de embaralhar a ação da organização desde o início, sempre reclamando algum privilégio ou isenção de obrigações e não aderiu ao euro, mas era um mercado comum que não podiam deixar de lado, pois a exportação de créditos e serviços é vital para a economia. O radical programa de ajuste de Cameron incidiu bastante no corte de programas sociais e houve negligência no controle migratório. A campanha do plebiscito foi altamente mentirosa de lado a lado. Ocorreu um chilique no mercado no dia seguinte e as bolsas desabaram, dois dias depois estava tudo normalizado. A mídia apresentou a questão como uma grave crise geopolítica, o que não é.
Inglaterra - Nigel Farage
Nigel Farage e a missão cumprida.
Do site www.kopitiambot.com
Os vencedores não sabem o que fazer com o abacaxi, Cameron apresentou renúncia para outubro e até lá não se pronuncia nem promove a saída. Johnson, o ex-prefeito de Londres que liderou a campanha, não quer mais concorrer ao cargo de primeiro-ministro. Nigel Farage, líder do UKIP e um dos principais articuladores do movimento de saída, renunciou ao cargo de presidente do partido dizendo que a missão estava cumprida. O pior ficou para o Labour (partido trabalhista) que defendeu a permanência enquanto os sindicatos promoviam a saída.  E aqui chegamos a uma questão crucial, os partidos trabalhistas, socialistas e sociais democratas falharam completamente enquanto promoviam entusiasticamente a globalização sem ver que a precarização do trabalho e a estagnação da renda popular eram crescentes. Nos EUA a mesma coisa como veremos adiante.
A Escócia, que já promoveu um plebiscito sobre a permanência no Reino Unido, votou majoritariamente pela permanência na União Europeia e a Irlanda do Norte também, quer dizer, a saída pode acarretar uma dissolução do Reino Unido. Com a saída pode haver perda econômica se os europeus endurecerem nas negociações, metade das exportações britânicas vão para a Europa e os bancos sediados em Londres podem perder espaço e se transferir para Frankfurt. O Reino Unido tem uma alta renda per capita e pode absorver isto com facilidade. O problema é que a saída não trará uma melhoria nas condições de vida das classes populares, a libra desvalorizou trazendo inflação e perda do poder de compra dos salários.
No mapa da Inglaterra (veja), Netuno faz o segundo retorno, no primeiro (década de 1850) o país chegava ao auge do poder imperial e econômico, agora é uma sombra do que foi. Saturno em Sagitário faz quadratura ao Sol, Mercúrio e Netuno em Peixes na casa 10. Júpiter, regente do MC, fez oposição recente aos 3 planetas em Peixes. Para a Escócia encontrei 4 mapas diferentes e não pude tomar uma decisão a respeito.
União Europeia
Escrevi pela primeira vez sobre a União em 2010, A Europa é um museu? (veja o fórum), e só precisa de uma atualização. A Comissão Europeia, órgão executivo, é a principal responsável pelas atuais tribulações. Os países membros continuam a frequentar os foros internacionais (ONU, FMI, G-7) com suas próprias representações e não como União. O mercado comum tem moeda própria e um Banco Central, mas as políticas tributárias, trabalhistas e previdenciárias continuam nacionais, por isto, os preços dos mesmos produtos em Lisboa, Madri, Paris e Viena podem divergir muito.
Sede da União Europeia em Bruxelas
Sede da UE em Bruxelas com shopping, restaurante e saunas.
Do site www.angop.ao
Durante muito tempo a Comissão Econômica Europeia (CEE) teve 6 membros (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Em 1973 ingressaram 3 países e outros 3 na década de 1980; de maneira que eram doze membros em 1992 quando produziram o Tratado de Maastricht criando a União Europeia e propondo o euro. Agora são 28 membros, o que foi um crescimento acelerado e instável. A Comissão Europeia é escolhida indiretamente e já constituiu um grande aparato burocrático em Bruxelas, objeto de lobby imenso por parte de grandes empresas. As reclamações dos ingleses sobre a quantidade de regulamentos e normas da União são procedentes.
O mal-estar começou na adoção do euro que deu uma clara vantagem aos alemães, continuou quando os atentados jihadistas dispararam manifestações de xenofobia no continente, o Tratado de Lisboa foi rejeitado por franceses e holandeses, se agravou  na crise de 2008 quando as populações perceberam que pagariam a conta das trapalhadas dos bancos que foram salvos. A gota d’água foi o vagalhão de refugiados do ano passado. O ressentimento dos perdedores na globalização cresceu e a inércia da Comissão prosseguiu.
Agora a Comissão aperta o Reino Unido, pois a ideia do plebiscito prospera na França, Holanda e outros países do bloco, qualquer vacilação pode ser fatal. No mapa da União Europeia (veja) Marte retrógrado no céu chegava perto de Plutão natal em quadratura ao Ascendente e Sol; no céu Plutão começa a percorrer o final de Capricórnio aonde se encontram 4 planetas, entre eles Vênus, regente do MC. Isso dura ainda 3 anos. Urano no céu faz quadratura a Marte natal, os quatro planetas estão na entrada da casa 6, trabalhadores. A recente greve na França contra uma reforma trabalhista ilustra a questão. Júpiter terminou um retorno em Virgem na casa 2 e os bancos italianos preocupam.
EUA
O mesmo tema se apresenta aqui. O Partido Democrata foi tradicionalmente aliado do movimento sindical até o governo Carter quando a estagflação rompeu a aliança. Veio o republicano Reagan com cortes nos impostos das empresas e ricos e também nos programas sociais do Orçamento. O democrata Bill Clinton foi ainda mais neoliberal, aprofundou as medidas anteriores e desregulamentou o que pôde. O republicano Bush cortou mais impostos de empresas e ricos e armou a grande fraude para trabalhadores que foi a bolha imobiliária. O pacote de estímulo do democrata Obama pouco ajudou os milhões de desempregados e os que perderam as casas. O salário mínimo atual tem poder de compra inferior ao de 1970 e os trabalhadores têm mais de um emprego ou 5 cartões de crédito para pagar as contas.
Ruinas em Detroit
Detroit, centro industrial em ruínas.
Do site www.salon.com
Nem o Partido Democrata nem a AFL-CIO (central sindical) protestaram contra este desmonte, não combateram o Tea Party quando azucrinava Obama tachando-o de mulçumano ou socialista, deram risada quando foi proclamado que a ‘ganância é boa’ e ‘se você é pobre é por que fracassou’. O resultado está aí: Donald Trump promete que trará as indústrias de volta, que governará para o povo e contra a burocracia de Washington, que impedirá imigrações e mandará embora 11 milhões de imigrantes ilegais. E tal discurso colou entre os perdedores dos últimos 35 anos. É uma grande ironia que ele seja de Nova York, estado tradicionalmente democrata, concorra pelo Partido Republicano e não evoque nada de religião em sua campanha, um tema presente desde Reagan.
Enquanto isto Hillary Clinton é financiada por Wall Street, já foi senadora e Secretária de Estado no primeiro mandato de Obama. Foi surpreendida pelo senador Sanders que acolheu todas as reclamações populares e teve um grande apoio na juventude. Nas primárias estaduais ela venceu e agora ele promete apoio para barrar Trump. A disputa promete muitas agressões, dado o destempero de Trump.
No mapa natal do país (mapa dos EUA) o Sol está em quadratura a Saturno sinalizando a segregação racial. Em 2011 Saturno fez seu retorno e pouco depois teve início uma série de assassinatos de negros pelas polícias. Demorou mas aconteceu: em Dallas um negro abateu 5 policiais a tiros e feriu uma dezena. Saturno no céu está em oposição a Urano da carta natal. Em agosto Marte encontra o planeta dos anéis próximos à estrela Antares. Esta campanha eleitoral promete.
A culpa é dos imigrantes
Diante da passividade sindical e dos partidos populares, este foi o slogan lançado nos EUA e na Europa.  É uma mentira completa, pois a imigração foi estimulada pelos governos para baixar salários e porque isto era necessário para preencher muitos cargos que os nacionais já não queriam exercer: agricultura, construção civil, manutenção e limpeza. Quando a economia começou a estagnar e o desemprego cresceu, na década de 1970, começaram os muxoxos sobre a inundação de imigrantes.
É bem compreensível a ira dos trabalhadores, mas nem a saída da União nem votar em Trump pode resolver a questão e trazer de volta os bons tempos. A internacionalização da economia é irreversível, começou no século 16 e prossegue, o que chamamos globalização é a sua mais recente metamorfose. Depois da Segunda Guerra seguiram-se 25 anos de recuperação e prosperidade com a construção civil, automóveis e eletrodomésticos puxando as economias. Sistemas de seguridade social apareceram nos dois lados do Atlântico Norte. Na década de 1960 os primeiros problemas aparecem na forma de inflação e queda da rentabilidade, na década seguinte instala-se a estagnação com inflação e desemprego. A saída da crise veio na indústria com a automação e mudança territorial das fábricas para lugares mais baratos. Na política fiscal dos governos ocorreram cortes de impostos e de programas sociais.
Imigrantes turcos na Alemanha
Imigrantes turcos foram importantes para o milagre alemão.
Do blogspot www.escrevalolaescreva.com
Durante a época de prosperidade formou-se uma enorme poupança canalizada em bancos/fundos de investimento e fundos de pensão. Os recursos eram aplicados nas bolsas de valores e em títulos da dívida pública dos países. A partir da década de 1980, os recursos fluíram para os mercados futuros, além dos tradicionais (petróleo, carnes e cereais) também os cambiais, juros, índices de bolsas etc. Surgiu um enorme mercado de seguro para estas operações, os CDS. Tudo isto movimenta muitos trilhões de dólares sem que necessariamente se crie qualquer emprego. O desenvolvimento da informática acelerou as operações e criou um mercado mundial.
Tudo isto gerou grandes controvérsias e uma economia instável, altamente endividada, com muita formação e estouro de bolhas. Os atritos podem ser vistos na impotência da OMC (Organização Mundial do Comércio) para organizar um grande tratado mundial de comércio, o que resulta em tratados bilaterais ou regionais. Trump quer paralisar tanto o do Pacífico como o europeu, ambos de iniciativa de Obama e ainda em negociação. É possível mudar as bases da globalização? Sem dúvida, mas isto envolve mobilização e luta política, do contrário prepara-se mais uma crise, desta vez maior que a de 2008. Em 2020, Júpiter e Saturno reúnem-se a Plutão.  Apertem os cintos.
Aflições brasileiras
Cunha renunciou à presidência da Câmara e vem eleição, o baixo clero tomou gosto e quer a cadeira, mas estão divididos. Temer está apreensivo, precisa de alguém sensato para as próximas votações de matérias impopulares. Para um governo que prometia austeridade e fez muitas bondades com os servidores do Judiciário, governadores e beneficiários do Bolsa Família, mandou um Orçamento com déficit de 140 bi, mas não tem importância os banqueiros emprestam, ainda mais agora que a taxa Selic continua firme nos 14,25%.
As aflições se manifestaram por aqui em duas intervenções na última crônica. Fátima teme que o país se desintegre política e territorialmente. Este temor foi o pano de fundo do processo de Independência do país e os dirigentes só sossegaram quando dominaram a revolução Praieira em 1850. Até agora não li nem ouvi propostas neste sentido, mas o temor de Fátima é bem real, pois o país enfrenta uma desintegração paulatina de serviços públicos essenciais, o que é bem grave.
Rio de Janeiro - hospitais fechados
Este é de São João do Meriti (RJ), um de muitos pelo país.
Do site www.epoca.globo.com
Já Magali teme que células terroristas se instalem em nosso território, para as Olimpíadas isto está sendo levado em conta. Não vejo nenhuma vantagem operacional para os jihadistas estabelecer uma base na América do Sul. E, no entanto, este temor também é compreensível com 55 mil homicídios, outro tanto de mortes em trânsito e estupros por ano. Já somos o primeiro consumidor de crack do mundo. O crime organizado atua nos 3 poderes da República, elege representantes e  compra decisões judiciais. Como isto aparece em conta-gotas nos noticiários não nos damos conta da calamidade e o pior, o Estado brasileiro (federal, estaduais e municipais) é impotente. Programas na TV sugerem que a solução é mais polícia nas ruas. Bem Magali, talvez esta imensa teia sombria que você sente já esteja presente.
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: CKR – 11/07/2016
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