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18 de abril de 2024

Responsável: Constantino K. Riemma


  Crônicas de 2013: junho | maio | abril | março | janeiro  
Manifestações chacoalham
o marasmo político brasileiro
Rui Sá Silva Barros
 
Historiador e Astrólogo
Julgamento do mensalão, greves dos funcionários públicos, desentendimento nas bases aliadas do Congresso, estagnação econômica com inflação e finalmente revolta política nas ruas: Saturno em Escorpião não perdoa os governos brasileiros, esta é sétima passagem desde a independência e sempre deu crise braba. Abaixo o mapa do Brasil no centro e a posição dos astros no céu em 6 de junho, às 17 horas, em São Paulo.
Mapa do Brasil e das passeatas
Mapa do Brasil (centro): São Paulo, 7 de setembro de 1822, 16h08
Início das manifestações (externo): São Paulo, 6 de junho de 2013, às 17h
O pano de fundo são os movimentos lentos: Saturno retrógrado em cima do Marte Natal, Netuno e Vênus em trino ao mesmo planeta, Plutão em trino a Saturno natal, Netuno em quadratura a Lua-Júpiter e Júpiter em quadratura a Mercúrio natal.  Os detonadores foram: Lua transitando Algol e as Pleiades no início da casa IV, Marte em Gêmeos transitando a conjunção natal  Lua-Júpiter na casa IV e o Sol em Gêmeos em quadratura a sua própria posição natal. O movimento começou em São Paulo com uns poucos milhares do Movimento Passe Livre pedindo a revogação do aumento das tarifas dos transportes públicos. Dias 7 e 11 foram novamente às ruas com a mídia em peso protestando contra os transtornos no trânsito e incentivando a polícia a detê-los.
13/06 – A polícia reprime violentamente a passeata atingindo transeuntes e jornalistas. A mídia muda de posição e passa a apoiar as passeatas pacíficas. O Sol estava em quadratura a Mercúrio natal (casa VIII), a Lua cruzara o eixo horizontal (casa VII). Dois dias depois teve início a Copa com protestos e vaias à presidente, a Lua transitava e Marte iniciava uma quadratura ao Sol natal. Na semana seguinte o movimento se espalha com a conjunção Sol-Júpiter no céu e Marte em quadratura ao Sol natal.  Dia 17 manifestantes sobem no teto do Congresso, passeata dos cem mil no Rio com cerco à Assembleia Legislativa. Dia 18 negociações com prefeitos, manifestantes cercam a prefeitura em São Paulo, o movimento se alastra para outras cidades e os bandidos aproveitam a inércia policial para saquear lojas, a Lua cruzava  Marte natal.  Dia 19 as autoridades de SP e RJ revogam o reajuste das tarifas, começam os bloqueios de estradas e manifestações nas periferias.
Dia 20, o pico do movimento e a agudização das contradições.  Os manifestantes cercam os palácios em Brasília e danificam o Itamaraty. Em São Paulo, os partidos presentes são obrigados a abandonar a manifestação. No Rio, onda de depredações e saques. A Lua cruzava o MC da carta do país. No dia seguinte os políticos rompem o silêncio através de pronunciamento da presidente Dilma, acatando reivindicações e condenando vandalismo. A Lua estava em Sagitário oposta à conjunção natal Lua-Júpiter e o Sol ingressara em Câncer.
Manifestantes no Itamaraty
Brasília - manifestantes tentam invadir o prédio do Itamaraty
Foto: André Dusek/Estadão
No dia 23, em entrevista ao jornal Estadão, o historiador Carlos Guilherme Mota lançou a proposta de Constituinte para a reforma política. Dia 24, reunião em Brasília com representantes do MPL e outra com governadores e prefeitos das capitais da qual resultou os cinco pactos, inclusive uma proposta de plebiscito para a realização de Constituinte específica para a reforma política. O Sol estava em trino a Marte natal e Netuno no céu. Na noite do mesmo dia, representantes do PSDB, DEM e MD repudiaram a ideia de Constituinte e alguns juízes proclamaram sua inconstitucionalidade.
No dia seguinte os editoriais dos principais jornais também eram contra e o governo recuou pensando em nova proposta: plebiscito ou referendo. Nesta semana as manifestações prosseguiram esparsas e particularmente violentas em Belo Horizonte. Artigos e editorias nos grandes jornais chamaram atenção dos congressistas: onde já se viu, eles estão tentando executar algumas das demandas populares e isto é populismo.
Para quem não conhece astrologia: o MC (casa X) sinaliza o governo e seu regente é Marte, o FC (casa IV) sinaliza a oposição e o povo como conceito político, é regido por Vênus; a casa VIII representa a segurança (forças policiais de todo o tipo) e a casa V, aonde Júpiter se encontrava, representa a juventude, entre outros temas. O trânsito da Lua foi absolutamente preciso, neste caso.
A crise de representatividade – Nos países onde o voto é facultativo, o número de eleitores tem caído sistematicamente e nos recentes movimentos nos EUA e Espanha o repúdio aos políticos foi explícito. Na Itália o comediante Beppe criou um partido, que teve votação considerável, para combater o sistema político de dentro. A população demonstra que a distinção dos partidos é superficial e que os governos estão sempre a serviço das grandes empresas. No Brasil, o problema é mais complicado ainda, pois manter o povo longe da política é um objetivo explícito desde a Constituição de 1824, e quando isto não é possível instala-se uma ditadura militar (1930-45 e 1964-85).
Nas primeiras passeatas o perfil dos manifestantes era nítido: jovens estudantes reivindicando a supressão do aumento das tarifas. A partir da repressão do dia 13 as coisas mudaram de rumo. Furiosos com o silêncio das autoridades e a violência policial, outros grupos uniram-se às manifestações: contra a PEC 37, a cura gay, a corrupção, os gastos da Copa, e a favor de melhorias nos serviços públicos. E uma minoria pensou que cercando prédios públicos podiam levar às autoridades a negociar, enquanto os bandidos se aproveitavam da inercia policial para saquear lojas, o que gerou boatos e suspeitas estapafúrdias como a preparação de um golpe de estado. Sem organização e comando centralizado, com muitos slogans e sem uma pauta de reivindicações, o movimento tende a refluir como já aconteceu na Espanha e EUA. Mas é preciso levar em conta que para muitos jovens é a primeira experiência política e que já obtiveram vitórias importantes, conseguindo a redução das tarifas e, milagre, pondo o Congresso a trabalhar a toque de caixa.
Passeata no Rio de Janeiro
Passeata dos 100 mil no Rio
Foto: Rudy Trindade/Frame/Agência O Globo
Houve muita ingenuidade: pesquisa feita entre manifestantes revelou que eles acreditam que um homem providencial arrumará o Brasil, Joaquim Barbosa é notoriamente vaidoso, mas não é tolo, ele sabe bem no que deram Jânio e Collor. A reinvidicação de melhorias do serviço público reforça a presença do Estado, o que foi notado por meia dúzia de liberais envergonhados, e estimula os políticos a pedir mais impostos. Não há tarifa grátis, ou ela é paga diretamente pelo usuário ou pelos impostos de todos e certamente os governadores e prefeitos darão um jeito de aumentar um dos impostos invisíveis (sobre o consumo).  O PSOL e o PSTU integram o MPL desde o início, há anos atrás, mas foram banidos das manifestações como intrusos.
As causas – Para um astrólogo está evidente que a revolta é o cume de um processo desencadeado no ano passado com a entrada de Saturno em Escorpião e que vai até o final do ano que vem. Para jornalistas e cientistas sociais é um profundo mistério: os índices indicam uma boa popularidade do governo e da presidente, apesar da recente queda. Quando emerge algo novo a memória entra em funcionamento instantaneamente e procura similaridades. Entre outras opções: 1968 por conta do imprevisto e do protagonismo da juventude,  primaveras árabes, movimentos de jovens indignados no Ocidente, etc. Estas similaridades não dão conta da atual situação, pois em 1968 o que estava em jogo eram as normas de conduta, a crítica à sociedade de consumo e à guerra do Vietnam, nos países árabes a ditadura, no sul da Europa o desemprego maciço dos jovens.
Os paranoicos de plantão não deixaram passar em branco: alguns viram no movimento uma manobra maquiavélica do governo para aumentar o poder estatal, enquanto outros viram uma tentativa de golpe de estado, terminando com o governo Dilma precipitadamente. A melhor de todas: o movimento foi patrocinado por George Soros, conhecido bilionário e notório comunista (sic). Naturalmente o rumo dos acontecimentos desqualifica totalmente estes delírios, mas como observou Lacan a paranoia é o modelo maior de convicção que possa existir. Já a inflação teve um papel nisto tudo, mas não central; do contrário veríamos muito movimento nas periferias o que não foi o caso.
O governo Lula foi o pai dos pobres e a mãe dos ricos, e é de lembrar que o governo Vargas acabou tragicamente numa passagem de Saturno em Escorpião. Embalado por condições favoráveis na economia mundial foi possível criar milhões de empregos, reajustar o salário mínimo continuamente e implementar o crédito popular e a Bolsa Família. A arrecadação subia constantemente, o país tornou-se credor em reservas internacionais e as 30 empresas que dirigem economicamente o Brasil lucraram como nunca e pegavam dinheiro no BNDES na base de pai para filho. Na frente política foi possível fazer uma base aliada extensa e heterogênea. A festa acabou em 2011 com a situação econômica mundial ainda estagnada e degradação econômica interna (inflação, déficits crescentes no Orçamento e Balanço de Pagamentos, endividamento das famílias).  O governo não se deu conta do que acontecia e procurava prolongar as políticas anteriormente vitoriosas, embalado nas pesquisas favoráveis. Um ciclo está se encerrando e não há nada ainda que aponte um futuro.
Dilma em reunião com governadores e prefeitos
A casta política retoma a iniciativa.
Dilma se reúne com governadores e prefeitos. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
A reforma política – A rigor não foi um slogan das ruas, mas responde ao repúdio explícito ao sistema político. E o mais notável é que a ideia do plebiscito foi imediatamente rechaçada por políticos, juízes e mídia, quer dizer o sistema político em peso. Tudo para o povo, nada pelo povo: o povão já deu sua volta no palco, agora volte à plateia e assista os profissionais atuar. Na realidade precisamos de uma reforma do Estado, que inclui a tributária. Os prefeitos vivem eternamente de pires na mão dependendo dos repasses dos estados e do governo federal, mas são eles que têm que lidar com as demandas populares. E assim os problemas das tarifas municipais desembocam em Brasília que guarda a parte do leão. Além do emaranhado sistema tributário (mais de 80 impostos e taxas) ele também é regressivo: quem ganha mais paga proporcionalmente menos. A corrupção corre quase toda nas licitações e fiscalizações, mas os corruptores não são quase mencionados e nunca processados, afinal é preciso prestigiar a livre iniciativa sufocada pelos ‘impostos escorchantes’. Bom tempo para rever a dimensão do aparelho de Estado e sua eficiência, o Judiciário pede uma devassa, a morosidade e negligência são alarmantes.
Um partido político deve se sustentar, ter uma publicação regular e praticar a democracia interna. Em priscas eras o PT foi assim, mas a partir da década de 1990 tornou-se um partido profissional: os militantes foram despachados, a direção foi entregue a políticos com mandatos, a produção intelectual é escassa e hoje pede financiamento público de campanha e lista de candidatos, o que é puro caciquismo. Dos outros partidos não há o que dizer, nunca tiveram qualquer vida própria fora do aparelho de Estado. O PSDB escolhe candidatos à presidência em jantares de 10 pessoas no máximo, o PMDB nem se dá a este trabalho sabendo que participará do governo seja qual for o partido eleito. Formar um partido tornou-se um bom negócio com verbas públicas do fundo partidário e negociações proveitosas nas vendas de horários eleitorais. Assim temos 30 partidos registrados e 25 com pedidos de formalização. Como se sabe, nestas terras tropicais e exóticas, a divisão tradicional entre conservadores, liberais e esquerdas é totalmente insuficiente, temos pelos menos 60 visões políticas diferentes.
A situação é tão crítica que medidas drásticas precisariam ser tomadas: fim do político profissional, para cada cidadão três mandatos de quaisquer tipos, financiamento de partidos através de filiados e doações de pessoas físicas, cláusula de barreira para participar dos legislativos (10%, p.ex.), proibida a troca de sigla em meio aos mandatos, mandato revogável pelos eleitores (isto exigiria o sistema distrital), candidatos escolhidos em assembleia de filiados ao partido e muitas outras. Naturalmente isto é o fim da casta política. Os jovens que saíram as ruas enfrentam uma encrenca federal e secular. Por enquanto a casta retomou a iniciativa e fará uma reforma cosmética, a reforma do Estado e da política só será feita mediante uma revolução popular, pois os políticos e a grande mídia já se apressam a dizer que reforma política se faz votando certo em 2014 e continuando o negócio sob nova direção.
A economia na contramão da melhoria nos serviços públicos – Estagnação e várias desonerações fiscais comprimiram a receita tributária, ameaçando inclusive a meta estabelecida para o superávit. Além disto, os protestos recentes bloquearam aumentos e correções de tarifas, o que deve inibir investimentos em leilões e concessões já programadas. Dinheiro sobrando não há e os royalties ainda demoram a pingar, de maneira que a melhoria custará a chegar. Depois de facilitar a compra de carros por anos a fio, o trânsito é imenso nas grandes cidades, a construção de linhas do metrô é cara e os corredores de ônibus não funcionam a contento, para não falar das negociatas de prefeitos e vereadores com empresários do setor, tema que esteve na base do assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André. A rápida e atabalhoada urbanização brasileira foi mais uma cortesia da ditadura militar.
Macas pelo corredor
Recepção em hospital público.
www.portaltimonfm.com.br:
Macas pelos corredores de hospital
em São Luis do Maranhão
 
Injetar mais dinheiro na educação pública pode ser um desperdício se não cuidarem da formação e remuneração dos professores, da pedagogia e currículos defasados, das instalações e equipamentos. O ensino de português e matemática no ensino básico é trágico e mensurável nos testes e nos textos que lemos na internet. O país não tem grande carência de médicos, eles estão mal distribuídos porque ninguém aceita trabalhar no semiárido do Nordeste ou na região Norte, mesmo com bons salários. Tem cabimento formar médicos em faculdades públicas e depois vê-los bandear-se para o setor privado? As mortes por falta de atendimento, gente nas macas nos corredores, sumiço de remédios e aparelhos clínicos compõe o cotidiano do SUS.
Os empresários olham para tudo isto de esguelha, naturalmente não virão a público reclamar, mas nas conversas reservadas xingam bastante este crescimento estatal, ainda mais agora que os lucros e rentabilidades estão em baixa por conta da estagnação do consumo, das dívidas em dólar que estão encarecendo e do maior controle sobre licitações. Daqui a pouco começarão as gritas para austeridade, controle férreo sobre o salário real e da manutenção de um grau de desemprego que consiga colocar a populaça no devido lugar. Já os políticos podem aproveitar a deixa para elevar a receita tributária para atender as demandas populares e para juntar uma poupança para os netos. É uma briga de cachorro grande.
O governo Dilma, cujo mapa de posse já era bem tenso, não terá paz até o final do mandato. Se o FED americano fizer o que está prometendo (enxugar a liquidez e aumentar os juros) os investimentos para cá minguarão comprometendo a solvência do nosso Balanço de Pagamento. O BC já está torrando reservas para não deixar o dólar ultrapassar muito a faixa de 2,20, o que tem impacto direto sobre a inflação. Com o tempo o represamento das tarifas também cobrará seu preço na forma de degradação dos serviços ou em surto inflacionário. Tudo isto pesará na definição dos candidatos e nas eleições de 2014. Animado com as vitórias conseguidas agora o movimento popular poderá entrar novamente em ação.
Júpiter ingressou em Câncer fechando o grande trino em signos de água. Para o governo é uma chance de pôr um pouco de ordem na casa, para os que se dedicam à filantropia e práticas devocionais é excelente, bem como para os músicos. No final de julho Marte junta-se a Júpiter, o Papa estará no Brasil falando à juventude, algo de bom pode sair disto.
Contato com o autor:
Rui Sá Silva Barros é historiador, astrólogo e
estudioso da Cabala: rui.ssbarros@uol.com.br
Outros trabalhos seus no Clube do Tarô: Autores
Edição: ckr – julho.13
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